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Descaso da Funasa aumenta índice de mortes de índios

Midia News - http://www.midianews.com.br/
Autor: Katiana Pereira
17 de Ago de 2011

Cinco etnias cobram melhorias do Governo Estadual e Federal; casa de Saúde está abandonada

Cinco caciques de diferentes aldeias de Mato Grosso denunciaram, na terça-feira (16) o descaso por parte da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em relação ao tratamento de saúde dispensado aos índios que recorrem à Casa de Assistência à Saúde Indígena (Casai), em Cuiabá.

Durante uma vistoria-surpresa ao órgão - localizado na estrada de Santo Antonio de Leverger, perto do Cemitério Parque Bom Jesus, os líderes indígenas constataram que os índios estão passando por dificuldades, em função de maus tratos e falta de medicamentos.

Os caciques são das etnias bororo, guató, xavante, umutina e chiquetana. Eles decidiram agir em conjunto e se deslocaram até Cuiabá, para uma vistoria surpresa na Casai, no final da tarde terça-feira (16).

Após a visita, os caciques disseram ao MidiaNews que o local é impróprio para se proceder a tratamentos médicos. Eles acreditam que a falta de cuidados com o local pode explicar a alta mortalidade indígena.

A cacique Creuza Soripa, da etnia umutina, criticou a situação degradante das instalações da unidade de saúde. "Aqui, dá para perceber como as coisas são feitas com má vontade para o índio. Até a estrada de acesso para chegar à Casai é um descaso. Sofrimento... Teve índio operado que chegou a abrir os pontos de tanto a ambulância sacudir na estrada", disse a índia.

A cacique revelou ainda que há denúncias de maus tratos por parte de funcionários da própria Casai contra os índios. "Alguns funcionários aqui não devem gostar de índios, não é fácil trabalhar com o povo indígena", afirmou.

O secretário-adjunto de Direitos Humanos do Estado, Genilto Nogueira, que acompanhou toda a vistoria, afirmou, em entrevista ao MidiaNews, que irá acompanhar o caso de perto e considera a situação do local um total desrespeito à população indígena.

"Não há como negar a situação de péssima conservação do local. Os índios estão em condições sub-humanas. Vamos elaborar um relatório completo e encaminhar ao Ministério Público, para que o Estado e a União tomem uma atitude urgente sobre a situação", afirmou o secretário.

Segundo o pesquisador Estevão Carlos Taukane, da etnia bakairi que acompanhou a vistoria, alguns índios vão até a Casai fazer tratamento de uma enfermidade e acabam adquirindo outra.

"Nossos índios estão vindo se tratar e acabam morrendo de outras doenças. Índio não quer mais vir para a Casai. Eles chamam isso aqui de necrotério de índio. As janelas estão quebradas, faltam remédios. O local precisa de uma reforma completa. As instalações são péssimas, os funcionários são despreparados para atenderam os indígenas, não entendem que o índio deve ser tratado de maneira diferente, pois eles são diferentes", disse Taukane.

Os caciques apontaram como falhas na unidade, que desabonam a instituição, o esgoto correndo a céu aberto, banheiros com vazamento, quartos com camas e colchões estragados, janelas sem vidro e lixo descartado em local inadequado.

Sobre a Casai

A principal unidade de saúde indígena de Mato Grosso possui 29 leitos (além de espaços para os índios que só dormem em rede). A casa também dispõe de uma estrutura com capacidade para receber os doentes e seus familiares - é hábito do índios levar mulher e filhos para aompanhar o doente.

A unidade integra a lista das poucas do país a dispor de recurso próprio para o custeio. Das 54 existentes no Brasil, a Casai-Cuiabá é a nona que dispõe, no orçamento da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), de verba direcionada ao seu funcionamento.

É de responsabilidade do Distrito Especial de Saúde Indígena de Cuiabá (Dsei) garantir e executar todas as ações necessárias à proteção e recuperação da saúde do índio. No início do mês, os índios se reuniram com o Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi), que é a entidade que deve fiscalizar as ações do Dsei, mas nenhuma medida foi tomada para melhorar o atendimento.

Outro lado

A reportagem tentou e não conseguiu contato com dirigentes da Funasa em Brasília. As ligações não foram retornadas.

http://www.midianews.com.br/?pg=noticias&cat=3&idnot=60267

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