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Curso de línguas indígenas

Diário do Pará-Belém-PA
18 de Ago de 2003

A formação de um fórum gestor para encaminhar a implantação de um curso livre de línguas indígenas e o gerenciamento do Memorial dos Povos Indígenas, que a Prefeitura de Belém (PMB) está construindo na orla da cidade, foram as principais decisões tomadas durante a plenária indígena do Congresso da Cidade, que se encerrou ontem, no auditório do Palácio Antônio Lemos.
Além de representantes de instituições públicas ligadas à questão indígena, participaram índios que vivem em Belém e alguns residentes em aldeias das etnias kaiapó, tembé e munduruku.
O fórum gestor terá representantes da UFPA, Funai, Funasa, Museu Emílio Goeldi, Cimi, PMB, de índios que vivem nas aldeias e conselheiros indígenas do Congresso a Cidade.
Para a viabilização do curso livre de línguas indígenas, os participantes da plenária consideram que o aprendizado da língua e cultura indígenas é uma forma de fortalecer a relação entre os índios que moram na cidade e os das aldeias, além de proporcionar uma oportunidade para aqueles que já incorporaram a cultura do branco retomarem o contato com sua origem.
Foi proposto também que o curso seja estendido para professores do ensino público fundamental, porque isso ajudaria os educadores a entender melhor as crianças indígenas. Além do mais, a Semec deveria incluir no currículo escolar a história dos povos indígenas amazônicos.
Outra decisão tomada é que o curso deverá ser aberto a todos os interessados e ministrado através de oficinas culturais de múltiplas etnias, sendo que a escolha das línguas ficaria a cargo das comunidades indígenas.
Memorial vai gerar oportunidades de emprego
Durante os dois dias de debates, os participantes também discutiram o papel do Memorial dos Povos Indígenas, que será inaugurado em outubro, no meio do lago do projeto Ver-o-Rio, na orla de Belém.
A obra, de 150 metros quadrados e orçada em R$ 450 mil, segundo o arquiteto José de Andrade Rayol, coordenador de projetos especiais da PMB, vai servir de espaço de demonstração da cultura indígena e manifestações de arte de não índios, mas com temática indígena.
"No memorial, os índios vão contar com oficinas para a produção de artesanato e instrumentos musicais, além de poder demonstrar seus rituais, danças e narrar suas histórias, mas também realizar fóruns e debates sobre os problemas indígenas", destacou.
Para os não índios, Rayol disse que o memorial terá também a função de conscientizá-los sobre a importância da cultura indígena na história de Belém.
Outra finalidade do memorial, segundo Rayol, é proporcionar geração de renda para os índios. Como o espaço fica no meio de um lago, os índios vão poder oferecer passeios de canoa e pescaria. "A preservação da riqueza cultural também passa pela sustentabilidade econômica dos povos indígenas que vivem na cidade", disse o arquiteto.
Os participantes da plenária também concordaram que o memorial deve ter a função de promover a cultura indígena e ter uma gestão coletiva de gerenciamento, com a participação dos índios, da PMB e de entidades ligadas à questão indígena.
No final do encontro, os integrantes do fórum gestor que vai encaminhar as decisões tomadas foram aclamados pela plenária. Os representantes indígenas fizeram um ritual de saudação e falaram sobre a importância de participar de decisões que visam promover a cultura indígena.
O índio Tonjaikuwa Kaiapó, da aldeia Kubenkankrei, de Redenção; disse em sua língua estar muito satisfeito em participar do encontro e agora vai relatar para as comunidades de sua aldeia e convidar as lideranças para participarem do Congresso da Cidade.
Já o índio João Saul Munduruku, da aldeia Patauazal, de Jacareacanga, também em sua língua de origem, falou que é a primeira vez que participa de uma atividade do Congresso da Cidade. Encerrando a plenária, houve um ritual de despedida, comandada por Francisco Lima Tembé, da Aldeia Itaputera, localizada no rio Guamá, município de Capitão-Poço. Ao som de cantigas e maracás, os índios percorreram as dependências do palácio saudando os participantes.

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