VOLTAR

Defensor de causas indígenas, catequista de etnia Tuyuca morre cinco dias após ser agredido a pauladas

G1 - https://g1.globo.com
Autor: Eliana Nascimento
08 de Dez de 2019

Caso ocorreu na segunda-feira (2) no bairro Coroado, Zona Leste de Manaus.

Agredido a pauladas, o indígena da etnia Tuyuca, Humberto Peixoto Lemos, de 37 anos, morreu na tarde deste sábado (7) após passar cinco dias internado no Hospital e Pronto-Socorro João Lúcio. Segundo a Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (COPIME), o catequista era defensor dos índios e foi agredido por criminosos, atrás de uma feira no bairro Coroado, Zona Leste de Manaus.

Humberto era indígena da etnia Tuyuca, do povo Utãpinopona, filhos da Cobra de Pedra, de São Gabriel da Cachoeira, município localizado a 852 Km de Manaus. Ele trabalhava na Cáritas Arquidiocesana de Manaus, como assessor da Pastoral Indigenista da Arquidiocese de Manaus (PIAMA).

Além de ser membro da Copime, ele representava os povos indígenas como conselheiro suplente no Conselho Municipal de Manaus (CMS/MAO) e era catequista. O homem trabalhou também como assessor da Associação das Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro (AMARN).

De acordo com a integrante da Copime, Marcivana Satere Mawé, de 48 anos, na segunda-feira (2), às 15h, o catequista foi agredido no momento em que retornava pra casa. Segundo ela, a vítima foi "brutalmente agredida a pauladas" por um grupo de homens.

Humberto morava em Manaus desde 2012 e era totalmente envolvido nas causas indígenas.

"A forma brutal como se deu a morte, através do espancamento, demonstra hoje um ódio que está sendo propagado contra os indígenas em todo o Brasil. A forma como o Humberto foi morto mostra isso claramente", disse.

Quando chegou para morar em Manaus, Humberto teve grande empenho na struturação da AMARN. E foi nesse local que conheceu a esposa, com quem teve uma filha, atualmente com cinco anos.

Despedida

A motivação do crime ainda é investigada e causa indignação para os colegas. Para todos os demais indígenas, Humberto era visto como uma pessoa do bem.

"A gente se considera como família, uma família que quer o bem dos colegas. Daqui de dentro da AMARN que ele engajou essas experiências de ser militante dentro de movimentos sociais. Estamos em uma luta de incidência política, de construção de políticas públicas para os povos indígenas que vivem em Manaus", contou.

Ainda segundo a coordenadora, Humberto acompanhava a questão de economia solidária dos povos indígenas. "Ele era muito voltado para essa militância de políticas públicas".

Na manhã deste domingo (8), os colegas prestaram as últimas homenagens ao indígena. Um outro integrante da Copime, Turí Sahara, de 37 anos, comentou sobre as mortes de outros índios.

"Primeiro, gostaria de viabilizar que não é o primeiro índio que é agredido e morto por traficantes e Humberto não era uma pessoa envolvida no tráfico. Mas isso é que vem ocorrendo no Brasil inteiro. Queremos uma resposta da própria Justiça para averiguar esses casos, pois não pode ficar impune. Percebemos que Manaus é um reflexo de falta de política pública, tem vários acontecimentos e não há respostas", disse.

A COPIME emitiu uma nota em repudio e indignação contra a tortura e espancamento sofrido por Humberto Tuyuka. Confira na integra:

"Humberto é mais uma vítima da crescente onda de violência praticadas contra os Povos Indígenas e a Mãe Terra. Uma violência muitas vezes apoiada pelo discurso de ódio contra as minorias de um sistema que desmonta direitos, monitora e criminaliza as lideranças e organizações e mata. Dessa forma entendemos que está legalizado as perseguições às lideranças e o processo de criminalização contra as mesmas, uma vez que a atual conjuntura política do país facilita.

Segundo o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) este ano o número de assassinatos de indígenas no Brasil aumentou de 110, em 2017, para 135, em 2018, um crescimento de 22,7%, o levantamento listou ainda, no ano passado, 22 tentativas de assassinato, 18 homicídios culposos, 15 episódios de violência sexual, 17 casos de racismo e discriminação étnico-racial, 14 ameaças diversas, 11 situações de abuso de poder e oito ameaças de morte. Um número cada vez mais crescente e assustador.

Diante dos fatos, EXIGIMOS que o Estado e o Ministério Público Federal - MPF, tome as devidas providencias, fazendo justiça, punindo os autores dessa barbárie. Não aceitamos mais tanta violência praticada contra nosso povo, tanto sangue derramado por nossas lideranças que escorrem no chão da Amazônia, no Brasil e Pan-Amazônia. Chega! Basta!

Para a COPIME fica a certeza que a morte não é o fim da luta, ela revigora mais forte naqueles que ficam e no Espirito de nossos ancestrais que nos fortalecem para a nossa RESISTÊNCIA milenar. Humberto Lemos, Presente! Presente! Presente!

https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2019/12/08/defensor-de-causas-…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.