VOLTAR

Cresce o uso de álcool e drogas entre índios de RR, diz Conselho Indígena

G1- http://g1.globo.com
Autor: Emily Costa
19 de Jul de 2014

"O consumo de álcool e drogas está crescendo entre índios das comunidades do estado", afirma o coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Ivaldo André. Segundo ele, o problema atinge diversas etnias, tem incidência entre jovens e resulta em violência. Para o antropólogo Luis Ventura, a disseminação no uso das substâncias desestrutura as comunidades e pode ter relação com descaso do governo e contato excessivo entre índios e não-índios.

De acordo com um relatório do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) divulgado na quinta-feira (17), seis mortes de indígenas foram registradas em Roraima durante o ano de 2013. Para André, o índice de consumo de maconha e de ácool é um dos motivos que levaram ao número. Ele afirma que a violência em geral, inclusive os homicídios são consequências do alcoolismo.

"O álcool faz a violência aumentar, porque os indígenas não têm o hábito de ingerir bebidas feitas pelos brancos e aí eles acabam perdendo o controle dos próprios sentidos. Somente no mês passado, por exemplo, pai e filho morreram em uma localidade do estado. Ambos ingeriram bebida alcoólica e se desentederam", ressaltou o coordenador.

Ele alega ainda que o alcoolismo e o vício em entorpecentes atinge todas as etnias do estado, mas é maior entre as comunidades que ficam próximas de Boa Vista, dos outros 14 municípios do estado e, sobretudo, daqueles que fazem fronteira com os países vizinhos. "Se há cidades perto, a compra das drogas fica mais fácil, por isso que as comunidades que fazem fronteira com a Guiana Inglesa e com a Venezuela são as mais afetadas", comentou.

Eles [garimpeiros] querem que os homens indígenas trabalhem para eles e que as mulheres das comunidades se prostituam."
vice-presidente da Hutukara Maurício Yekuana

Garimpeiros

Sustentando as afirmações do coordenador do CIR, o vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, Maurício Yekuana, vai além e afirma que o consumo de álcool e de drogas na Terra Indígena Yanomami é causado pela presença ilegal de garimpeiros na região.

"Os garimpeiros entram ilegamente e levam bebida alcóolica e drogas para os jovens indígenas. Eles [garimpeiros] querem que os homens indígenas trabalhem para eles e que as mulheres das comunidades se prostituam. Para isso, fazem os índios beberem e usarem maconha", relatou Yekuana.

Ainda conforme o vice-presidente, a falta de fiscalização colabora para o problema. "Tem que ter presença de policiais nas fronteiras da Terra, porque sem eles os garimpeiros não nos respeitam".

Apesar das denúncias dos indígenas, ainda não foram feitos levantamentos para mapear o uso das substâncias nas comunidades, mas a expectativa, conforme Yekuana, é que esses dados sejam registrados até dezembro de 2014. "Precisamos levantar os dados de consumo de álcool e drogas para que possamos combater o problema, Por isso, nós faremos esse mapeamento entre as comunidades durante o segundo semestre deste ano", frisou.

Impactos

De acordo com o antropólogo Luis Ventura, o uso de álcool e de drogas por parte dos indígenas não é uma situação recente. Ele defende que a disseminação do consumo é reflexo de um contato negativo e perverso entre índios e não-índios.

"É bastante claro que a disseminação das drogas entre os índios escapa ao controle da comunidade e causa danos pessoais, violência, mortes, fragilidade dos laços emocionais e desunião", explicou o especialista.

Ele acrescentou que o consumo pode ser resultado de deficiências nas interveções governamentais dentro das comunidades. "Desânimo, carência e ausência de atenção do poder público juntamente com os interesses externos por parte de empresários, garimpeiros e exploradores são fatores que podem ter contribuído para a popularização do álcool e das drogas", enfatizou o antropólogo.

Funai

Contatado pelo G1, o coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Yekuana da Fundação Nacional do Índio, João Catalano, destacou que os problemas relatados pelos indígenas só podem ser combatidos se houver intervenção do estado nas áreas afetadas.

"A Funai não pode trabalhar sozinha. É necessário que a Segurança Pública, a Educação e a Saúde de responsabilidade do estado atuem dentro das comunidades indígenas. Sem isso, é difícil lidar com a situação, pois a Funai não pode atuar em todas essas áreas", destacou Catalano.

http://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2014/07/cresce-o-uso-de-alcool-e…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.