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Desastres mostram fracasso da política para o meio ambiente

O Globo, Editorial, p. 2
04 de Nov de 2019

Desastres mostram fracasso da política para o meio ambiente
É incompreensível, por exemplo, a letargia do governo diante da calamidade nas praias do Nordeste

Uma sucessão de eventos desastrosos nos últimos dez meses atesta o fracasso da política nacional de proteção e defesa do meio ambiente. Também revela a inexistência de um sistema de Defesa Civil que permita uma resposta ágil, eficiente e coordenada entre governos federal, estaduais e municipais.

Perenizam-se as sequelas dos desastres provocados pelos rompimentos das barragem de rejeitos no Sudeste, pelos incêndios e desmatamentos na Amazônia e pelo petróleo cru que invadiu dois mil quilômetros do litoral do Nordeste.

Mais de quarenta semanas depois da tragédia em Brumadinho (MG), prossegue a procura de vítimas. Já se contaram 252 mortos e ainda há 18 desaparecidos sob a lama.

Do Vale do Rio Doce até o litoral do Espírito Santo ainda se observam as graves consequências sociais, econômicas e ambientais da catástrofe de 2015 em Mariana.

Na Amazônia registrou-se um aumento de 92,7% em áreas desmatadas até setembro. Houve queima e desmate em território equivalente a 7,8 mil quilômetros quadrados de florestas, segundo os alertas emitidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) nos nove primeiros meses.

Pairam, ainda, os efeitos do óleo que há oito semanas contamina mais de duas centenas e meia de praias nordestinas e agora avança em direção ao litoral do Sudeste.

Nesses episódios sobressaiu o voluntariado comunitário, que se organiza e age na emergência até que os governos se mobilizem no socorro às vítimas.

A resposta federal, por exemplo, foi mais rápida nas tragédias de Mariana e Brumadinho do que nos incêndios e no desmatamento na Amazônia. E demorou excessivamente no caso do petróleo que invadiu a costa do Nordeste.

Se faz necessária e urgente uma profunda revisão das políticas ambiental e de Defesa Civil. É incompreensível, por exemplo, a letargia do Ministério do Meio Ambiente diante da calamidade nordestina. Simplesmente não acionou de imediato o sistema de contingência para vazamento de óleo no mar, previsto no decreto no 8.127, de 2013.

Torna-se louvável, portanto, a iniciativa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, de criar uma comissão parlamentar para analisar a política nacional de meio ambiente e o sistema de Defesa Civil. "Se não resolvermos isso, não adianta fazer reforma tributária, administrativa e previdenciária, porque há uma correlação crescente, e muito forte, entre o investimento e meio ambiente", justificou.

Está na hora de mudança, também, em aspectos da política econômica como, por exemplo, na concessão de subsídios à produção de automóveis. O país incentiva a fabricação de carros e pouco investe em transporte de massa. É um contrassenso ambiental, com drásticas consequências econômicas.

O Globo, 04/11/2019, Editorial, p. 2

https://oglobo.globo.com/opiniao/desastres-mostram-fracasso-da-politica…

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