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De olho no futuro

O Globo, Opinião, p. 7
Autor: SPELMAN, Caroline
06 de Abr de 2011

De olho no futuro

Caroline Spelman

É um privilégio visitar o Brasil para falar sobre os assuntos mais urgentes para o planeta: como enfrentar as mudanças climáticas, proteger as florestas, salvaguardar a biodiversidade e assegurar a saúde e o bem-estar das gerações futuras.
O Brasil e o Reino Unido têm trabalhado juntos nessas questões, e a relação tem sido frutífera. Por todo esse relacionamento está o entendimento de que proteger a natureza é um ponto crítico para o desenvolvimento sustentável.
O recente estudo A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade (TEEB) de Pavan Sukhdev demonstra que os serviços que a natureza provém - limpeza da água, captura de carbono - devem ser pagos, compensados ou protegidos. O Brasil iniciou seu próprio estudo TEEB, e o Reino Unido trabalhou recentemente em um projeto com o país para iniciar uma avaliação do valor econômico de suas áreas protegidas.
Um destaque da relação dos dois países tem sido nossa cooperação para unir parceiros globais em torno destas questões. Há um ano promovemos uma oficina para o desenvolvimento do Plano Estratégico que foi adotado pelos membros da Convenção de Diversidade Biológica em Nagoia.
Conseguir um acordo em Nagoia foi marcante pelo trabalho político que exigiu. O resultado ambicioso mostrou que a comunidade internacional não quer mais a destruição do mundo natural.
Nagoia marcou esse compromisso.
Uma prioridade minha, em nome do Reino Unido, é construir um relacionamento forte com o Brasil. Quero continuar a cooperar em assuntos ambientais globais e desenvolver novas parcerias nas áreas de economia verde, agricultura, na prevenção e resposta a desastres naturais.
Nós temos muito a ganhar ao compartilhar nossas experiências. O Reino Unido se comprometeu a fazer das Olimpíadas de 2012 uma tocha da sustentabilidade. Nós iremos dividir com o Brasil as lições que aprendermos, e passar essa tocha para os Jogos do Rio em 2016.
O mundo tem muito a aprender com o Brasil. O país tomou a liderança ao assumir uma meta de redução de emissão de gás carbono em até 40% (abaixo do que seria normal) até 2020. Foi um dos primeiros a assinar o novo Protocolo de Acesso e Repartição de Benefícios de Nagoia, que obriga as empresas a dividir seus lucros advindos de recursos genéticos com o país de onde eles vêm.
O Reino Unido seguirá o exemplo do Brasil e assinará esse protocolo.
Entre 2008 e 2010, o Brasil conseguiu diminuir o desmatamento na Amazônia pela metade - um sucesso tremendo.
A atenção internacional foca na Amazônia - mas o país abriga outros ecossistemas ricos em espécies que têm suas próprias pressões pelo uso da terra, como o cerrado. Este é o segundo sumidouro de carbono do Brasil e abriga um terço de sua biodiversidade.
Meu ministério no Reino Unido é responsável pelas políticas ambientais e de agricultura. A fusão das duas é natural e crucial. À medida que a população mundial cresce, temos que produzir mais alimentos com menos custo ao meio ambiente. Estes dois desafios estão interligados. O papel duplo dos agricultores - como produtores de alimentos e como protetores da natureza - é essencial para nossa nutrição, nosso bem-estar e sobrevivência.
É por isso que o Reino Unido apoia os esforços do Brasil em proteger seus ecossistemas e os serviços que eles proveem, enquanto asseguram que os agricultores brasileiros possam fornecer alimento para uma população crescente.
Também quero falar sobre como nossos países podem construir mais ligações em direção à Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável no Rio de Janeiro em 2012 (Rio + 20), quando todos os olhares se voltarão para o Brasil como anfitrião.
Os desafios que enfrentamos hoje podem parecer intimidadores. Mas não é tempo de se sentir intimidado.
O sucesso em Nagoia representa um momento crítico na história da Convenção da Diversidade Biológica, e também na história humana.
As escolhas que faremos agora, como governos, empresas, empreendedores, inovadores e consumidores, terão consequências nas décadas a seguir.
Espero que continuemos a compartilhar e utilizar toda a sabedoria que já temos para fazer as escolhas certas e assegurar um mundo no qual as futuras gerações possam florescer.

Caroline Spelman é ministra do Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais do Reino Unido.

O Globo, 06/04/2011, Opinião, p. 7

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