VOLTAR

Degelo na Antartida aumenta nivel do mar

FSP, Ciencia, p.A13
24 de Set de 2004

Dados de satélite mostram que geleiras no oeste do continente respondem por 10% da elevação global anual do oceano
Degelo na Antártida aumenta nível do mar
Cláudio Ângelo
Editor de ciência
O derretimento acelerado das geleiras no oeste da Antártida está lançando no mar uma quantidade de água suficiente para elevar o nível dos mares em 0,2 milímetro por ano, um décimo da elevação total observada na Terra. O alerta vem de um estudo publicado hoje -o terceiro da semana a detectar alterações drásticas na capa de gelo do continente branco.
A pesquisa, que usou altímetros a laser a bordo de aviões e satélites para detectar diferenças na espessura da camada de gelo, foi realizada por um grupo de cientistas dos EUA e do Chile e publicada ontem na edição on-line do periódico científico americano "Science" (www.sciencexpress.org).
Seu autor principal, o glaciologista Robert Thomas, da Nasa (agência espacial dos EUA) e do Centro de Estudos Científicos de Valdívia, no Chile, esteve ainda ontem nos noticiários: um estudo do qual ele é co-autor, publicado anteontem na revista "Geophysical Review Letters", afirma que quatro geleiras da península Antártica estão fluindo até oito vezes mais rápido para o mar.
Mas a data de publicação e o fenômeno detectado são quase tudo o que há de coincidente entre as duas pesquisas. Elas foram realizadas em regiões bem diferentes da Antártida, têm impacto potencial distinto sobre o clima da Terra e podem até ter raízes diversas.
Enquanto o derretimento das geleiras na península parece ser claramente associado ao efeito estufa -aquela região esquentou 3C só nos últimos 50 anos-, a porção do continente avaliada no novo estudo, o mar de Amundsen, parecia até agora imune ao aquecimento acelerado da Terra.
"Ali você não observa nenhum derretimento superficial do gelo", disse Thomas à Folha. "Eu não sei por que as plataformas de gelo estão afilando", afirmou.
A aposta dos cientistas é que o mar de Amundsen tenha ficado mais quente e esteja derretendo por baixo as plataformas de gelo que flutuam sobre ele.
As geleiras continentais, imensos rios de gelo de até 2 km de espessura que desembocam nessas plataformas, estão assentadas sobre rochas que ficam abaixo do nível do mar. A água salgada estaria se infiltrando entre o gelo e a rocha, causando o degelo.
Seja qual for a causa do fenômeno, o grupo de Thomas está preocupado: as geleiras do mar de Amundsen estão lançando 90 km3 de gelo a mais no oceano, uma quantidade equivalente a 60% do que acumulam por precipitação de neve em suas cabeceiras.
É o que os glaciologistas chamam de "balanço de massa negativo", ou seja, as geleiras estão perdendo água. E muita: "Estima-se que seja necessária a descarga de 300 a 400 km3 de gelo para elevar o nível dos mares em 1 milímetro", afirmou Thomas. O fenômeno observado no mar de Amundsen equivaleria a 10% da elevação anual observada na Terra, de cerca de 2 milímetros.
Já que aumento da temperatura da Terra devido à emissão de combustíveis fósseis não pode ser culpado diretamente, resta saber qual é a causa do derretimento.
"Essa é a questão candente", diz o glaciologista. "Nossa próxima tarefa é saber por que o oceano mudou. E é preciso fazer a pergunta aos oceanógrafos."

FSP, 24/09/2004, p. A13

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.