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Cresce o número de crianças indígenas mortas em 13 regiões

OESP, Nacional, p. A13
Autor: Lisandra Paraguassú
10 de Mar de 2005

Cresce o número de crianças indígenas mortas em 13 regiões
Segundo diretor da Fundação Nacional de Saúde, nem todas as mortes estão relacionadas à desnutrição

Lisandra Paraguassú

A mortalidade entre crianças indígenas aumentou em 13 dos 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dsei, a divisão que o governo faz das nações indígenas, sem obedecer, por exemplo, o limite territorial dos Estados) do País entre 2003 e 2004, apesar de, na média nacional, os números estarem caindo desde 2002.
Naquele ano, a cada mil índios nascidos vivos, 55,7 morriam antes de completar um ano. Em 2004, foram 44,4 por mil.
Mas as crianças indígenas ainda morrem muito mais do que as não índias: os últimos dados da mortalidade infantil nacional apontam para 24 a cada mil nascidos vivos. De acordo com o ministro da Saúde, Humberto Costa, "as mortes estão dentro dos números que normalmente acontecem".
Os dados da Fundação Nacional de Saúde - responsável pela saúde indígena desde 1999, quando as ações da Fundação Nacional do Índio foram descentralizadas - mostram que no ano passado também morreu um número impressionante de crianças indígenas.
No Mato Grosso do Sul, onde ficam os guaranis-caiovás, no ano passado morreram 54 bebês indígenas, boa parte por doenças causadas ou agravadas pela desnutrição. Mas em outras regiões do País também há indiozinhos morrendo por problemas causados pela má alimentação. Os xavantes, no Mato Grosso, registram 32 mortes em 2004. Entre os ianomâmis foram 25. No distrito do leste de Roraima, 32.
"As causas são variadas. Nem todas as mortes são relacionadas com a desnutrição", afirma o diretor de saúde indígena da Funasa, Alexandre Padilha.
No entanto, no único distrito em que a Funasa já tem levantamentos sobre o índice de desnutrição indígena - justamente a aldeia dos guaranis-caiovás -, 12% das crianças estão desnutridas.
Até mesmo nas regiões Sul e Sudeste, mais ricas, os índios morrem mais.
A área denominada litoral sul, que inclui essa região dos Estados do Sul mais o Rio de Janeiro e São Paulo, teve o quinto pior índice de mortalidade entre os distritos no ano passado.
Sistema de trabalho
O atendimento de saúde das comunidades indígenas é feito por universidades, ONGs ou pelas prefeituras, através do repasse de recursos feito pelo Ministério da Saúde. No ano passado, a Funasa repassou R$ 115, 7 milhões para ONGs e universidades que contratam agentes de saúde e coordenam o trabalho.
Padilha explica que o trabalho com agentes permanentes da própria Funasa, contratados por concurso, não deu certo na maioria dos casos. Por serem as aldeias, na maior parte dos casos, longe das cidades, os agentes depois de pouco tempo pediam transferência por dificuldades de adaptação.
A Funasa supervisiona o trabalho das ONGs e universidades e, desde 2004, passou também a comprar diretamente e distribuir os medicamentos, equipamentos e outros insumos usados no atendimento.

PFL deve pedir explicação sobre gastos de fundação
Contas: A liderança do PFL no Senado deve ingressar com pedido para que a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) explique gastos em 2004 para Distritos de Saúde Indígena. Para o líder do PFL, José Agripino Maia (RN), esses gastos explicariam em parte o alto índice de mortalidade infantil entre grupos indígenas. Segundo o Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), a Funasa gastou ano passado R$ 5,4 milhões em passagens e R$ 1,6 milhão em remédios. O diretor do Departamento de Saúde Indígena, Alexandre Padilha, contesta os números. A Funasa informa ter gasto R$ 8,9 milhões com remédios.

OESP, 10/03/2005, Nacional, p. A13

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