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Custo de térmicas já ultrapassa R$ 1 bi e ameaça redução de tarifa

FSP, Mercado, p. B1
09 de Jan de 2013

Custo de térmicas já ultrapassa R$ 1 bi e ameaça redução de tarifa
Energia é mais cara por causa do combustível; repasse para residências será ao longo de 2013
Empresa de pesquisa do governo afirma que energia pode ser aumentada já em 1,6% e vai crescer em 2013

Denise Luna
Lucas Vettorazzo

O uso das usinas térmicas para poupar os reservatórios das hidrelétricas já custou R$ 1 bilhão ao sistema e a conta pode superar R$ 1,6 bilhão em janeiro, segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema).
O custo a mais será dividido por todos os consumidores e será sentido pelos residenciais ao longo de 2013, conforme forem sendo feitos os reajustes anuais de tarifa.
Até lá, o custo a mais será assumido pelas distribuidoras. O período de pedidos de reajuste começa em 3 de fevereiro e o percentual depende do aval da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).
Segundo a Abradee (associação das distribuidoras), cada mês de térmicas a pleno vapor significa um ponto percentual de aumento na conta de luz. Por esse cálculo, a redução nas tarifas anunciada pela presidente Dilma Rousseff em setembro já estaria comprometida em quatro pontos -as térmicas estão ligadas desde outubro.
De acordo com o operador, em novembro foram gastos R$ 400 milhões com térmicas, e, em dezembro, R$ 600 milhões, valor que deve se manter em janeiro. Assim, em três meses o custo de operação pode chegar a R$ 1,6 bilhão.
A Abradee diz que o custo foi de R$ 650 milhões em novembro e de R$ 800 milhões em dezembro -R$ 1,4 bilhão em dois meses.
O ONS informou não ter contabilizado o gasto com a operação das térmicas em novembro e dezembro de 2011.
O custo da energia gerada pelas térmicas é maior por causa do combustível usado. Elas podem funcionar a gás natural, óleo diesel, óleo combustível, carvão, lenha, urânio e bagaço de cana.
Nos três primeiros casos, sofrem o impacto da alta dos combustíveis no mercado externo, principalmente do GNL (Gás Natural Liquefeito).
De acordo com o consultor Adriano Pires, a Petrobras já está tendo dificuldade de comprar GNL.
Fornecedores confirmaram a agências de notícias que a Petrobras está pagando um prêmio pelo produto, entre US$ 15 e US$ 17 o milhão de BTU (British Thermal Unit, unidade de medida usada para o combustível). A estatal revende a preços bem menores para as geradoras.
Em nota, a Petrobras informou que quanto paga pelo GNL é informação estratégica e não seria revelada.
Em seu balanço mais recente, do terceiro trimestre de 2012, a Petrobras informou que importava 54 mil barris de GNL por dia, ante 17 mil barris diários no mesmo período do ano anterior.
Cobertor Curto
Apesar de afastar o risco de racionamento, o presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), Maurício Tolmasquim, disse que o governo tem pouca margem de manobra se o consumo explodir.
Acrescenta, porém, que o país ainda poderia produzir mais 1.000 MW, acréscimo de 1,6% a toda a energia produzida no Brasil e 7,7% a mais no total das térmicas -640 MW virão de Uruguaiana (RS), desligada desde 2009.
Tolmasquim aponta ainda que "só neste ano vão entrar mais 9.000 MW no sistema". Em média, a capacidade do sistema elétrico subiu 4.000 MW nos últimos dez anos.
A energia mais cara afeta mais diretamente o consumidor industrial que precisa comprá-la no curto prazo.
O preço do KWh nesses casos passou de R$ 90, no verão de 2012, a R$ 555. Mas a maior parte das indústrias que têm uso intensivo de eletricidade faz contratações de longo prazo, com custos de R$ 110, diz Paulo Pedrosa, presidente da Abrace (associação dos grandes consumidores).
"É uma premissa do setor elétrico que se passe por situação de algum estresse."

Análise
Situação não é grave como em 2001, mas conta de luz vai subir

Luiz Pinguelli Rosa

Há um alarme, em parte exagerado e em parte justificado, sobre a situação crítica do sistema elétrico brasileiro.
De fato o nível de água nos reservatórios das hidrelétricas está muito baixo.
As chuvas escassearam, e a temperatura do oceano está fugindo do padrão conhecido, do tipo El Niño ou La Niña, dificultando as previsões hidrológicas.
É preocupante a possibilidade de que os níveis dos reservatórios não subam o quanto se espera.
Na região Sudeste, eles já estão abaixo de 30% e se aproximam do nível crítico estabelecido pela chamada curva de aversão ao risco.
A situação se diferencia daquela vivenciada em 2001, quando foi decretado um racionamento compulsório de energia elétrica.
Hoje há significativa capacidade instalada de usinas termelétricas operando em complementação às hidrelétricas, por determinação do Operador Nacional do Sistema (ONS), além das nucleares e de outras fontes, como eólicas -cujo custo baixou muito nos leilões mais recentes, embora muitas ainda não estejam operando por falta de conexão às linhas de transmissão.
A capacidade de acumulação de água nos reservatórios, que era plurianual, tem se reduzido relativamente à potência total, sendo hoje apenas suficiente para cerca de dois meses de geração.
Novas usinas hidrelétricas, como Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira, e Belo Monte, ainda em construção, são a fio d'água, praticamente sem reservatório de acumulação, visando minimizar os impactos ambientais.
O intenso calor deste verão tende a aumentar o consumo de energia, especialmente pelo uso do ar-condicionado.
Ademais a melhor distribuição de renda, com o aumento do contingente da classe C, ampliou o acesso das famílias aos eletrodomésticos, fato coadjuvado pelo crédito e pelo estímulo fiscal concedido pelo governo.
Isso contribui para o maior consumo de energia elétrica, embora o modesto crescimento da economia no ano passado não tenha agravado a situação.
O elevado custo de geração das usinas termelétricas, muitas delas absurdamente caras, de baixa eficiência e consumindo óleo combustível e até óleo diesel -em vez de gás natural-, terá impacto nos preços.
Assim, vai diminuir o efeito da redução de tarifa estabelecido pela medida provisória que baixou a receita principalmente das subsidiárias da Eletrobras, que possuem hidrelétricas antigas, consideradas em boa parte amortizadas.
A operação das termelétricas poderia ter sido um pouco antecipada para evitar que o nível dos reservatórios ficasse tão baixo.
Luiz Pinguelli Rosa é diretor da Coppe/UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Bolívia aumenta em 38% venda de gás ao Brasil

A estatal petrolífera boliviana YPFB afirmou que aumentou em 38% o envio de gás natural para o Brasil em dezembro em relação ao mesmo mês de 2011.
"O Brasil está exigindo o máximo do volume [de gás natural] estabelecido em contrato devido à alta demanda por geração térmica sempre que os níveis dos reservatórios ficam baixos", afirmou Jorge Sosa Suárez, diretor da YPFB.
Na média, a Bolívia exportou 31,6 milhões de metros cúbicos/dia de gás ao Brasil no mês passado. No pico, em 21 de dezembro, a YPFB enviou 32,6 milhões.

"Não estamos trabalhando com a possibilidade de racionamento. As chuvas estão por vir e tem energia nova entrando" Maurício Tolmasquim, presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética).
"É uma premissa do setor elétrico que se passe por situação de algum estresse" Paulo Pedrosa, presidente da Abrace (associação dos grandes consumidores).
"Temos geração e transmissão. Nenhuma hipótese de racionamento" Márcio Zimmermann, secretário-executivo de Minas e Energia.

FSP, 09/01/2013, Mercado, p. B1

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/87683-custo-de-termicas-ja-ult…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/87687-situacao-nao-e-grave-com…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/87684-bolivia-aumenta-em-38-ve…

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