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Da luta por direitos a 'viagens' com ayuhasca

OESP, Nacional, p. A5
28 de Jan de 2005

Da luta por direitos a 'viagens' com ayuhasca
200 índios de 20 tribos sul-americanos exibem artes e saberes em parte isolada do Território Social Mundial

Elder Ogliari

Assim como nos mapas, eles ocupam a área mais distante e isolada do Território Social Mundial e eventualmente são visitados por estrangeiros, curiosos com suas roupas, hábitos e conhecimentos. Vivem na cidade grande um dilema que divide as aldeias - os que preferem o isolamento e os que querem estar misturados com a "civilização". São os 200 índios de 20 tribos sul-americanas reunidos para o Puxirum, encontro para exibição de artes e saberes e discussão de ações comuns para garantir terra, cultura e dignidade aos povos que representam.

Os visitantes são brasileiros com algum vínculo, ao menos afetivo, com a causa indígena, e estrangeiros divididos entre solidários e curiosos. "Eles são a essência", elogia a terapeuta Virgínia Maria Müller, de Santa Cruz do Sul (RS), sentada no chão, interessada em acompanhar os rituais do amanhecer e do entardecer que os índios fazem todos os dias.
"Isso tudo é muito bonito e diferente", emenda a turista uruguaia Mercedes Cuña, que está de passagem pela cidade e não participa do Fórum Social Mundial.

A chegada de autoridades, como o ministro das Cidades, Olívio Dutra, merece uma comemoração especial, e um coral de guaranis é chamado às pressas para exibir os cânticos e danças do povo. "Tenho sangue dos guaranis das Missões", ressalta Olívio, agradecendo ao pajé Adolfo. Um grupo aproveita a presença da autoridade para exibir o cartaz que pede a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima.

Um dos dirigentes da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia, Sebastião Haji Manchineri, é quem fala dos objetivos do encontro. "Queremos garantir nossos direitos às terras, aos recursos naturais, à biodiversidade e à preservação de nossos conhecimentos", resume. "E não construímos bombas, não partimos para ações terroristas nem avançamos sobre terras alheias."

Os participantes do encontro discutem a criação de uma constituição indígena internacional e o reconhecimento da Declaração dos Direitos Indígenas nas Nações Unidas. Para participar das discussões e exibir sua cultura, os índios vieram de longe e aceitaram hospedagens em colégios de instituições religiosas.
Alucinógeno

O boliviano Lucio Colque ficou 48 horas em trânsito, de La Paz a Porto Alegre, incluindo a espera de seis horas no tráfego interrompido pela queda de uma ponte no trecho entre São Paulo e a capital gaúcha. "Está bom aqui, mas ficamos isolados do fórum", reclama, exibindo a bandeira de sua causa, o reconhecimento do direito a royalties pela exploração do gás nas terras indígenas.

O peruano Juan Agustin Fernandez viajou uma hora de barco, de sua aldeia até Puccalpa e depois de avião para Lima, Buenos Aires e Porto Alegre. É uma das figuras mais procuradas do Puxirum. Não só pelo artesanato, mas também porque dirige cerimônias xamânicas de ingestão do alucinógeno ayuhasca. "Temos visões durante uma hora e meia", garante.

OESP, 28/01/2005, Nacional, p. A5

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