VOLTAR

Desaparecidos na área de matança chegam a 350

Amazonas em Tempo-Manaus-AM
06 de Mai de 2004

O Sindicato de Garimpeiros de Rondônia denunciou ontem, na Câmara dos Deputados o desaparecimento de cerca de 350 garimpeiros na Reserva Roosevelt, no Estado, onde recentemente o conflito entre índios cintas-largas e garimpeiros resultou na morte de 29 pessoas. De acordo com o presidente do Sindicato, Paulo Roberto Borges (foto à esq.), o governo precisa agir rapidamente para evitar novas mortes. "É preciso que o presidente olhe por isso para que amanhã as viúvas não compareçam aqui. Jamais vi tamanha atrocidade'', disse, chorando, durante audiência pública, na Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Desenvolvimento Regional, na Câmara.

O juiz da Comarca, Leonel Pereira afirmou, durante audiência, que desde 2001 já foram registradas 65 mortes na reserva e há denúncias de um cemitério clandestino com cem corpos. Segundo o magistrado, a Justiça local tem tido dificuldades em cumprir mandados de prisão e em ouvir os índios que habitam a reserva. Para ele, a Fundação Nacional do Índio (Funai) tem dificultado as investigações. Leonel Pereira defende a intervenção da União na reserva.

O deputado Miguel de Souza (PL-RO) protocolou na Câmara pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o assunto e acertou com o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP) a criação de uma Comissão especial que vai estudar todos os projetos que tratam da questão indígena e que tramitam na Casa.

Juiz acusa Funai

O juiz Leonel Pereira, declarou que a região é uma "terra sem lei''. De acordo com o magistrado, na reserva indígena Roosevelt, índios da etnia cinta-larga estão fortemente armados com arsenal pesado. Enquanto os índios continuarem armados, observou, os conflitos continuarão. "Lá se mata e se sabe quem mata, mas não se pune os assassinos'', disse.

Leonel Pereira relatou para os parlamentares da comissão que a Fundação Nacional do Índio (Funai) nunca se interessou em colaborar com a Justiça local. Segundo ele, recentemente cinco ofícios foram encaminhados à fundação solicitando o depoimento de índios, mas nenhum foi respondido. "A Funai não responde nada'', reclamou.

O presidente do Sindicato de Garimpeiros de Rondônia, Paulo Roberto Borges de Oliveira, também questionou a atuação da Funai na reserva. Para ele, a instituição impede o cumprimento de mandados de prisão e interfere no andamento das investigações. "A Funai criou um país dentro de um país, onde a Polícia Federal e o poder Judiciário não conseguem entrar'', afirmou.

O garimpeiro Miguel de Souza, que diz ter presenciado o massacre que ocorreu na reserva, denunciou a participação de funcionários da fundação em atividades que acirram os conflitos entre índios e garimpeiros.

O juiz Leonel Pereira lembrou que relatório da Polícia Federal elaborado em 2001 denunciou o garimpo de 2.000 homens no local. Na época, diz ele, uma mega-operação foi realizada na reserva, mas em pouco tempo a exploração de diamantes foi reativada. O juiz defende a intervenção federal como única forma de coibir atividades ilegais e novas mortes na região. Segundo Borges de Oliveira, existem registros documentais que dão conta que em 1950 a exploração de diamantes já ocorria na região.

PF entra na reserva

A Polícia Federal vai entrar hoje na reserva Roosevelt para conversar com caciques cinta-larga e tentar identificar os índios envolvidos no assassinato de 29 garimpeiros no local, na Semana Santa. Há pelo menos 12 nomes de suspeitos de participação no crime. No início da semana, a PF fez uma operação na reserva, não encontrou armas nem garimpeiros.

A PF está cautelosa quanto à identificação dos cinta-larga, pois dificilmente conseguirá saber quem foram os cerca de 200 guerreiros que participaram do ataque, mas pelo menos tem nomes de supostos mandantes. "Não podemos citar nomes sem provas ou arrolar centenas de pessoas aleatoriamente. Por isso é necessário entrar na área para tentar fazer um levantamento dos prováveis mandantes e autores", afirmou o delegado Mauro Spósito, coordenador-geral de Operações Especiais de Fronteira.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.