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De que morrem os guaranis?

Fernando Gabeira
17 de Mar de 2005

A primeira fase da visita aos guaranis-caiuás está se
encerrando. Segunda-feira voltou para uma nova etapa. Um dos pontos que é
preciso estudar mais é a própria cultura guarani-caiuá. O extermínio
gradativo passa por ela, logo a resistência também terá de se apoiar na
visão de mundo dos índios.

Quando as mortes começaram a ser divulgadas, algumas autoridades disseram
que os guaranis-caiuás tinham o hábito de deixar as crianças comerem só no
final. Isto é uma tentativa de culpá-los pela morte e os colocar num nível
abaixo da maioria das espécies animais, que dão preferência aos filhotes.

O bombardeio à cultura dos guaranis-caiuás se dá também em outros níveis.
Seus rezadores, os nhamburus, tem suas tendas constantemente incendiadas.
Os caiuás acreditam, por exemplo, que as rezas ajudam a curar suas
doenças. Mas os hospitais que tratam deles não tem espaço para que os
rezadores trabalhem. No entanto, os hospitais brancos, em nossas cidades,
constróem suas capelas e colocam imagens de santos.

Entre os 11 mil índios da reserva de Dourados, existem três etnias:
guaranis, caiuás e terenas. Os mais atingidos pelos problemas de
desnutrição e suicídio são os caiuás. Esta etnia foi a última a se
integrar. Seus membros falam português com dificuldade, são tímidos e
pouco inclinados ao enfrentamento.

Aldeia Guarani-caiuá, 2005
Aldeia Guarani-caiuá, 2005

São os mais explorados. Nos supermercados onde tentam comprar, nas
relações com os que ambicionam suas terras, enfim, os caiuás são o lado
mais fraco da corrente. Preferem dedicar-se à agricultura familiar, mas as
terras são exíguas e a água praticamente acabou.

Sem poder produzir sua sobrevivência, os caiuás não conseguem viver de
cestas básicas porque sua autoestima é abalada. Uma das mulheres com que
nos reunimos, num grupo de 30 lideranças, afirmou: acho que querem acabar
com nossa raça.

De certa forma, ela tem razão. Não há apenas um processo de degradação
material, mas um bombardeio sobre sua cultura, enfraquecendo sua visão de
mundo, as razões para continuarem vivendo.

Só esse ano, já foram cinco casos de suicídio. Apenas um estudo mais
profundo da cultura guarani-caiuá poderia oferecer as respostas.

Mesmo com o trabalho da próxima semana, não sei se aprenderei o bastante
para oferecer sugestões. É que dos guaranis, viajaremos para ver os
xavantes, que também estão sofrendo de desnutrição. Noticias da Bahia
indicam o mesmo problema entre os pataxós. E da Amazônia, o mesmo enter os
índios do Vale do Javari, os kanamaris.

Estamos diante de um colapso do serviço de saúde dos índios. O silêncio só
favorece o processo lento de extermínio.

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