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Degradacao ameaca 32 por cento dos anfibios

OESP, Vida, p.A10
18 de Out de 2004

Degradação ameaça 32% dos anfíbios
Estudo global coordenado por ONGs preocupa porque esses animais são indicadores de qualidade ambiental
Herton Escobar
Se tem alguém que pode reclamar do estado global de degradação ambiental, são os anfíbios. Dotados de uma pele permeável e dependentes de água limpa para viver e se reproduzir, eles são os primeiros a sentir os efeitos da poluição e das mudanças climáticas. Segundo um levantamento global coordenado por ONGs, das 5.743 espécies conhecidas de anfíbios, 1.856 (32%) estão ameaçadas de extinção. Pelo menos 9 já foram extintas e outras 113 não são vistas desde 1980.
Comparativamente, o nível de espécies ameaçadas entre mamíferos e aves é de 23% e 12%, respectivamente. A situação dos anfíbios, que incluem rãs, sapos e salamandras, é preocupante por causa do papel desses animais como indicadores de qualidade ambiental. Quando os anfíbios começam a morrer, é porque a coisa vai mal para todo mundo.
Acho que estamos vendo os primeiros sintomas de uma crise global de biodiversidade”, afirma Claude Gascon, especialista em anfíbios da organização Conservação Internacional (CI).
No caso das espécies brasileiras, o diagnóstico é confuso. A maior parte dos anfíbios ameaçados está nas florestas de países latino-americanos – onde a biodiversidade é enorme, mas o desconhecimento científico é maior.
Quando você olha para os EUA e a Europa, pode ter um quadro fiel da realidade. Mas quando passa para o Brasil, as incertezas são enormes. Temos infinitamente menos cientistas e menos histórico de pesquisa”, afirma Miguel Trefaut Rodrigues, do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da USP. As informações são mínimas. Para a maioria das espécies, só sabemos o nome e o local onde foi avistada”, conta a bióloga Débora Leite Silvano, da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, que coordenou o levantamento de dados sobre espécies brasileiras.
O pouco que se sabe pode ser interpretado de várias maneiras. Pela metodologia adotada no estudo global, seguindo os critérios da União Mundial para a Natureza (IUCN), o País tem 731 espécies de anfíbios, das quais 110 estão ameaçadas. Já uma avaliação regional com base em especialistas brasileiros chega a 24 espécies ameaçadas, segundo relatório regional da própria IUCN. Para 203 não há informações suficientes para classificação.
Uma única espécie brasileira é considerada extinta: a perereca Phrynomedusa fimbriata. Tenho certeza de que esse bicho está por aí”, desafia Trefaut. Basta procurar.” Os dados também diferem da última lista de espécies ameaçadas do Ibama, de 2003, que incluía só 15 espécies de anfíbios – apesar de também ser baseada nos critérios da IUCN.
O estudo global, publicado na revista Science, foi realizado com a ajuda de mais de 500 cientistas de mais de 60 países.

OESP, 18/10/2004, p. A10

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