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Dano ambiental multiplicado

JB, Cidade, p.A12
06 de Set de 2005

Dano ambiental multiplicado
Vazamento nas praias de Niterói passa de 10 mil litros
Branca Nunes, Florença Mazza e Gustavo de Almeida
A quantidade de óleo derramado na Baía de Guanabara pelo navio Saga Mascot pode ter sido pelo menos cinco vezes maior do que a divulgada pela Fundação Estadual de Engenharia de Meio Ambiente (Feema). O delegado Alessandro Vieira Neto, da Polícia Federal de Niterói, acredita que até 13 mil litros possam ter sido lançados nas águas da Baía. Até o fim da tarde de ontem, a Feema afirmava que esse número não ultrapassava os 2.500 litros.
Nas investigações feitas no estaleiro Enave/Renave, no qual o Saga colidiu na hora do atracamento, a Polícia Federal descobriu que, no momento em que o vazamento começou, apenas funcionários auxiliares estavam no local. Eles afirmaram ao delegado que o superintendente do estaleiro foi avisado minutos depois e este mandou que o plano de emergência para acidentes fosse seguido imediatamente.
- Se este plano foi acionado, ele é completamente inócuo. Caso tivesse alguma eficácia o óleo jamais atingiria uma área tão grande - afirmou o delegado.
O secretário municipal de Meio Ambiente de Niterói, Jefferson Martins, acredita que no mínimo 10 mil litros foram derramados após o choque. A secretaria também critica a ausência de um plano de contenção imediata do vazamento.
- Caso tivessem sido apenas dois mil litros, o impacto ambiental teria proporções infinitamente menores. Outra conclusão é a de que este estaleiro e os órgãos competentes não estavam preparados para um vazamento dessa ordem - disse o secretário.
A Feema se defende dizendo que o plano emergencial entrou em ação o mais rápido possível - as investigações da Polícia Federal concluíram que o órgão só foi avisado do vazamento na manhã de sábado por pescadores das praias de Niterói - e que os estragos ambientais poderiam ter sido muito piores. Dyrton Bellas, analista ambiental da Feema, afirma que esses acidentes não são muito freqüentes se comparados com o fluxo de embarcações que navegam diariamente pela baía.
Para tentar solucionar o problema dos vazamentos, o deputado estadual Carlos Minc (PT), presidente da Comissão de Meio Ambiente da Alerj, enviou ontem um ofício a diversas entidades ligadas à preservação do meio ambiente solicitando uma audiência na próxima semana. Para agilizar o processo, as entidades levarão à reunião três perguntas: O que a empresa tem feito efetivamente em matéria de prevenção de acidentes? Como pode ser explicado a quantidade de vazamentos mensais que ocorrem na Baía de Guanabara? O que pode e deve ser feito para melhorar a prevenção e a comunicação entre as empresas envolvidas em meio ambiente?
- Será uma reunião de trabalho, mas as pessoas já chegarão com o dever de casa pronto - contou o deputado. - Todos afirmam ter planos de prevenção contra acidentes, mas os vazamentos acontecem mensalmente. Portanto, concluímos que algo não está dando certo.
O deputado estadual André do PV, vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente da Alerj, deu entrada em uma indicação legislativa para que o governo do estado crie uma Brigada de Meio Ambiente para a Baia de Guanabara. A brigada teria navios-tanque equipados com dispositivos de sucção e contenção de substâncias poluentes, principalmente óleo derramado por navios.
- Se existe algum plano de emergência por parte da Feema , este não vem funcionado. Os fatos até agora têm demonstrado que o sistema adotado não é eficiente - afirma.

Resíduos são levados para estaleiro
O secretário de meio ambiente de Niterói, Jefferson Martins, vai sobrevoar hoje de manhã as praias do município para checar os estragos causados pelo vazamento de óleo na Baía. Ele acredita que o trabalho de limpeza nas areias - que havia retirado, até ontem à noite, 180 toneladas de resíduos - será suspenso hoje à tarde. Mas por pelo penos uma semana agentes da Companhia de Limpeza de Niterói (Clin) vão continuar peneirando a areia das praias, em busca de resíduos do combustível.
Desde sábado, cerca de 100 homens estão retirando os resíduos do acidente das praias de Icaraí, das Flechas, Boa Viagem, São Francisco e do Forte do Rio Branco. Trinta e sete caminhões cheios de areia, óleo e material absorvente impregnado do combustível retirados das praias foram levados para o estaleiro.
- Por sorte, a mancha não chegou às praias oceânicas. Um pouco de óleo chegou a Piratininga, mas nada significativo - declarou José Bandeira de Mello, presidente da Clin, acrescentando que 80% do problema ficaram concentrados em Icaraí.
Segundo ele, será feita hoje uma avaliação da qualidade da água para saber se as praias de Icaraí, Boa Viagem e das Flechas, interditadas pelo vazamento, poderão ser liberadas.
- As condições melhoraram muito de sábado para cá. O pior já passou - disse.

Prefeito reclama de lentidão
O prefeito de Niterói, Godofredo Pinto, disse ontem que se passaram mais de 12 horas entre o acidente com a embarcação e o comunicado oficial à administração municipal. Apesar do bom entrosamento com a Feema, Godofredo crê que os responsáveis pelo navio demoraram demais a fazer o alerta do acidente.
- Poderíamos ter agido mais rápido e minorado os efeitos do derrame de óleo.
O estaleiro Enavi já se dispôs, segundo o prefeito, a custear todas as despesas da Companhia de Limpeza Urbana de Niterói (Clin). O prefeito, por enquanto, ainda não tem valores para definir a multa.
- O acidente foi prejudicial tanto no aspecto do lazer dos niteroienses, quanto para o turismo. Sem contar a atividade pesqueira de centenas de famílias das duas colônias pesqueiras. Vamos lutar também para que os recursos obtidos com medidas compensatórias ambientais sejam aplicados aqui mesmo em Niterói - disse Godofredo, adiantando que em uma reunião hoje da Comissão Estadual de Controle Ambiental (Ceca) será analisado um relatório da Feema com todos os detalhes do acidente.
- A partir da aprovação deste relatório poderemos mensurar valores para as multas que serão aplicadas - disse.

JB, 06/09/2005, p. A12

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