VOLTAR

Desafios climáticos de países postos à mesa

O Globo, Sociedade, p. 25
02 de Dez de 2014

Desafios climáticos de países postos à mesa

LIMA - Se dependesse apenas do entusiasmo dos líderes que deram início ontem à Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (Lima COP20), no Peru, as negociações para reduzir as emissões de CO2 na atmosfera seriam tranquilas. Mas o que está à espera dos negociadores nos próximos dias é a árdua tarefa de conseguir fechar um esboço de um acordo mútuo entre 190 países com interesses bastante diferentes, mas que garanta o controle do aquecimento global. O tratado final só será definido de fato em 2015, em Paris, na cúpula que é vista como uma continuação do Protocolo de Kyoto, e entrará em vigor em 2020.
- O mundo não espera que falhemos (num acordo) - destacou o presidente da COP20, Manuel Pulgar-Vidal, ministro do Meio Ambiente do Peru, que exemplificou alguns avanços. - Há sinais muito bons para se destacar: os anúncios históricos de compromissos de mitigação de vários países emissores; a grande mobilização pública; e as iniciativas não formais lançadas na cúpula de Nova York
Medidas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa já tinham sido anunciadas por EUA, União Europeia e China, que estão entre os maiores poluidores mundiais, injetando otimismo nas negociações. Por outro lado, Índia, Rússia, Japão e Austrália ainda não apresentaram suas propostas. Entre os principais objetivos das negociações, está o de manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2 graus Celsius em comparação com os tempos pré-industriais, o que iria demandar uma mudança de rumo visando às energias renováveis.
- A COP20 poderá gerar a ação necessária antes de 2020, colocar bases para o acordo em Paris e elevar o nível de ambição gradualmente, e a longo prazo chegar à neutralidade climática, a única maneira de ter o desenvolvimento realmente sustentável para todos - afirmou Christiana Figueres, secretária-executiva da Convenção-Quadro da ONU sobre mudanças climáticas, lembrando ainda que 2014 pode ser o ano mais quente da história humana, e as emissões continuam aumentando.
Gargalo energético no Brasil
A delegação brasileira chega ao Peru com a boa notícia da queda de 18% no ritmo de desmatamento na Amazônia e com propostas para reduzir o atrito entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Para a vice-presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, Suzana Kahn, o país pode ser um dos líderes no controle do aquecimento, mas precisa fazer o dever de casa.
- A redução do consumo de etanol e o apelo crescente ao carvão são absurdos - condena. - Estamos enfrentando um gargalo no setor energético.
Carlos Augusto Klink, secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente reconhece a dificuldade:
- Temos entraves tecnológicos, mas sabemos como chegar às fontes renováveis. Já estamos entre as três potências de energia eólica do mudo.
Índia resistente a acordo
A Índia não divulgou como vencerá a emissão de poluentes. Pelo contrário: o ministro para Carvão e Energias Renováveis, Piyush Goyal, descartou adotar uma economia que cresça sem poluir.
- O desenvolvimento da Índia não pode ser sacrificado por mudanças climáticas (que ocorrerão) daqui a muitos anos - salientou recentemente em uma conferência em Nova Déli. - O Ocidente terá que reconhecer que temos as necessidades dos pobres.
Mais de 350 milhões de indianos vivem em casas sem eletricidade. Em 2013, Nova Déli despejou 565 milhões de toneladas de carvão no setor energético. O governo espera quadruplicar este índice até 2019. A Índia é origem de 7% de todas as emissões de CO2 do mundo.
Chuvas intensas no Peru
Na segunda-feira, a Organização Meteorológica Mundial, ligada à ONU, divulgou um vídeo em Lima, no qual simula uma notícia sendo divulgada no ano de 2050 no Peru, e a informação seria alarmante: de tão fortes e frequentes que seriam as chuvas, o acesso a Machu Picchu, principal ponto turístico, ficaria barrado; e secas prolongadas atingiriam o norte do país.
Nações insulares sumindo
Pelos menos 39 nações insulares podem ser engolidas pelo aumento do nível do mar. Segundo a Agência de Proteção Ambiental dos EUA, os oceanos podem ganhar até 23 centímetros este século. O caso mais dramático é o de Kiribati, entre Austrália e Havaí, apenas dois metros acima do nível do mar. O presidente Anote Tong pensou em unir os 100 mil habitantes em plataformas gigantes no Pacífico. Desistiu ao ver o orçamento: US$ 2 bilhões.
Isolamento do ártico
Os povos tradicionais do Ártico testemunham o derretimento da camada de gelo marinho. Desde que ele começou a ser medido por satélite, foi observada uma redução de 40% de sua superfície nos meses de verão. As águas expostas absorvem mais calor e radiação solar e emitem gases de efeito estufa.
- O derretimento acelerou tanto que, a partir de 2030, talvez o Ártico já não tenha mais gelo no auge do verão - alerta Jefferson Cardia Simões, professor de Geografia Polar da UFRGS. - Uma nova rota de navegação surgiu no local e tem sido mais explorada para o transporte comercial.

O Globo, 02/12/2014, Sociedade, p. 25

http://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/otimismo-marca-inici…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.