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Desenvolvimento e esperança ambiental

O Globo, Amanhã, p. 22
17 de Set de 2013

Desenvolvimento e esperança ambiental
Com mais recursos para investir em projetos, países ricos conseguem apresentar melhores indicadores ecológicos, mas Brasil mostra que vontade e incentivo também funcionam

Por onde passou, o homem deixou um rastro de destruição. Desde que pôde construir ferramentas, como a lança, seu progresso tecnológico e crescimento econômico o levaram a exterminar boa parte da megafauna. Quando conseguiu atravessar o Pacífico, provocou a morte de 50% a 90% das aves nas ilhas colonizadas. Agora, porém, a prosperidade humana oferece a melhor chance de preservação para espécies ameaçadas, diz a reportagem de capa da revista "Economist" da semana passada, citando o combate ao desmatamento na cidade brasileira Paragominas, no Pará, e a recuperação da população de águias nos Estados Unidos.
Há cinco anos, o município paraense era o símbolo da destruição na Amazônia. Havia rumores de trabalho escravo associado à produção de carvão e muitas madeireiras. A única ordem aparente era a de colonizar a área e derrubar a floresta, ressalta a reportagem. Hoje, Paragominas entrou na linha de frente na luta contra o desmatamento, depois de aumentar a fiscalização e incentivar negócios sustentáveis, de acordo com a "Economist".
Medidas como esta, replicadas em outras cidades, permitiram que o corte de árvores da Amazônia brasileira caísse de 28 mil km² em 2004 para 5 mil em 2012. O controle do desmatamento, ainda que precise se consolidar como uma medida permanente, serve de lição. A perda de habitat é uma das maiores causas da extinção de animais. Com aumento da renda média das pessoas, cresce a força dos grupos verdes de pressão, defende a "Economist". Não por acaso, ONGs como o Greenpeace ganharam destaque internacional dos anos 60 para cá. Elas se organizam para que os governos aprovem leis de proteção, que começam a ganhar escala a partir dos anos 70 e 80. As empresas passam a enfrentar mais restrições e acabam se envolvendo na preservação do ambiente.
O desenvolvimento econômico, portanto, deixa de ficar apenas associado à destruição. As cidades também passam a gerar benefícios para a biodiversidade à medida que contam com usinas de tratamento de esgoto e impedem as fábricas de despejar poluentes nos rios, lista a "Economist".
Os melhores índices ambientais são apresentados justamente pelos países mais ricos.
Isto vale até mesmo para a recuperação de espécies ameaçadas de extinção. Este é o caso das águias nos Estados Unidos. Nos anos 60, havia apenas 412 casais. Atualmente, existem 7.066. Outro exemplo apresentado pela reportagem está associado à moratória na caça de baleias, que também vem permitindo o aumento do número de cetáceos.
O Índice Planeta Vivo, uma compilação de uma ampla gama de indicadores de biodiversidade produzida pela Sociedade Zoológica de Londres e a ONG WWF, corrobora a tese. Ele tem aumentado ao longo dos últimos 40 anos nos países de clima temperado, mas caiu nos tropicais. Mais do que uma questão climática, o que desequilibra a balança são os aspectos econômicos, uma vez que os países ricos se concentram nas regiões mais amenas do planeta.
Apesar dos avanços e dos bons exemplos, o desafio de proteger a biodiversidade é muito grande. A União Internacional para a Conservação da Natureza lista 4.224 espécies criticamente ameaçadas. Entre elas, os gibões que só vivem em Hainan, uma das menores províncias da China. Nesta ilha, a produção de arroz e de borracha, além de campos de golfe, tiraram o espaço do bicho, cuja população foi reduzida a poucas dezenas. Se desaparecer, será o primeiro primata extinto desde o início do Holoceno, há 12 mil anos.

O Globo, 17/09/2013, Amanhã, p. 22

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