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Deposicao de material toxico ameaca regiao de Piracicaba

OESP, Cidades, p.C6
18 de Fev de 2004

Deposição de material tóxico ameaça região de Piracicaba Sobras de areia de fundição podem ter contaminado várzea do Rio Corumbataí
BÁRBARA SOUZA
Pelo menos 15 focos de deposição de areia de fundição ameaçam a Área de Preservação Permanente (APP)da várzea do Rio Corumbataí, que abastece Piracicaba, no interior. Os montes do resíduo tóxico estão depositados sem proteção na região das Estradas de São Pedro, Rio Claro e Charqueada e Rodovia Cornélio Pires, bastante próximos de área residencial.
A areia contém metais pesados como chumbo, cobre e alumínio, pois a indústria de fundição usa areia nos moldes de peças de metal. A sobra fica contaminada pelos metais e por fenóis, resultantes das resinas usadas na compactação. Segundo especialistas, essas "sobras" são cancerígenas.
Esse tipo de resíduo, classificado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas como não-inerte, de classe 2, é combustível e biodegradável e solúvel em água. "Todo material desse tipo pode causar risco à saúde pública", avisa o perito do Ministério da Saúde Elio Lopes dos Santos.
Impacto - Ainda não há provas da contaminação do solo e da água. Mas, para o presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), Carlos Bocuhy, é praticamente impossível que a área não tenha sido afetada. "Há mais de 1 milhão de toneladas de areia com resíduos a céu aberto", diz Bocuhy, membro do Conselho Estadual do Meio Ambiente. Ele sobrevoou a região com representantes do Coletivo de Entidades Ambientalistas, no dia 12, e enumerou 15 áreas. "É provável que o material já se tenha infiltrado no lençol freático e escorrido ao rio."
A Procuradoria da República e o Ministério Público Estadual vão pedir à Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) um relatório sobre a situação ambiental do município. Em nota, a procuradora da República em Piracicaba, Sandra Kishi, diz que o local deve ser "devidamente mapeado para a adoção das medidas cabíveis no âmbito cível e criminal."
Conhecida pela concentração de indústrias de fundição - das 22 empresas apenas 6 têm processo de recuperação e aproveitamento de parte das areias -, a região de Piracicaba sofre com o problema da falta de locais para a deposição da areia. São 25 mil toneladas por mês. "São Paulo produz 40% dos fundidos do País e Piracicaba é uma das grandes produtoras", diz o pesquisador Claudio Luiz Mariotto, engenheiro metalurgista do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
A professora de Impacto Ambiental da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Samia Maria Tauk Tornisielo alerta para o risco de contaminação do Corumbataí. "Esses metais, que são cancerígenos, podem entrar na cadeia alimentar e chegar ao homem."
Por meio de nota, a Cetesb informou que as áreas que recebem deposição de areia de fundição são monitoradas. "No que se refere à existência de outros locais destinados à deposição de outros resíduos industriais, esses não são de conhecimento desta agência e, portanto, não receberam a aprovação e fiscalização da mesma."

Tratada, areia pode ser até 80% reaproveitada
A areia de fundição pode ter três destinos: ser reutilizada pela própria empresa, usada para a fabricação de asfalto, blocos e cerâmica depois de tratada ou ir para um aterro apropriado. "O mais usual hoje é o resíduo ir para um aterro industrial", explica o diretor-executivo da Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos (Abetre), Diógenes Del Bel.
O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) desenvolve uma unidade móvel de reciclagem de areia de fundição. O equipamento vai às indústrias sobre um caminhão e faz o tratamento da areia na empresa. "Mas é difícil resolver o problema do passivo ambiental, que está depositado há anos", diz o responsável pelo desenvolvimento do projeto, Claudio Luiz Mariotto. Depois de tratada, a areia pode ser até 80% reaproveitada, segundo ele.
A Associação Brasileira de Fundição (Abifa) reconhece as dificuldades para a destinação da areia. Segundo a entidade, empresas têm se reunido para encontrar soluções. Indústrias procuradas pelo Estado em Piracicaba não quiseram se manifestar sobre o assunto. (B.S.)

OESP, 18/02/2004, p.C6

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