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Declínio sem precedentes

O Globo, Ciência, p. 24
02 de Jan de 2009

Declínio sem precedentes
Crescimento de corais na Austrália atingiu seu menor índice dos últimos 400 anos

O crescimento de corais na Grande Barreira, na Austrália, atingiu o seu menor índice nos últimos 400 anos. Pesquisadores do Instituto Australiano de Ciências Marinhas, que estudaram o fenômeno, acreditam que ele seja causado pelo aquecimento global e pela poluição. 0 impacto das mudanças climáticas na Grande Barreira - um santuário da vida marinha, habitado por milhares de espécies de animais, que ali encontram alimento e proteção - já era conhecido dos cientistas, mas essa foi a primeira vez que os pesquisadores comprovaram de fato o declínio do seu crescimento.
No trabalho, publicado na revista "Science", os cientistas analisaram 328 colônias de corais e descobriram que a calcificação desses animais - extremamente sensíveis às variações de temperatura - diminuiu cerca de 13% em toda a Grande Barreira desde 1990, fato sem precedentes nos últimos quatro séculos.
- Esse estudo nos oferece a primeira avaliação rigorosa da forma como a calcificação desses animais está em declínio por causa do aumento da temperatura do oceano e da acidificação - diz o biólogo marinho Ove Hoegh-Guldberg, da Universidade de Queensland, após analisar os dados.
Aquecimento reduz calcificação
Os recifes de corais constroem seus esqueletos a partir de minerais, como o carbonato de cálcio, presentes na água do mar. 0 aumento das temperaturas dos oceanos - causado pelo aquecimento global - dissolve esses minerais, ameaçando a sobrevivência dos recifes de corais.
Recentes relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU já haviam alertado que a acidificação dos oceanos poderia levar os recifes a desaparecerem até o fim do século.
Porém, um estudo realizado por cientistas da Universidade de Chicago, divulgado em novembro, sugeriu que essa previsão fosse revista, já que o aumento dos níveis globais de dióxido de carbono (CO2) elevou a acidez dos oceanos dez vezes mais depressa do que o previsto pelo IPCC.
Os oceanos absorvem aproximadamente um terço de todo o CO2 liberado na atmosfera por atividades humanas. Quando o CO2 se dissolve na água, ela forma o ácido carbônico, que altera o delicado equilíbrio químico dos mares.
Os recifes de corais, por exemplo, são típicos de águas rasas, onde ocorre penetração da luz, necessária às atividades de fotossíntese. Além da luminosidade, as águas devem ser limpas e ter uma temperatura em torno dos 25 graus Celsius.
Foram analisadas 328 colônias
A equipe liderada pelo biólogo Glenn De'ath tomou um tipo específico de coral, do gênero Porites, como referência para verificar diferenças no ritmo de crescimento. Esse coral desenvolve-se - durante anos ou até mesmo séculos -em camadas, formando estruturas que atingem até seis metros de altura. 0 estudo dessas camadas permite que se entenda o ritmo do crescimento do coral, relacionando-o com a temperatura do mar.
A equipe de De'atli cortou essas camadas e, com ajuda de equipamentos de raios X e de uma técnica chamada densitometria gama, conseguiu medir o seu crescimento anual e também a densidade do seu esqueleto calcário.
Os cientistas australianos descobriram que as taxas de calcificação de 189 colônias havia diminuído desde 1990. Depois, ampliaram o raio de ação, analisando um total de 328 colônias, descobrindo um declínio em torno de 13%.
- 0 declínio do crescimento dos recifes de corais não é algo que pode acontecer no futuro. Isso está acontecendo agora, bem debaixo dos nossos narizes - alerta o biólogo Clive Wilkinson, coordenador da Rede Global de Monitoração dos Recifes de Corais.

O Globo, 02/01/2009, Ciência, p. 24

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