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Desmatamento abre crateras em Goiás

FSP, Ciência, p. C13
23 de Jan de 2012

Desmatamento abre crateras em Goiás
Polícia intimou proprietários de terra para conter o avanço das voçorocas, que engolem tudo o que está entorno
No sudoeste do Estado, foram encontrados 50 desses buracos; maioria está em pastagens e em áreas agrícolas

FELIPE LUCHETE
DE SÃO PAULO

A Delegacia do Meio Ambiente de Goiás vai intimar proprietários de terra para conter o aumento das voçorocas, crateras provocadas por desmatamento e por más práticas agrícolas que atingem o lençol freático e "engolem" o que está ao redor.
Só no sudoeste do Estado, a polícia encontrou 50 novas voçorocas no ano passado, durante monitoramento feito via satélite e em sobrevoos na região. A maioria está em áreas particulares, no meio de pastagens ou em produções de soja, cana e milho.
Se os donos das terras não adotarem medidas como permitir a regeneração natural da área, serão indiciados sob suspeita de crime ambiental.
O delegado Luziano de Carvalho diz que eles não podem ser responsabilizados por provocar as voçorocas, mas responderão por impedir ou dificultar a regeneração do solo. A pena é de multa e até um ano de prisão.
A ideia é frear o crescimento das crateras que existem, já que não é possível recuperar as áreas erodidas.
TAMANHO NÃO É DOCUMENTO
A área dos buracos varia. A maior voçoroca conhecida -a Urtiga ou Urtigão- tem 80 m de profundidade e 800 m de largura em alguns pontos, segundo o delegado.
A cratera fica no município de Mineiros e tem três quilômetros de extensão.
Uma das mais conhecidas é a Chitolina, no mesmo município, com 20 m de profundidade e 800 m de comprimento. Originada nos anos 1980 e hoje sob controle, a cratera surgiu após chuvas intensas, segundo a pesquisadora Heloísa Filizola, da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Meio Ambiente.
O buraco surgiu com 120 m de comprimento, tamanho que dobrou no ano seguinte.
As voçorocas são mais comuns em locais de solo arenoso e surgem quando chove muito e a água não consegue se infiltrar no solo.
Enquanto não atingem os lençóis freáticos, são chamadas de ravinas.
São formados então fios de água que escoam de forma concentrada e transportam o solo junto com eles.
É possível encontrá-las também em São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e na região Sul.
Mas para Filizola, Goiás deve ser hoje o Estado com mais voçorocas ativas (que podem aumentar) do país.
Segundo a Semarh (Secretaria do Meio Ambiente de Goiás), as chapadas também facilitam sua formação.
O Parque Nacional das Emas, na divisa com MT e MS, já sente os impactos de três incômodas vizinhas.
O trio de voçorocas leva solo e areia ao leito do rio Jacuba. Isso altera a qualidade da água e atinge animais que vivem ali, diz o diretor da unidade, Marcos da Silva Cunha.
A responsabilidade por multar os proprietários que permitem o avanço de voçorocas é do Ibama e da Semarh, que não souberam informar se fizeram esse tipo de autuação nos últimos anos.

Nas cidades, ameaça são as voçorocas causadas por obras

DE SÃO PAULO

Uma cratera gigante tira o sossego dos habitantes de Planaltina, município goiano no entorno do Distrito Federal que há um ano decretou situação de emergência por causa da voçoroca.
Ela começou pequena, em 1987, quando foi feita uma obra de drenagem de águas fluviais, conta o prefeito José Olinto Neto (PSC). Já tem 50 m de profundidade e 2,5 km de extensão, segundo ele.
Engoliu asfalto e árvores, e danificou redes de água e energia elétrica. Fez 32 famílias deixarem suas casas.
Situação parecida é vivida em Alexânia, na mesma região, onde o Ministério Público planeja reunir autoridades para discutir o problema. "O risco de cair uma casa num buraco de 20 m é grande, inclusive à noite", diz o promotor Jales Guedes Mendonça.
O Ministério da Integração Nacional liberou R$ 9 milhões para obras em Planaltina em 2011. A prefeitura diz precisar de R$ 42 milhões.
(FL)

FSP, 23/01/2012, Ciência, p. C13

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/21514-desmatamento-abre-crater…
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/21519-nas-cidades-ameaca-sao-a…

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