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Descoberta arqueológica para obra no São Francisco

FSP, Brasil, p. A13
24 de Jan de 2010

Descoberta arqueológica para obra no São Francisco
Fragmentos cerâmicos e gravuras rupestres foram achados em canteiro de obras em PE
Trabalho de terraplenagem teve de ser paralisado para que arqueólogos possam catalogar, recolher as peças, e analisar seu valor histórico

Fábio Guibu
Da agência Folha, em Custódia (PE)

Um sítio arqueológico com fragmentos cerâmicos e gravuras rupestres foi encontrado em um canteiro de obras da transposição das águas do rio São Francisco, em Custódia (que fica a 350 km de Recife).
Os vestígios, que podem ter 9.000 anos, foram achados em uma região de caatinga conhecida por Lage das Onças, no lote 10 da obra, a 40 km da cidade.
A descoberta surpreendeu especialistas também por sua conexão com outra região brasileira, esta na Paraíba, onde há pegadas de dinossauros. A área em Pernambuco abriga ainda ruínas de um engenho e até cartuchos de fuzil que podem ter ligação com o cangaço.
As gravuras, talhadas em pedra, não se assemelham à forma humana ou animal. Segundo os arqueólogos, os desenhos são de "grafismos puros", que nada representam da vida real.
Os fragmentos cerâmicos foram encontrados a aproximadamente cem metros de distância das gravuras, no exato local onde passará o canal do eixo leste da transposição.
A descoberta paralisou os trabalhos de terraplenagem numa área de aproximadamente 20 mil metros quadrados. Os tratores se afastaram e todo o trabalho precisou ser suspenso para que os arqueólogos pudessem resgatar as peças e iniciar o trabalho de avaliação do valor histórico do sítio e dos vestígios encontrados.
Segundo o Ministério da Integração Nacional, após o recolhimento dos fragmentos, a passagem das máquinas pelo local será retomada. Esse trabalho será monitorado pelos pesquisadores, para evitar que eventuais vestígios não recolhidos sejam destruídos -é um trabalho de monitoramento que pode levar vários meses.
O sítio de gravuras rupestres não será afetado pela obra, dizem os arqueólogos. As pedras -algumas com desenhos em forma de pequenos quadrados e com graduações cromáticas- estão localizadas fora do eixo, no curso de um riacho não perene, sobre o paredão de uma pequena queda d'água que se forma em tempos de chuva.

Recomendada no Rima (Relatório de Impacto Ambiental) e patrocinada pelo ministério, a prospecção arqueológica abrange os dois eixos da transposição, os canais leste e norte.
Na primeira fase da pesquisa, que está acontecendo paralelamente à obra, um grupo de arqueólogos ligados à Univasf (Universidade Federal do Vale do São Francisco) já notificou cerca de 80 possíveis achados históricos e pré-históricos.
No local, foram encontrados também objetos e estruturas que remontariam ao período do cangaço, como as ruínas de um antigo engenho e cartuchos de fuzil datados de 1912 a 1915.
Em fevereiro, uma nova equipe de especialistas, do Instituto Nacional de Arqueologia, Paleontologia e Ambiente do Semiárido do Nordeste, assumirá o trabalho de prospecção de toda a área do sítio.
"É uma oportunidade única de pesquisarmos a mais importante rota do Brasil em paleontologia", disse a coordenadora do instituto, a arqueóloga francesa Anne-Marie Pessis. Segundo ela, a região tem conexão -a mesma condição de clima e solo- com o chamado vale dos dinossauros, localizado em Sousa, município paraibano conhecido por inúmeras trilhas de pegadas fossilizadas de animais pré-históricos.
A Integração Nacional diz que os sítios serão preservados.

Transposição: Canais levarão água a 12 milhões no semiárido

Orçada em cerca de R$ 5 bilhões, a obra no rio São Francisco atenderá a população do interior de Pernambuco, Pereira, Ceará e Rio Grande do Norte. Grupos e entidades que defendem soluções mais simples e baratas para a seca, como a construção de cisternas, protestam contra a transposição. Em visita à obra em outubro, Lula prometeu inaugurar em 2010 o eixo leste, que terá 220 km de extensão e levará água para PE e PB.

FSP, 24/01/2010, Brasil, p. A13

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