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Desenvolvimento é desafio na Amazônia

O Liberal
18 de Jun de 2007

Desenvolvimento é desafio na Amazônia
Preservação - Conferência discute como conciliar objetivos de governos, empresas e comunidades

Esperança Bessa
Enviada especial a São Paulo

Falar de desenvolvimento sustentável na Amazônia não é nada simples, principalmente quando se imagina que a chegada de novos grandes projetos para a região, como a exploração de bauxita em Juruti, e as obras de infra-estrutura previstos no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), do governo federal, poderão trazer mais degradação para a região. Combinar o que espera governo, o que pretende a iniciativa privada e o que sonha a população, em especial os povos tradicionais da área, como índios, é uma equação bastante complicada e difícil de ser colocada em prática, diante da falta de diálogo entre esses atores e com a avidez de alguns setores em busca do tal 'desenvolvimento' para a região.
Para discutir isso, a Conferência Internacional Empresas e Responsabilidade Social, promovida pelo Instituto Ethos em São Paulo, dedicou uma mesa-redonda sobre o tema relacionado aos compromissos das empresas com o desenvolvimento sustentável na Amazônia. O assunto é difícil de digerir, se for levado em consideração que a região representa 59% do território brasileiro, abriga um terço das espécies da fauna e da flora mundiais, um quinto das águas superficiais do planeta, 23 milhões de habitantes, 7% da população brasileira que representa apenas 8% do Produto Interno Bruto (PIB) do País.

'Somos uma região em desenvolvimento, com graves problemas de pobreza e desigualdade, o que nos coloca em um patamar igual ou inferior ao Nordeste', detalha Adalberto Veríssimo, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), mediador do debate que reuniu João Paulo Capobianco, ministro interino do Meio Ambiente; Franklin Feder, presidente da Alcoa América Latina; Adriana Ramos, coordenadora para Amazônia do Instituto Socioambiental (ISA), e André Baniwa, vice-presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn).

Realidades
À platéia - formada por inúmeros representantes de organizações não-governamentais (ONGs) e empresas ligadas ao terceiro setor, na maioria sediadas no Sul e Sudeste do Brasil -, Adalberto contextualizou do que se trata a Amazônia hoje, dividida em cerrado, com campos naturais que não são florestas; áreas desmatadas, principalmente em uma faixa que passa pelo Maranhão, sul do Pará, Mato Grosso e Acre; a Amazônia do boom, como ele gosta de chamar a área que reúne a exploração madeireira e de grilagem, foco de violência rural; e a Amazônia idílica, pouco desmatada, com muitas áreas protegidas no Amazonas, parte do Pará e manchas isoladas em outros Estados. Por incrível que pareça, o PIB (Produto Interno Bruto) da área florestal, de R$ 4,1 mil por ano, é quase o mesma da área desmatada, que chega a R$ 4,2 mil por ano.

'Isso demonstra que a floresta em pé rende o mesmo que a área desmatada que, o que é pior, entra em um colapso econômico, porque sem a floresta o que geralmente fica é uma pecuária de baixa produtividade e atividades predatórias', analisa Adalberto. Para Adriana Ramos, essa matemática já é conhecida pelas 357 comunidades quilombolas e mais seringueiros, quebradeiras de coco, pescadores, ribeirinhos e outras populações tradicionais 'que se apropriam de forma diferente dos produtos naturais, e que precisam disso para sobreviver'. Daí o conflito.

'O desmatamento não trouxe desenvolvimento, e o conflito é ainda maior quando vemos o processo de ocupação vindo do leste e do Sul do País rumo ao Oeste e Norte. Na Amazônia, 70% dessas ondas de migração se formam principalmente nas áreas de pavimentação de grandes rodovias ou de grandes projetos de energia e matéria-prima', diz a pesquisadora, temendo que as obras previstas no PAC piorem este quadro. 'São novas estradas e obras de infra-estrutura que podem reproduzir o processo de desmatamento. Esse é o dilema: compatibilizar a perspectiva de desenvolvimento sustentável e o que o Brasil quer para o seu desenvolvimento'.

Para Adriana, é preciso reconhecer os serviços ambientais prestados nas áreas protegidas pelas comunidades locais, superando a lógica de fornecedores de mão-de-obra barata, além da necessidade de se fazer um planejamento adequado e entender as peculiaridades dos direitos coletivos e privados. 'É preciso fazer escolhas legítimas, não apenas legais. Precisamos decidir o que estamos interessados em abrir mão na Amazônia para o desenvolvimento e ouvir as comunidades locais para que se sintam parte. Se fizer licenciamento ambiental de energia e madeira, tem que deixar claro quem ganha e quem perder com o acordo'.

O Liberal, 18/06/2007

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