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Descobertas mais duas malocas de índios isolados no Acre

Página 20-Rio Branco-AC
Autor: Romerito Aquino
25 de Abr de 2004

Equipe da Funai sobrevoa região do Envira e localiza roçados em nova área que a Funai quer proteger

Foto aérea mostra as malocas indígenas encravadas no meio da floresta acreana

- A Fundação Nacional do Índio (Funai) está empenhada em firmar um acordo com a sua congênere no Peru, a Comissão Nacional de Povos Andinos, Amazônicos e Afro-Peruanos, para garantir a segurança das centenas de índios isolados do Acre, que se espalham por várias regiões do estado na fronteira com aquele país.

Foi o que informou em Brasília, no dia do índio, o antropólogo Antônio Pereira Neto, da Funai, ao falar das imagens aéreas que uma equipe de técnicos da Funai captou em março passado, na região do rio Envira, entre os municípios de Feijó e Santa Rosa do Purus, de dois novos conjuntos de malocas de índios que jamais tiveram contato com o homem branco.

As imagens aéreas, transformadas em fotos que o jornal Página 20 publica em primeira mão nesta edição, captaram dois conjuntos de malocas numa distância de 1,5 a 2 km uma da outra, em dois sobrevôos feitos no sentido Feijó-Santa Rosa e Santa Rosa-Feijó. O primeiro sobrevôo foi feito no dia 18 de março e o segundo no dia seguinte, dia 19, quando estiveram presentes a antropóloga Maria Elisa Guedes Vieira, o sertanista José Carlos Meirelles, e o técnico Leonardo Gomes Santana, além do piloto João Dubó.

As fotos revelam que alguns índios isolados fazem malocas em formato triangular, enquanto outros preferem o tipo retangular. As fotografias também revelam a existência de roçados, alguns pertos das malocas e outros mais distantes, tudo levando a crer que neles são plantadas roças com cana-de-açúcar, banana, mandioca, amendoim e oaca (planta utilizada para a pescaria), segundo informou a antropóloga Maria Elisa Vieira, coordenadora do grupo técnico que localizou as duas novas malocas.

Segundo a antropóloga, a dificuldade em encontrar as tribos dos índios isolados é provocada pelo esforço delas em se esconderem. "Esses povos evitam contato, pois buscam viver em região de floresta fechada, no topo dos morros e perto dos caminhos que levam até a nascentes dos rios, mas longe das margens destes", explicou Maria Elisa.

O antropólogo Antônio Pereira Neto, que já foi administrador Regional da Funai no Acre, contou ainda que no Acre existem índios isolados que vivem como nômades, que mudam freqüentemente de lugar construindo acampamentos chamados de tapiris, que ficam localizados próximos aos igarapés ou cabeceiras dos rios.

Segundo Neto, apenas em uma das malocas um índio foi fotografado, mas a imagem, segundo Maria Elisa, aparece distorcida na foto. Para o antropólogo, o indígena pertence a uma das tribos fixas, media cerca de 1,70m, era forte, estava nu, usava apenas bracelete de palha, tinha cabelos longos até os ombros e o corpo estava pintado de urucu, a tinta da semente do mesmo nome que protege contra o sol e picadas de mosquito.

"Era um homem valente, pois quando viu o avião, resolveu tentar acertá-lo com uma flexa", disse o antropólogo. Segundo Maria Elisa, as áreas onde foram encontradas as duas malocas se situam na Terra Indígena Xinane, de 260 mil hectares, que está sendo estudada pela Funai para os fins de delimitação e demarcação para que os índios isolados não possam ser ameaçados por madeireiros e outros invasores da região.

A área dos isolados está ligada à Terra Indígena dos índios isolados Kampa-Ashaninka, também do rio Envira, que já foi regularizada pela Funai para a sua proteção. Outra área ligada a das malocas agora descobertas pela Funai é da Terra Indígena Kulina, também no Envira. Na cabeceira do rio Iaco existe outra área de índios isolados, que os índios Jaminawá e Manchineri, da Terra Indígena Mamuadate, denominaram de Masko, que é um povo nômade, vive de caça, não mantém roças e desconhece o contato com o branco.

Segundo o sertanista José Carlos Meirelles, que vive na base da Funai situada entre os municípios de Feijó e Santa Rosa, esta localidade foi invadida há três anos por cerca de 200 masko, formado por homens, mulheres e crianças. Eles não destruíram nada nem mexeram nos objetos, mas mataram todos os animais da base, inclusive os cachorros, e levaram as linhas de pesca. "É um sinal de que eles não conheciam os outros objetos nem mesmo as armas", relatou Meirelles.

Para o antropólogo Antônio Pereira Neto, as madeireiras e os seringalistas, principalmente oriundas do Peru, têm avançado na região, pondo em risco o modo de vida dos índios isolados. "Esses povos não ameaçam ninguém, porém sem a proteção governamental são eles, os índios que correm riscos", defendeu o antropólogo.

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