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De olho no espaço

CB, Brasil, p. 6
03 de Jul de 2006

De olho no espaço
Com nove satélites próprios em órbita e 29 de empresas estrangeiras que operam para instituições nacionais, o Brasil tentará em 2008, pela quarta vez, fazer um lançamento a partir de uma base local

Ullisses Campbell
Da equipe do Correio

O governo está em fase final de reconstrução da plataforma de Alcântara, no Maranhão. A previsão é que as obras terminem no ano que vem. Em 2008, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) tentará mais uma vez por em órbita um satélite brasileiro. Desde já, o lançamento de um novo foguete VLS (veículo lançador de satélite) é cercado de expectativas, sobretudo porque na última investida brasileira, em agosto de 2003, o foguete explodiu, matando 21 pessoas.

O Brasil já tentou três vezes lançar um satélite de uma base nacional. Todas três fracassaram. "Estamos reconstruindo a torre de lançamento de Alcântara para fazer a quarta tentativa. Se der certo, poremos em órbita um satélite tecnológico simples que está sendo construído. Ainda estamos na fase de testes", explica Marco Antônio Chamon, coordenador de Gestão Tecnológica do Inpe.

Atualmente, há no espaço nove satélites brasileiros, sendo três do governo e seis de empresas privadas, usados para telecomunicações. Há ainda 29 satélites de empresas estrangeiras operando para instituições brasileiras, somando um total de 35 sistemas espaciais em órbita.

Com tudo isso, o Brasil torna-se membro de um seleto grupo de 12 países que dominam a tecnologia espacial e exploram o espaço aéreo com satélites próprios. Até o ano que vem, mais três serão lançados, sendo um deles do governo. Além disso, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) analisa a cada ano pelo menos três novos pedidos de empresas que desejam por satélites em órbita para atuar no Brasil.

Dois importantes satélites brasileiros em órbita são o SCD-1 (satélite de coleta de dados) e o SCD-2. Embora lançados dos Estados Unidos, ambos foram totalmente construídos no Brasil. O SCD-1 está em operação desde 1992 e fornece imagens e dados para mais de 900 plataformas de recepção espalhadas pela América do Sul, sendo que 850 delas estão em solo brasileiro. Orçado em US$ 20 milhões, esse satélite teria, a princípio, vida útil de apenas um ano. Tanto que o governo fabricou uma réplica (SCD-2) e lançou no espaço em 1998.

Mas, para surpresa dos técnicos do Inpe, o SCD-1 não parou de funcionar e está firme e forte no espaço há 14 anos. "Volta e meia o SCD-1 se desvia de sua órbita por conta da gravidade da Terra, mas isso não compromete seu funcionamento", atesta Chamon.

O SCD-1 e o SCD-2 têm a mesma função. Eles se encarregam de repassar à Terra dados importante sobre a temperatura, nível da chuva e das águas dos rios, além da tábua das marés. Eles orbitam a 800Km da superfície terrestre e, a cada 90 minutos, fazem uma volta completa na Terra. Nenhum deles tem câmera fotográfica.

Desmatamento
O terceiro satélite brasileiro é o CBERS-2, um dos mais modernos em atividade a serviço do país. Construído e lançado em conjunto com a China, cabe a este equipamento tirar fotos da superfície terrestre. As imagens fornecidas por ele abastecem mais de 3 mil instituições, inclusive órgãos do governo como os institutos Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Com as imagens do CBERS-2, o governo controla queimadas e desmatamento na Amazônia, além de coibir a ocupação irregular do solo.

Ao contrário dos satélites da linha SCD, o CBERS torna-se inoperante quando sai de órbita. Isso porque suas câmeras fotográficas têm que estar o tempo todo apontadas para a Terra. "Quando ele sai de órbita por qualquer motivo, os monitores de imagem ficam virados para o espaço e acabam sem utilidade", explica Chamon. Geralmente o satélite volta para a órbita depois de comandos acionados pela base, no Inpe, em São Paulo.

Como o CBERS-2 é muito útil para o governo, o Inpe está trabalhando para lançar o CBERS-2B no ano que vem. A idéia é que o novo equipamento substitua o primeiro, que está em órbita desde 2003. Atualmente, o novo satélite está em fase final de montagem e testes. Nos ensaios, os técnicos simulam em terra toda a funcionabilidade do satélite, principalmente se as "asas" dele se abrirão no espaço. Caso contrário, o satélite se mantém em órbita, mas inoperante por falta de energia. "Outra parte importante testada é o computador de bordo e no gerador de energia", explica Chamon.

No Brasil, cabe à Anatel regulamentar, conferir e acompanhar o direito de exploração de satélites brasileiros e estrangeiros, assim com os serviços que fazem uso desses equipamentos. O órgão regulador também tem a função de licenciar as estações terrenas transmissoras. A maioria dos satélites privados é usada em telecomunicações, como backbone das prestadoras de telefonia, TV por assinatura (DTH), acesso à internet, formação de redes privativas de telecomunicações, entre outras aplicações.

CB, 03/07/2006, Brasil, p. 6

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