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Declaração de líder europeu causa revolta

Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR
Autor: Feutmann Gondim
25 de Fev de 2005

Não passou em branco a declaração do ex-comissário da União Européia para o Comércio, Pascal Lamy, propondo regras de gestão coletiva para a Amazônia e outras florestas tropicais ao redor do mundo. Lamy é candidato ao cargo de diretor geral da Organização Mundial do Comércio e defende que a Amazônia seja tratada como bem público mundial.
As declarações, feitas durante palestra para diplomatas na sede da ONU em Genebra (Suíça) na quarta-feira, pegaram de surpresa os parlamentares de Roraima em Brasília, que reagiram à altura. O senador Mozarildo Cavalcanti (PTB) foi o primeiro a se manifestar, fazendo pela manhã um discurso no plenário do Senado.
Em entrevista à Folha, após a intervenção no plenário, Cavalcanti disse que a recente declaração de mais um líder europeu é a comprovação de tudo que já vem sendo dito através da CPI das ONGs e de outras comissões do Congresso criadas para barrar o avanço da esterilização das terras da Amazônia, seja através de demarcação de terras indígenas ou de áreas de conservação ambiental.
"É algo articulado. Esse Pascal Lamy está preparado para avançar na tese de internacionalização da Amazônia. É uma tese que vai se consolidar se não houver uma reação do Brasil. E não adianta apenas considerar tais declarações absurdas, é preciso que haja mecanismos mais fortes que o discurso", ressaltou.
Para o senador, a forma correta de o Brasil receber este tipo de intervenção seria contra-atacando, ocupando de forma racional a Amazônia, não deixando as fronteiras desguarnecidas, promovendo a redivisão territorial da região e com a vivificação das fronteiras.
A mesma opinião tem o deputado federal Almir Sá (PL), que caracterizou a declaração de Pascal Lamy como uma interferência direta nos interesses de um país soberano, que cumpre todos os acordos, tratados e convenções internacionais.
"Este é um caminho para que acabe prevalecendo a tese de soberania relativa sobre a Amazônia. Se o Brasil não reagir à altura, vai estar aberta a janela para a internacionalização da região. O Brasil precisa ter consciência de que tem um grande patrimônio que sempre será cobiçado por todos os países. Ou ocupa, ou entrega".
Ainda de acordo com Almir, a idéia defendida por Lamy de que a Amazônia seria bem comum de todos é só uma desculpa para que não haja rejeição da sociedade brasileira à influência cada vez maior que os países ricos exercem na região.
Para ele, a segurança da Amazônia, e a conseqüente preservação do meio ambiente, está no bem estar das pessoas que aqui vivem, com a consolidação dos núcleos urbanos, a melhoria da qualidade de vida e das condições de trabalho.
O senador Romero Jucá (PMDB) também não gostou da tese defendida por Pascal Lamy. "É uma visão distorcida de um país imperialista, rico, achando que os pobres não têm condições de cuidar de seus próprios recursos".
Para Jucá, a discussão ambiental, sobre os recursos hídricos, a qualidade do ar, são importantes para o mundo todo, mas no que diz respeito aos seus próprios recursos, o Brasil é um país soberano e não pode se curvar aos interesses estrangeiros.
"A forma de resolver esse problema do desmatamento na Amazônia não é a interferência externa, é a aplicação do Protocolo de Kyoto, a operacionalização do seqüestro de carbono, que vai valorizar as áreas de mata e permitir o desenvolvimento econômico daqueles países que têm suas florestas preservadas", afirmou o senador.

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