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Delegado usa aplicativo para prender desmatadores na Amazônia

O Globo, Sociedade, p. 34
03 de Mar de 2019

Delegado usa aplicativo para prender desmatadores na Amazônia

Ana Lucia Azevedo

Grileiros e garimpeiros ilegais que destroem a Floresta Amazônica têm sido presos e novos desmatamentos evitados com uma arma que cabe no bolso e não dispara um tiro: um smartphone.

Esta é a principal ferramenta que o delegado Leonardo Brito, titular da Delegacia do Meio Ambiente do Amapá (Dema), usa para chegar aos criminosos. Munido com um aplicativo de imagens por satélite, Brito já fez mais de 50 operações numa das áreas da Amazônia de acesso extremamente difícil devido à falta de estradas, longas distâncias e terreno acidentado.
Foi movido pelo desespero de não ter acesso rápido às imagens oficiais de satélite e contar com uma equipe de apenas 12 pessoas para proteger 142.815 mil quilômetros de floresta (mais de três vezes a área do estado do Rio de Janeiro) que Brito descobriu o app do Global Forest Watch (GFW).

Trata-se do aplicativo de uma plataforma global de monitoramento do desmatamento homônima, que disponibiliza de graça e em tempo real imagens de satélites da Nasa.

O Amapá é conhecido por ser o estado que mais conserva a Amazônia. Mas não é bem assim, diz o delegado. Grileiros invadem e derrubam a mata para colocar gado. Madeireiros ilegais arrasam áreas grandes em busca de madeiras nobres. Querem ipês e cedros, mas derrubam tudo e vendem o resto para virar carvão, explica Brito.

Há também garimpeiros que atuam no interior da floresta, principalmente na área da Renca (Reserva Nacional de Cobre e Associados), na fronteira com o Pará.

A Renca causou polêmica quando o governo do ex-presidente Michel Temer cogitou abri-la à exploração. Hoje, garimpeiros abrem a mata em busca de ouro e lançam mercúrio nos rios, diz Brito.

Com poucos recursos e muita disposição, o delegado foi à internet em busca de ideias. Encontrou o aplicativo e começou a usar. Viu que poderia obter ainda mais dados e entrou em contato com o World Resources Institute (WRI), uma ONG internacional que mantém a plataforma.

Sem dominar o inglês, Brito conta que usou o tradutor do Google para conversar com os técnicos do WRI, que lhe ajudaram a refinar as buscas. Deu certo:

- Monitoro diariamente, em tempo real, quando áreas são abertas, inclusive as pequenas. Temos conseguido chegar antes que se tornem grandes e conseguimos já fazer flagrantes, o que é muito raro na Amazônia, devido às distâncias e ao acesso difícil - afirma o delegado.

Segundo ele, detectar rapidamente a abertura de pequenas clareiras é essencial para impedir o avanço da atividade criminosa:

- Há o mito de que no Amapá não se desmata. Se desmata e muito. E não só brasileiros. Há estrangeiros que exploram ilegalmente o garimpo e a madeira. Levam a madeira pelos rios e de lá para o exterior e, se não tivermos o satélite, seguem impunes - salienta.

Nos últimos meses, Brito e seus agentes têm ensinado também as populações ribeirinhas a usar o app, que é leve e pode ser baixado em aparelhos simples.

- Eles nos ajudam e, quando desconfiam de grilagem, por exemplo, conferem no app e nos chamam. Os moradores temem os grileiros pois sabem que eles querem expulsá-los - diz.

Além do app, o delegado também conseguiu um drone. Este vai na frente e faz imagens do flagrante, além de ajudar na identificação em campo das áreas que estão sendo desmatadas.

O Globo, 03/03/2019, Sociedade, p. 34

https://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/delegado-usa-aplica…

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