Folha Web - http://www.folhabv.com.br/
Autor: Jessé Souza
19 de Abr de 2011
E hoje é o Dia do Índio. Trata-se de uma data que já foi cercada de muita polêmica por causa da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, caso este que foi encerrado com a decisão da mais alta Corte judicial brasileira, o Supremo Tribunal Federal (STF).
Durante todo o embate judicial, tivemos o governador Anchieta Junior (PSDB) chamando aquela terra indígena de "zoológico humano" e setores falsos nacionalistas apregoando, com forte apelo de pânico, que o Brasil seria internacionalizado a partir da Raposa Serra do Sol.
Para dar mais peso à paranoia da internacionalização, setores retrógrados se uniram numa campanha jamais vista no Brasil, inclusive mobilizando populares por meio da política partidária e encontrando gente disposta a lançar bombas molotovs contra policiais federais e montando trincheiras armadas.
Com o fim do conflito e a saída dos produtores de arroz, viu-se que todo aquele pânico apregoado não havia sentido. O único sentido era colocar os povos indígenas como o grande mal de Roraima, lançando a opinião pública contra eles e criando um forte posicionamento antiindígena.
Porém, toda essa questão foi colocada em seu devido lugar. As pessoas começaram a perceber que não havia, de fato, plano algum para desenvolver Roraima. Todo conflito foi construído como forma de manter uma cortina de ferro para que ninguém enxergasse que a maioria dos políticos tinha apenas a política do gogó.
O reflexo disso pode ser sentido na campanha eleitoral passada. Sem mais motivo para atacar os indígenas e fomentar o fim de Roraima com a paranoia da internacionalização, os políticos tiveram que partir para a compra de voto sem rodeios e com o uso da máquina de forma escancarada. Estamos assistindo o resultado disso: governador e parlamentares cassados.
A partir de agora, a sociedade local precisa rever seus conceitos e suas visões sobre tudo o que aconteceu. Não tem como continuar colocando o índio como culpado pelos entraves de Roraima. Roraima precisa aceitar essa nova realidade, desta vez colocando o dedo na ferida: os políticos que só souberam levar o povo no gogó.
Precisamos de uma nova construção da realidade, em que as comunidades indígenas comecem a fazer parte desse processo, como sempre fizeram, cada uma de acordo com sua realidade. E já existem exemplos de comunidades que participam ativamente da economia do Estado.
As feridas ainda não foram cicatrizadas. Existem pessoas que não conseguem enxergar que a população roraimense foi envolvida em um grande engodo. E não se muda isso do dia para noite. É um processo lento, mas que tem avançado o bastante.
Mas o importante de tudo é que Roraima não vive mais daqueles conflitos fomentados pelos poderosos locais e por forças ocultas. Esse é o grande avanço que se pode comemorar nesta data. Daqui para frente uma nova realidade está sendo construída, desta vez sem o índio ser atacado como era no passado não muito distante.
As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.