VOLTAR

Cultivo de florestas promove ganho social

OESP, Negócios, p. B20
02 de Mar de 2005

Cultivo de florestas promove ganho social
Experiência brasileira vai embasar código de boas práticas para orientar a indústria

Andrea Vialli

A indústria brasileira de base florestal - celulose e papel, madeira serrada, móveis, siderurgia - está se mobilizando para mostrar seu impacto também no quesito responsabilidade social. E está prestes a mostrar ao resto do mundo o know-how brasileiro no cultivo de florestas, por meio da FAO, órgão das Nações Unidas voltado para as questões de alimentação e agricultura.
Está em elaboração o Código de Boas Práticas para Florestas Plantadas, documento que trará as diretrizes sobre como a indústria poderá conciliar o uso econômico das florestas com o desenvolvimento das comunidades no entorno das áreas cultivadas, sem danos ao meio ambiente. Para isso, foi criado um comitê consultivo no âmbito do Departamento de Florestas da FAO, formado por representantes dos segmentos empresariais de base florestal. As reuniões para o rascunho daquele que será um "código de conduta" para o setor no mundo todo terão a participação de organizações ambientalistas, como o WWF, e de sindicatos.
A meta do comitê, presidido pelo empresário brasileiro Bóris Tabacof, vice-presidente do Conselho Administrativo da Suzano Papel e Celulose, é avançar com os trabalhos no decorrer deste ano, para que em 2006, quando termina sua gestão, o código esteja pronto. O objetivo é que este seja adotado não só pela indústria de base florestal, mas que sirva de modelo para a adoção de políticas públicas no mundo todo.
"À medida que o Brasil foi se tornando um dos mais importantes 'players' no mercado internacional de celulose e papel, percebemos que tínhamos de compartilhar com outros países nossa experiência com florestas plantadas", afirma Tabacof. Ele ressalta que a elaboração do código de conduta é uma oportunidade ímpar para a indústria brasileira mostrar que está engajada na luta contra o desmatamento ilegal, que é um dos pontos focais do documento. A certificação florestal, a questão das mudanças climáticas e a redução da pobreza por meio das florestas serão outros temas-chave.
Uma vez pronto, o código será encaminhado para a ONU e depois aos países membros, que poderão adotá-lo em caráter voluntário. Ele terá "grande efeito moral e mercadológico para as empresas", na avaliação de Tabacof. "Em relação ao corte ilegal de madeira, ele poderá embasar um tratado internacional".
Um dos mecanismos de combate à pobreza que a FAO quer estimular com o código de boas práticas é o fomento florestal. Nessa modalidade de plantio, pequenos e médios agricultores passam a cultivar eucaliptos e pinus a partir de mudas e apoio técnico oferecidos pelas empresas. Depois, tornam-se fornecedores de matéria-prima para a indústria.
O fomento florestal está tomando força e se revela uma eficaz alternativa de geração de renda no meio rural, além de ser estratégico para as empresas, que passam a investir menos na aquisição de novas terras para a silvicultura. Dados do Programa Nacional de Florestas (PNF) do governo federal apontam para um aumento da área de plantios fomentados no ano passado. A área destinada ao plantio de florestas no País inteiro foi de 465 mil hectares. Destes, 85 mil hectares originaram-se de programas de fomento, coordenados por empresas e outras instituições, geralmente em pequenas e médias propriedades.
"Um dos grandes méritos do fomento é socializar o plantio do eucalipto, de modo que este não se concentre em grandes propriedades", afirma Luiz Cornacchioni, gerente de Recursos Naturais da Suzano. "Em alguns casos, a silvicultura se apresenta como mais um uso para a terra, ao lado de outras atividades como fruticultura, gado ou criação de avestruz", diz.
Neste ano, a Suzano está aumentando seu programa de fomento, que hoje envolve em torno de 1,1 mil proprietários de terra em São Paulo e na Bahia, suprindo 15% das fábricas de Suzano e Rio Verde (SP) e 10% da unidade de Mucuri (BA). A expectativa é que até 2008 o fomento atenda 25% da demanda da empresa. A previsão de recursos para o fomento neste ano é R$ 62 milhões, sendo R$ 29 milhões para custeio dos plantios e R$ 33 milhões para compra de madeira dos produtores.
CARBONO
Outra alternativa de geração de recursos a partir de florestas é a negociação de créditos de carbono no mercado internacional, agora com o Protocolo de Kyoto em vigor. Em Minas Gerais, o Grupo Plantar, que atua nas áreas de reflorestamento e siderurgia (produção de ferro-gusa), foi um dos pioneiros na elaboração de projetos de crédito de carbono a partir de áreas reflorestadas.
Durante as primeiras articulações do acordo, em 1997, a empresa aproveitou o trabalho de reflorestamento - desenvolvido desde 1967 e que emprega 9 mil trabalhadores na região de Curvelo - e desenhou um projeto de 28 anos junto ao Prototype Carbon Fund, do Banco Mundial, para a compra dos certificados de emissão reduzida.
O projeto abrange tanto o plantio florestal, numa área de 23,1 mil hectares, como o uso do carvão vegetal na siderurgia, considerado um combustível mais limpo que o mineral, explica Luiz Carlos Goulart, gerente de Desenvolvimento Socioambiental do Grupo Plantar. Agora, a empresa acerta a documentação do projeto para encaminhá-lo ao Comitê Executivo das Nações Unidas, com vistas a oferecer os certificados no mercado internacional. "Esse mercado está agitado e poderemos conseguir até US$ 10 por tonelada de CO2", diz Goulart.

Floresteca planta árvores onde a soja ainda não entrou
Madeira: A teca, árvore nativa do Sudeste Asiático e bastante procurada para a fabricação de móveis, está incrementando a economia da região de Cáceres, no Mato Grosso, perto da Bolívia. A Floresteca Agroflorestal apostou há dez anos no plantio da árvore em áreas antes degradadas pela pecuária extensiva - atividade econômica mais comum na região - e já exporta a madeira para a Europa e Estados Unidos. Com 20 mil hectares cultivados, a Floresteca é considerada a maior empresa privada de reflorestamento de teca no mundo, e surgiu como uma alternativa para a economia estagnada da região. "Estamos onde a soja ainda não chegou", diz o diretor administrativa da Floresteca, Silvyo Coutinho. A atividade de reflorestamento possibilitou a criação de 1,2 mil empregos diretos, com salários-base em tomo de R$ 400.
Apesar do incremento à economia local, o negócio de reflorestamento de teca ainda não atingiu o ápice, visto que a madeira mais valorizada é a mais velha - por volta de 25 anos. Por enquanto, a empresa comercializa a madeira oriunda dos desbastes, que são cortes programados de árvores mais jovens. A produção atual é da ordem de 100 mil m3/ano, usadas primordialmente para serraria e lenha. "A teca mais jovem ainda não tem tanto mercado, mas estamos trabalhando para desenvolver esse nicho", afirma Coutinho. Por conta disso, o preço do metro cúbico ainda varia muito, especialmente no mercado internacional. Já a teca com mais de 25 anos chega a valer até US$ 1.500 o metro cúbico, devido ao fato de a madeira ser resistente e ideal para usos como a construção naval e a fabricação de móveis para jardim. A empresa apostou ainda na certificação do Forest Stewardship Council (FSC), o selo que atesta o correto uso dos recursos florestais, para alavancar os negócios no mercado externo. "Ainda não notamos um prêmio financeiro para a teca certificada, mas existe uma preferência de mercado, principalmente nos países europeus", diz Coutinho.

FSP, 02/03/2005, Negócios, p. B20

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.