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CSN expôs famílias a metais pesados, diz governo do Rio

FSP, Cotidiano, p. C1, C6
05 de Abr de 2013

CSN expôs famílias a metais pesados, diz governo do Rio
Segundo secretaria, funcionários da companhia vivem em área contaminada
Terreno tem substância cancerígena, aponta laudo; companhia diz que não há perigo para os moradores

DIANA BRITO DO RIO

Um terreno cedido pela CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) para funcionários construírem suas casas em Volta Redonda (RJ) está contaminado com metais pesados e substância cancerígena, acusou ontem o governo fluminense.
Análise feita por um órgão estadual afirma que o solo da área onde vivem hoje 2.200 pessoas representa risco à saúde dos moradores.
"Tem um monte de gente morando em cima de um coquetel de lixo químico", disse Carlos Minc, secretário estadual do Ambiente.
Minc classificou a contaminação do terreno como "gravíssima" e disse que a companhia pode ser multada em até R$ 50 milhões.
A CSN alega que estudos contratados por ela mostram que não há perigo aos moradores.
RISCOS
De acordo com o governo do Estado, pelo menos 750 moradores do condomínio Volta Grande 4 devem sair imediatamente do local.
Alguns relatam a ocorrência de problemas respiratórios, mas, de acordo com Minc, não é possível dizer se os moradores "estão doentes ou não". Eles devem passar por avaliação médica.
Para especialistas, pessoas submetidas à exposição de metais pesados precisam ser acompanhadas por um longo período.
Os metais são usados no processo siderúrgico e incluem cádmio, cromo, chumbo e ascarel -óleo cancerígeno que resulta da mistura de derivados de petróleo.
O secretário do Ambiente informou que há plantações de acerola, laranja e coco para consumo dos moradores no terreno contaminado.
O governo notificou o Ministério Público e a 3ª Vara Cível de Volta Redonda, para eventuais ações judiciais.
Minc disse que também cobrou da CSN a remoção do lixo siderúrgico enterrado, a indenização e a análise clínica dos moradores.
HISTÓRICO
Parte do terreno serviu como depósito de resíduos siderúrgicos entre 1986 e 1999.
A primeira suspeita de que a área estaria contaminada surgiu em 2004, após denúncias de moradores.
O governo do Estado informou que não vistoriou a região na época porque "não existia metodologia específica em caráter nacional para fazer a avaliação".
O terreno contaminado fica próximo ao rio Paraíba do Sul, que abastece grande parte do Estado. Mas não há comprovação de que ele foi atingido pelos resíduos, disse o secretário do Ambiente.

Outro lado
Estudos não apontaram risco à saúde, afirma CSN
Companhia Siderúrgica Nacional diz que realizou mais de cinco análises no terreno e não detectou perigo

DO RIO

A CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) disse ontem, por meio de nota, que nos últimos 13 anos já foram realizados "mais de cinco amplos estudos" no solo do bairro Volta Grande 4, em Volta Redonda, e que em nenhum foi constatado risco iminente à saúde dos moradores.

Segundo a empresa, todos os estudos que ela contratou foram feitos "sob supervisão dos órgãos ambientais".

Na nota, a CSN afirma ainda não ter conhecimento do conteúdo do laudo feito pelo Inea (Instituto Estadual do Ambiente) e divulgado ontem pelo governo do Rio.

Um dos estudos de terreno mais recentes foi feito no ano passado pela Nickol do Brasil, contratada pela empresa.

Em julho do ano passado, o Ministério Público Federal entrou com uma ação civil pública contra a CSN sob a acusação de contaminação do solo do local.

Na época, a assessoria da companhia siderúrgica informou que a área vinha sendo monitorada desde 2000.

DESGASTE

As acusações contra a CSN ocorrem no momento em que a empresa é interessada na aquisição de uma siderúrgica na zona oeste do Rio sob a oposição do governo Sérgio Cabral (PMDB) -com quem já enfrentou desgaste.

A CSN, do empresário Benjamin Steinbruch, e a ítalo-argentina Ternium são as principais interessadas na compra da CSA (Companhia Siderúrgica do Atlântico).

Os ítalo-argentinos têm a preferência do governo estadual. Cabral já tentou diversas vezes, sem sucesso, trazer de volta para o Rio o comando da CSN, transferido por Steinbruch para São Paulo. Há o receio de que, comprando a CSA, o empresário repita o procedimento.

Placas em condomínio dão sinais de alerta sobre contaminação
ENVIADO ESPECIAL A VOLTA REDONDA

Moradores do Volta Grande 4 estavam assustados ontem com as notícias sobre a contaminação do terreno -que receberam pela imprensa, e não pelo Estado.

Mas placas espalhadas pelas ruas do condomínio (formado por casas de classe média) já davam alguns alertas à população do local -estimada em 2.200 habitantes.

Uma delas informa que o solo tem "restrição de uso", com "potencial risco à saúde" caso seja usado para "cultivo de vegetais" ou se faça "uso de água de poço".

As placas foram fixadas pela CSN há mais de um ano, segundo moradores.

Eles pedem para não serem identificados por serem funcionários ou ex-funcionários da siderúrgica, mas dizem que em 2000 duas casas do condomínio foram demolidas por estarem sobre um antigo depósito de ascarel, produto cancerígeno.

Na área foi construído um campo de futebol onde crianças costumam brincar.

A professora de história Cenilda Pereira Brasil, 41, credita um aborto que sofreu há alguns anos e os problemas respiratórios do filho à contaminação do solo.

Segundo ela, em reunião entre moradores e representantes do Ministério Público, algumas mulheres relataram abortos, mas não foi provado vínculo com a contaminação.

Apesar de a área ter sido doada pela CSN, os moradores pagaram pela construção das casas financiada pela Caixa Econômica Federal.

"Enquanto ninguém passa mal, vou ficando", disse um funcionário aposentado, que pagou R$ 20 mil em 1999 pelo imóvel avaliado hoje em R$ 100 mil.
(LUCAS VETTORAZZO)

Sintomas de doenças podem demorar décadas

DO RIO

Moradores de áreas contaminadas por metais pesados podem levar décadas para apresentar sintomas de doenças e precisam ser acompanhados por longos prazos.

Segundo o neurologista André Felicio, da Academia Brasileira de Neurologia, a exposição a essas substâncias pode causar desde confusão mental até danos no sistema nervoso.

Além disso, diz, a exposição pode deflagrar doenças as quais os moradores já seriam normalmente suscetíveis, como mal de Parkinson e Alzheimer.

As crianças sofrem mais que os adultos. "Elas têm o sistema nervoso central ainda em desenvolvimento, mais vulnerável. Um bebê corre mais riscos que um idoso", afirma.

De acordo com ele, não há o que fazer agora, a não ser deixar a área e acompanhar caso a caso.

"As pessoas já foram expostas. Precisam é de um acompanhamento por décadas e décadas", diz.

Segundo a médica Aurea Aparecida Pascalicchio, pesquisadora do Instituto de Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e autora do livro "Metais Pesados", a demora no surgimento dos sintomas é um problema específico da contaminação por metais pesados.

"Os metais vão entrando no metabolismo e se acumulando. Nosso organismo tende a depositá-los perto de tecidos com funções de defesa, como o fígado. O cérebro também vira depósito."

Outra característica é a dificuldade de entender de onde vem a contaminação.

"Esses metais podem atingir lençóis freáticos e contaminar animais e vegetais usados para o consumo. Daí, esses metais podem até chegar ao leite materno e a um bebê."

Outro caso
Shell e Basf vão pagar ex-funcionários

Em março deste ano, as multinacionais Shell e Basf aceitaram indenizar 1.068 ex-funcionários da fábrica de pesticidas que funcionou em Paulínia entre 1977 e 2002, fechada após comprovação de que solo e água foram contaminados por substâncias cancerígenas.

FSP, 05/04/2013, Cotidiano, p. C1, C6

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/102231-csn-expos-familias-a-…
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/102232-estudos-nao-apontaram…
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/102233-placas-em-condominio-…
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/102234-sintomas-de-doencas-p…
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/102235-shell-e-basf-vao-paga…

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