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Demanda por água crescerá 55% até 2050, aponta OCDE

Valor Econômico, Especial, p. G4
30 de Out de 2013

Demanda por água crescerá 55% até 2050, aponta OCDE

Por Carlos Vasconcellos
Para o Valor, do Rio

A pressão demográfica e o aumento da urbanização são os principais fatores para a elevação da demanda global por um recurso natural cada vez mais escasso: água. Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a demanda mundial por água crescerá 55% até 2050, quando a população mundial chegará a 9 bilhões de pessoas. Com 2 bilhões de pessoas a mais no planeta será preciso assegurar que todos esses habitantes tenham água para beber, produzir alimentos, produtos, realizar tarefas domésticas, gerar energia e fazer sua higiene pessoal.
"Desse total de 9 bilhões, cerca de 40% viverão em regiões com situação de estresse hídrico", alerta Kathleen Dominique, diretora do Programa Água, da OCDE, que participou no Rio de Janeiro, do evento "Água e Indústria: Oportunidades e Desafios para o Desenvolvimento do Brasil", organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O crescimento da demanda ocorrerá em todas as esferas e terá profundos impactos sociais e econômicos. Enquanto o consumo doméstico subirá 130% no período, a demanda provocada pela geração termelétrica aumentará 140% e o uso de água pela indústria vai crescer mais de 400%.
Para Paulo Afonso Ferreira, 1o diretor-secretário da CNI, esse quadro exige a participação do setor industrial nos debates sobre o uso dos recursos hídricos. Mas só o debate não basta. "O desafio da indústria é atender a esse crescimento de demanda sem comprometer o ecossistema e a sustentabilidade de um recurso que é estratégico para o país", afirma. "Para isso, precisamos de redes de monitoramento e de informações para qualificar a tomada de decisões na cadeia produtiva, pois a disponibilidade de água será fator decisivo para a estratégia de investimento das empresas", afirma.
Portanto, seja pelo viés econômico, ambiental ou social, a cada dia se torna mais urgente preservar o a qualidade das águas em rios, lagos e mananciais. O desafio vai exigir um gigantesco esforço global de governos, empresas e sociedade, e a preservação desses recursos dependerá em grande medida da indústria do saneamento. A OCDE calcula que em 2050 haverá 240 milhões de pessoas em todo o mundo sem acesso a água potável e 1,4 bilhão sem contar com serviço de saneamento básico. "E isso acontecerá, apesar do crescimento significativo da oferta", observa Kathleen.
Benedito Braga, presidente do Conselho Mundial da Água, chama a atenção para o impacto dos investimentos em saneamento sobre a saúde. "Três milhões de crianças morrem por ano em todo o mundo de doenças disseminadas pela água", afirma. A Organização Mundial da Saúde estima que para cada US$ 1 investido em saneamento básico, são economizados outros US$ 4 em gastos na saúde.
A preservação dos recursos hídricos e, consequentemente, a ampliação global do saneamento básico estão na pauta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, que a partir de 2015 substituirão os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), como pauta de desenvolvimento social, ambiental e econômico para o planeta. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estão em fase de definição. Usando mecanismos de consultas públicas e recebendo aportes dos países membros, será elaborada uma lista de metas até setembro de 2014. Essas metas serão debatidas durante um ano na Assembleia-Geral da ONU e submetidas à aprovação dos países membros.
"Os ODMs eram voltados basicamente para os países em desenvolvimento e se concentravam mais em aspectos sociais. A maior crítica a esse programa de metas era que ele tinha sido criado com base em um relatório técnico, sem ouvir a sociedade", diz Nikhil Chandavarkar, chefe de Comunicação da Divisão para o Desenvolvimento Sustentável do Departamento de Economia e Assuntos Sociais da ONU em Nova York. "A nova agenda pós-2015 será mais ampla, com metas que envolvam países ricos e pobres e mais compromisso para sua execução."
Dono das maiores reservas de água doce do planeta, o Brasil tem um gigantesco dever de casa a fazer na área de saneamento. As metas do Milênio da ONU determinavam que até 2015 o país deveria reduzir em 50% o número de pessoas sem acesso a saneamento básico, usando como base inicial os dados relativos a 1990, objetivo que não será atingido. Os dados mais recentes mostram que o Brasil está longe da meta da ONU e muito distante da universalização do serviço, prevista para os próximos 20 anos no Plano Nacional de Saneamento Básico do governo federal. Segundo o Instituto Trata Brasil, apenas 48,1% da população brasileira conta com serviço de coleta de esgoto. E do volume total de esgoto despejado, somente 37,5% recebe algum tipo de tratamento. A situação é um pouco melhor quanto à distribuição de água tratada, que chega a 82,4% no país.
O desempenho é um pouco superior nas grandes cidades do país. Nas cem maiores cidades brasileiras, a média de atendimento em coleta de esgoto é de 61,4%, e de 38,5% no volume de esgoto tratado. Além disso, chama a atenção, a concentração geográfica dos serviços. Das 20 cidades com os melhores indicadores de saneamento do país, 18 estão nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná.
O presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente de Andreu Gillo, lamenta que poucas companhias de saneamento participem dos Comitês de Bacias Hidrográficas. "A participação do setor industrial e de outros usuários do recurso é muito maior", diz.
Edison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil chama a atenção para a necessidade de cobrança por parte da sociedade, para que os indicadores de saneamento avancem no país. "Uma pesquisa do Ibope mostrou que 75% dos brasileiros jamais cobraram das autoridades melhorias no sistema de coleta e tratamento de esgotos, mesmo nas regiões mais afetadas pelo problema", conclui.

Valor Econômico, 30/10/2013, Especial, p. G4

http://www.valor.com.br/empresas/3320894/demanda-por-agua-crescera-55-a…

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