VOLTAR

Crianças sateré-mawés ameaçadas

Diário do Amazônas-Manaus-AM
Autor: Naira Araújo
31 de Jan de 2006

Um dos grandes desafios do Brasil é conhecer a realidade dos povos indígenas, sobretudo das crianças, as primeiras vítimas da situação de abandono em que muitas comunidades se encontram. Para implementar políticas públicas direcionadas, o governo precisa fazer um levantamento sobre o modo de vida e as necessidades de cada povo. O desafio torna-se ainda maior para o Amazonas, estado que abriga a maior população indígena do País.

Em 2002, o Unicef apoiou a realização de um Diagnóstico Sociodemográfico Participativo da População Sateré-Mawé. O trabalho foi realizado em parceria com a Fundação Estadual de Política Indigenista do Amazonas (Fepi), Fundação Joaquim Nabuco, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Secretaria Estadual de Educação do Amazonas (Seduc), Fundo de População das Nações Unidas, Fundação Nacional do Índio (Funai), Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

O diagnóstico contou ainda com a participação de lideranças, professores, agentes comunitários de saúde e jovens estudantes sateré-mawés. Os resultados revelaram uma situação desconhecida e a necessidade de ações mais eficazes.

O estudo levantou 8,5 mil pessoas que se autodenominaram sateré-mawés, habitantes de 91 comunidades e áreas urbanas dos municípios de Maués, Parintins, Barreirinha e Nova Olinda do Norte, situados na região do Médio Amazonas.

Na área da saúde, o cenário encontrado foi considerado preocupante. Os níveis de fecundidade são altos: cada mulher tem aproximadamente oito filhos, o que requer atenção especial para a mulher e as crianças. Meninas de 13 anos já têm filhos e mulheres com mais de 49 anos continuam a ter bebês.

Apenas 34% das crianças de menos de 1 ano haviam sido registradas. Apenas 60,3% das mulheres que receberam atendimento pré-natal fizeram referência à verificação da pressão arterial e 45,2% se lembraram de ter sido pesadas. Esses dois procedimentos simples podem indicar problemas que põem em risco a saúde da mãe e do bebê.

O levantamento identificou o desaparecimento quase total da pesca e o fim gradativo da caça nas terras dos sateré-mawés. Esses fatores têm um impacto direto na dinâmica alimentar das comunidades e na nutrição das crianças.

Na área da educação escolar indígena, o diagnóstico encontrou um atendimento deficitário. Foram identificadas 148 crianças entre 7 e 14 anos que não freqüentam a escola. Não havia oferta regular das quatro últimas séries do ensino fundamental nem de ensino médio. Além disso, a taxa de escolarização nas quatro séries iniciais do ensino fundamental apresentou baixo percentual.

Com o diagnóstico, também foi possível identificar que a língua sateré-mawé corre risco de extinção. Nas comunidades do rio Ariaú, 60% dos habitantes já perderam o domínio de sua língua. E na região do Uaicurapá, 26% só falam português. Os resultados são indicativos claros de que as políticas de educação devem considerar o fortalecimento da língua sateré-mawé.

Os dados expostos acima estão no relatório Situação da Infância Brasileira 2006, do Unicef. A realização do diagnóstico já trouxe resultados positivos, o que incentivou o Unicef a apoiar estudos em áreas de outros povos.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.