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Crise atinge aldeias indígenas de MT e há risco de novos conflitos

24 Horas News-Cuiabá-MT
Autor: Gérson Alves
20 de Out de 2005

A crise da agricultura em Primavera do Leste e nos municípios vizinhos está atingindo até as tribos indígenas e existe possibilidade de ocorrer novos conflitos entre os produtores rurais e os índios. Na terça-feira, a Associação da Comunidade Indígena Sangradouro publicou no jornal da cidade um aviso informando que alguns índios Xavantes da Aldeia Nhowi tinham furtado da Fundação Nacional do Índio (Funai) um motor estacionário que provavelmente seria vendido no comércio local.

No aviso, o cacique Patrício Tseredzabdi, pede a população que evitem comprar qualquer tipo de objeto dos índios, exceto produtos artesanais, porque podem estar adquirindo produtos furtados, o que é considerado um crime. Eles furtam os objetos e vendem para comprar combustível e comida.

Os pequenos furtos em fazendas começaram a ser praticados há mais de dois meses depois que o escritório da Funai de Primavera fechou as portas. O administrador do órgão foi transferido para outro município e até agora não foi nomeado outro substituto. A situação na cidade está bastante tranqüila, mas muitos produtores da região estão temerosos de que ocorram alguns conflitos e invasões nas propriedades. A possibilidade realmente existe e pode acontecer porque os índios deixaram de receber a ajuda da Funai e da Associação dos Produtores Rurais de Primavera do Leste (Asprim) que está sem recursos para manter o projeto agrícola nas áreas indígenas.

Atualmente, a Associação está trabalhando com uma inadimplência superior a 50% e não tem mais condições financeiras para manter funcionando a estrutura física e operacional. O aluguel da sede da Associação está atrasado, o telefone foi cortado, os salários dos funcionários atrasados e nos próximos dias o fornecimento de energia elétrica será cortado porque a instituição sequer possui recursos para manter as despesas.

Por causa da crise, grande parte dos 86 associados deixou de contribuir com a Associação e, como conseqüência, o plantio da próxima safra de milho e arroz, nas áreas indígenas que está prevista para ter início no próximo mês provavelmente não será cultivada. O coordenador da Asprim, Dorival Rossato, calcula que a Associação tem para receber mais de 100 mil reais dos associados, o que seria suficiente para fazer o plantio da safra. "Quando a Associação foi criada em 2003, os produtores assinaram um termo de responsabilidade e agora, por causa da crise, muitos não estão conseguindo cumprir o acordo", explicou Rossato.

O motivo pelo qual muitos produtores deixaram de contribuir com a Associação não é fruto só da crise, o problema maior na opinião do coordenador da Associação é que nos dois primeiros anos de trabalho os índios conseguiram colher uma boa safra. Agora os produtores querem que os índios andem com suas próprias pernas e, sem a ajuda da Associação, Rossato acredita que dificilmente eles vão conseguir fazer o plantio sem contar com o apoio dos produtores rurais. Até o preparo do solo que deveria ter iniciado no começo deste mês ainda não foi feito e, o coordenador não sabe mais o que fazer.

No final deste mês, a Associação vai realizar uma assembléia para discutir com os produtores rurais uma saída viável para que a ajuda aos índios seja mantida. "Vamos aguardar uma posição e espero que os produtores usem do bom senso e continuem dando todo apoio a este trabalho que vem sendo realizado", ressaltou Rossato.

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