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Crise da Abengoa deixa prejuízo de R$ 1 bilhão para indústria elétrica

O Globo, Economia, p. 24
09 de Jun de 2016

Crise da Abengoa deixa prejuízo de R$ 1 bilhão para indústria elétrica
Em recuperação judicial, empresa espanhola deve a fornecedores de obras do linhão da usina de Belo Monte

João Sorima Neto

O pedido de recuperação judicial da empresa espanhola de energia Abengoa, que levou suas subsidiárias no Brasil a seguirem o mesmo caminho, deixou um prejuízo avaliado em R$ 1 bilhão para a indústria do setor elétrico. Também criou um novo imbróglio para o governo brasileiro, que busca uma alternativa rápida para que as obras da companhia no país sejam retomadas, evitando gargalos na distribuição da energia, essencial para quando a economia voltar a crescer.
O principal ativo dos espanhóis é o chamado "pré-linhão" de Belo Monte, que vai escoar a energia da hidrelétrica, no Rio Xingu (PA), para o Nordeste, e tem 1.800 quilômetros de extensão, que exigiria investimento de R$ 1,3 bilhão. A empresa ganhou a concessão em 2012 e a obra devia ficar pronta em fevereiro último, o que não aconteceu.
- O impacto da paralisação das obras da Abengoa é significativo. Quanto mais se postergar as obras, pior para o sistema elétrico do país. O risco é ter a usina de Belo Monte em funcionamento e não ter como distribuir toda a energia - diz Thaís Prandini, diretora executiva e sócia da Thymos Energia, consultoria especializada no setor.

ANEEL COBRA R$ 225 MILHÕES DA ABENGOA
Com mais de um ano de atraso, Belo Monte começou a gerar energia comercialmente em abril apenas 5% de sua capacidade total de produção, de 11,2 mil megawatts. Se os atrasos não se ampliarem, a previsão é que a usina esteja operando a plena carga em 2019, tornando-se a terceira maior hidrelétrica do mundo em capacidade de geração.
Esta semana, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decidiu executar as garantias financeiras de dois contratos de concessão de linhas de transmissão firmados com a Abengoa. Os valores cobrados são de R$ 133 milhões e R$ 92 milhões e referem-se às obras do "pré-linhão" de Belo Monte. A agência informou que não houve acordo com os espanhóis.
Além da linha de Belo Monte, outros quatro mil quilômetros de linhas de transmissão que a Abengoa implantava no país foram paralisadas no início deste ano. Em março, o Operador Nacional do Sistema (ONS) estimou que o atraso nos projetos da Abengoa será de, no mínimo, dois anos.
Com isso, seus fornecedores deixaram de entregar equipamentos já prontos e ficaram com um papagaio bilionário nas mãos. Só no caso de Belo Monte, são pelo menos dez empresas, entre elas gigantes como a Siemens, de equipamentos elétricos. Também fazem parte do grupo fabricantes de torres de transmissão, subestações e cabos.
A Abinee, associação que representa a indústria elétrica e eletrônica, tem conversado com a Aneel e o Ministério das Minas e Energia em busca de uma solução que possa reduzir os prejuízos do setor. A ideia é que os equipamentos já prontos sejam utilizados, mesmo que os espanhóis não sejam mais os concessionários. Com isso, diz a Abinee, o atraso nas obras seria minimizado, assim como as perdas das empresas.
- São equipamentos feitos sob encomenda para os projetos e avaliados em R$ 1 bilhão. Não podem ir para estoque nem ser destinados a outras obras. Ainda não se chegou a uma solução para o caso Abengoa no governo, mas estamos otimistas, na medida do possível - diz Humberto Barbato, presidente da Abinee, que na semana passada esteve em mais uma reunião na Aneel.
Especialistas apontam duas alternativas para o caso Abengoa. Uma delas seria vender todos os ativos da empresa no país, tanto os projetos como as linhas de transmissão já em operação, que são sete. Segundo um consultor do setor, a estatal chinesa State Grid, que já investe aqui desde 2010 em projetos de transmissão de energia, chegou a avaliar o portfólio da Abengoa. Procurada, a State Grid não respondeu. A principal barreira para o negócio, diz, seria o preço dos ativos.
- A Abengoa tem mais de 3.300 quilômetros de linhas em operação, que geram receita, e tem quase 6 mil quilômetros em construção, que precisam de investimentos bilionários. Isso sem contar as dívidas com fornecedores. Será difícil chegar a um valor para esses ativos e a State Grid é a única com fôlego para um investimento tão grande - diz o consultor, lembrando que os chineses ganharam a concessão de dois linhões que levarão a energia de Belo Monte ao Sudeste do país.

CONCESSÕES PODEM TER NOVA LICITAÇÃO
Os chineses levaram as concessões com deságios de 5%, ao passo que a Abengoa propôs descontos de mais de 30% no preço fixado pelo governo para a energia transportada para o "pré-linhão" de Belo Monte, o que torna o negócio menos atrativo.
A outra alternativa, aponta Thaís Prandini, da consultoria Thymos Energia, é que o governo faça uma relicitação das concessões vencidas pela Abengoa. Para ela, esta é a alternativa mais viável, já que os ativos poderiam ter um valor mais atrativo.
Em comunicado, a Aneel confirma que essas opções - a solução de mercado, com a venda de ativos, e a caducidade das concessões da Abengoa - estão na pauta de discussões.
Fonte a par das conversas no governo diz que neste momento se está buscando uma solução que priorize a redução do atraso nas obras. A ideia é que seja criada uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) para tocar as obras da Abengoa. Alguns bancos já estão sendo consultados sobre a possibilidade de investir no projeto. Os próprios fornecedores de equipamentos participariam da gestão e a Abengoa ficaria de fora. Essa opção, contudo, esbarra na disposição dos bancos em investir nestas obras, já que os valores são elevados.

O Globo, 09/06/2016, Economia, p. 24

http://oglobo.globo.com/economia/crise-da-abengoa-deixa-prejuizo-de-1-b…

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