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Crime ambiental organizado

O Globo - https://oglobo.globo.com/
Autor: RISSO, Melina; CALDERONI, Vivian
17 de Set de 2024

Crime ambiental organizado
Criminosos impulsionam o desmatamento e causam danos severos à biodiversidade e às populações da Amazônia

Melina Risso
Diretora de pesquisa do Instituto Igarapé

Vivian Calderoni
Coordenadora de programa e pesquisa do Instituto Igarapé

17/09/2024

O crime ambiental organizado é uma realidade complexa e profunda já instalada na Amazônia. As recentes queimadas em todo o país mostram o tamanho e a gravidade dessa ação. Além de questões amplamente discutidas, como desmatamento e queimadas, há aspectos criminais que precisam de maior atenção para um enfrentamento real do problema.

A análise de operações da Polícia Federal (PF) que tiveram foco em crimes ambientais na Amazônia brasileira entre 2016 e 2022 - realizada pelo Instituto Igarapé - revela dinâmicas profundas, como a dimensão transfronteiriça, a presença de forças de segurança na proteção dessas atividades ilícitas, o vínculo entre crimes ambientais e tráfico de drogas e o impacto nas Terras Indígenas.

Esses crimes não respeitam fronteiras nacionais. As operações mostram um padrão transnacional, especialmente na mineração ilegal, com empresários, capital e maquinário brasileiros envolvidos na compra ilegal de ouro da Venezuela ou na extração ilegal na Guiana Francesa, com lavagem no Brasil. Também há extração ilegal de ouro, diamantes e outras pedras no país, comercializados para nações vizinhas.

Das operações analisadas, 24 revelaram vínculos diretos entre crimes ambientais e drogas, desde a lavagem de dinheiro do tráfico na mineração ilegal até o uso de integrantes do narcotráfico na segurança de empreendimentos ilegais na mineração. A Operação Gold Rush ilustrou essa ligação, tendo movimentado mais de R$ 300 milhões em cinco anos.

Outro ponto alarmante é a participação de membros das forças de segurança na proteção a grileiros, madeireiros e garimpeiros ilegais. Essas milícias rurais operam paralelamente ao Estado, usando de intimidação e violência. A Operação Ojuara desarticulou uma rede que usava policiais militares para proteger áreas de desmatamento e expulsar comunidades indígenas e assentados.

Terras indígenas também são alvos frequentes de crimes ambientais. Em 2022, foram 69 operações da PF nesses territórios. A Operação Res Capta desarticulou um esquema de arrendamento de terras indígenas para criação de gado, envolvendo servidores públicos e policiais militares. A pressão sobre essas comunidades é imensa, e a diversificação das ações criminosas nesses territórios protegidos, incluindo mineração, extração ilegal de madeira e pecuária, adiciona novas camadas ao desafio de preservação dos povos e da floresta.

Os crimes ambientais na Amazônia impulsionam o desmatamento e causam danos severos à biodiversidade e às populações locais. Operam como um ecossistema criminal. É urgente uma abordagem integrada e sistemática para enfrentar a criminalidade ambiental na região. Fortalecer políticas públicas, marcos regulatórios, sistemas de monitoramento e ampliar a cooperação internacional é essencial para proteger a maior floresta tropical e as comunidades.

https://oglobo.globo.com/opiniao/artigos/coluna/2024/09/crime-ambiental…

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