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Desmatamento

FSP, Opinião, p. A2
21 de Jun de 2005

Desmatamento

A defesa do ambiente é um daqueles temas que, no discurso, todos apóiam. Mas basta colocar, de um lado, a chance de auferir lucros e, de outro, a preservação das florestas para verificar o quão frágil é o compromisso com esta última.
Esse fenômeno se dá em praticamente todos os níveis, desde o mau fiscal do Ibama que fecha os olhos para crimes ambientais em troca de propina até o grande agricultor que não hesita em torcer as normas jurídicas até extrair delas a interpretação que lhe permita desflorestar a maior área possível. A rigor, o próprio governo federal parece tolerar desvios, desde que o agronegócio, em especial a soja, que vem contribuindo para aumentar as exportações, possa prosperar e ajudar a produzir superávits comerciais.

É em Mato Grosso que o embate entre o lucro e a preservação ambiental vem se revelando mais agudo. Não é por acaso que o Estado responde por nada menos do que 48% do desmatamento registrado na Amazônia em 2003-2004. Ali, como mostrou reportagem do jornalista Claudio Angelo publicada no domingo pela Folha, representantes do agronegócio se assenhoraram do aparelho do Estado e o puseram para trabalhar para seus interesses. Blairo Maggi (PPS), um dos maiores exportadores de soja do mundo, é também o governador de Mato Grosso. Sua política de abertura da fronteira agrícola foi tão longe que, além do apelido de "rei da soja", coleciona outros como "rei do desmatamento".
Acrescente-se ao conflito de interesses representado por ruralistas no comando da política ambiental do Estado a ação da máfia dos madeireiros e uma fiscalização federal corrupta e encontramos uma boa explicação para os índices de desflorestamento de Mato Grosso.
É natural que cada grupo procure fazer valer os seus interesses. O problema do desmatamento é que ele é a expressão de uma visão predatória e de curto prazo que vai de encontro à lei e ao interesse geral da nação. É fundamental, portanto, encontrar fórmulas sustentáveis que aliem desenvolvimento e preservação dos recursos naturais do país.

FSP, 21/06/2005, Opinião, p. A2

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