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A defesa do massacre

O Globo, O País, p. 15
25 de Abr de 2004

A defesa do massacre

Segundo o presidente da Fundação Nacional do Índio, seria desumano buscar culpados pelo massacre de garimpeiros na reserva dos cintas-largas em Rondônia.

É uma tese peculiar: como pode o assassinato brutal de 29 homens deixar de ser um crime? A explicação de Mércio Pereira Gomes afunda sua posição ainda mais no atoleiro do absurdo: não seria crime porque o índio defende sua terra como defende sua própria vida.

É uma visão de etnógrafo, sujeita a discussão e interpretação. De qualquer forma, não pode ficar acima das leis do país. Elas dizem que matar é crime; massacrar 29 pessoas é crime hediondo. Deixá-lo impune cria precedente de conseqüências inimagináveis - que em nada contribuirão para resolver o problema dos cintas-largas ou de qualquer outro grupo indígena.

O presidente da Funai não entendeu as atribuições do cargo. Ele não foi nomeado advogado de índios, e sim funcionário do Estado incumbido de resolver os problemas ligados à população indígena, sob a ótica do interesse nacional e segundo as leis do país. Freqüentemente, sua missão implica defender as tribos contra a ambição e a violência de brancos. Mas nem sempre.

Na verdade, fingir que não houve massacre seria incitar a repetição da matança. E o revide, igualmente brutal.

Ao não perceber isso, Mércio mostra dupla incapacidade: não serve para advogado dos índios (o que pensa ser) nem para funcionário público incumbido de administrar um problema imparcialmente e segundo as leis do país (o que está longe de ser).

O Globo, 25/04/2004, O País, p. 15

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