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Crescimento depende de energia suja

OESP, Economia, p. B1
03 de Fev de 2007

Crescimento depende de energia suja

Renée Pereira

Com dificuldades para ampliar a oferta de energia no País, o governo encontrou nas termoelétricas uma forma de garantir o abastecimento da população e escapar de uma nova crise. Para isso, porém, deixou de lado o critério de energia menos poluente e abriu espaço para usinas movidas a combustíveis fósseis, como óleo diesel, carvão e gás natural, que aumentam o efeito estufa - conhecidas como 'energia suja'. A prioridade às térmicas ignora os alertas pessimistas sobre o futuro ambiental do planeta divulgados ontem na conferência 'Cidadãos da Terra', em Paris.

De acordo com dados apresentados pelo presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, em evento em São Paulo, e com base no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), pelo menos 23 térmicas devem entrar no sistema até 2010. Entre estas, porém, 8 serão movidas a bagaço de cana-de-açúcar, considerada energia renovável. Mas as maiores vão funcionar com óleo diesel, óleo combustível, carvão e gás natural. Todos poluentes.

Segundo a EPE, só em 2009 está prevista a entrada em operação de 18 termoelétricas com potência instalada de 1.993,6 MW. O avanço das termoelétricas não deve parar por aqui. A expectativa é que elas entrem com peso no próximo leilão de energia, em maio. De acordo com Tolmasquim, até 26 de janeiro, cerca de 16 mil MW haviam sido inscritos na EPE para participar da disputa.

Desses, 86% referem-se a usinas térmicas; 11%, a hídricas; e 3%, a pequenas centrais hidrelétricas. Isso não significa, porém, que todas as usinas vão participar do leilão, pois a habilitação dos empreendimentos dependerá do preço da energia.

'Está claro que a geração a óleo tem espaço no novo modelo', diz Marco Antônio Veloso, diretor-executivo da Associação Brasileira de Geração Flexível (Abragef), que reúne as usinas emergenciais contratadas no racionamento, em 2001, que deram origem ao seguro-apagão. Hoje, quase todas têm contrato de venda de energia. Para ele, qualquer usina que queima combustível é poluente, inclusive as que queimam bagaço de cana.

Mas, na opinião do ex-secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo José Goldemberg, o Brasil está na contramão da história, já que o mundo procura alternativas para diminuir a participação de fontes poluentes na matriz energética. Ele acredita que o aumento de térmicas decorre especialmente da dificuldade para conseguir licenças ambientais de hidrelétricas. 'A solução passa pelas compensações ambientais bem feitas.'

Grande parte dos projetos hidrelétricos que serão licitados nos próximos anos estão no Norte do País, onde os processos são mais complicados e polêmicos. 'Estamos preservando de um lado, ao impedir a construção de hidrelétricas, e poluindo do outro, com as térmicas.'

OESP, 03/02/2007, Economia, p. B1

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