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CPT afirma que maioria dos indígenas é favorável à homologação das terras Raposa-Serra do Sol

Adital-Fortaleza-CE
Autor: Rogéria Araújo
13 de Jan de 2004

Diante de tantas divergências e conflitos que vêm ocorrendo na área de Raposa-Serra do Sol, em Roraima, a Comissão da Pastoral da Terra (CPT) do Estado afirma que, mesmo havendo alguma divisão entre os povos indígenas, 75% deles - de um total de 15 mil indígenas que moram na região - são a favor da homologação em área contínua.

Segundo o coordenador da CPT, Ralf Albert Weissenstein, apenas 25% dos índios são contrários à assinatura da homologação, anunciada pelo Ministério da Justiça e confirmada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva recentemente. "Os 75% dos indígenas são vinculados ao Conselho Indígenas de Roraima (CIR) e são a favor da homologação", afirmou.

Weissenstein afirma ainda que, provavelmente, a minoria dos indígenas esteja ligada aos grandes fazendeiros da região. "É difícil de comprovar. Mas a gente acha que fazendeiros, arrozeiros, comerciantes e políticos locais estejam por trás das ações dos índios contrários a essa assinatura. Mas não há como provar. O que a gente sabe é que o Conselho, que controla a maioria das malocas lá dentro, tem mais de 70% de apoio", disse.

Em Roraima, mas precisamente na capital, Boa Vista, o tratamento dado pela imprensa local é claramente baseada na posição contrária à homologação por parte, sobretudo, de muitos políticos e do próprio Governo do Estado.

"Nos dois jornais mais importantes (Brasil Norte e Folha de Boa Vista) políticos se posicionam contra a homologação Raposa-Serra do Sol em área continua. O interessante, agora, é que o governador (Flamarion Portella) não aparece mais tanto na mídia local com relação a esse assunto. Quem mais tem se posicionado, de forma contrária, é o vice-governador, Salomão Cruz".

Recentemente, declarações do PT Regional - que é favorável à homologação - causaram sérios atritos entre o Estado e o governador que, segundo a CPT, é contra. Flamarion está licenciado do Partido, mas ainda não se desligou completamente da legenda.

Além das divergências políticas, os conflitos também estariam sendo desencadeados por diferenças religiosas na região, precisamente entre católicos e evangélicos. Sobre esse assunto, o coordenador da CPT, afirmou apenas que a Igreja Católica e a diocese de Roraima estão apoiando a posição da maioria dos indígenas. "As diversas Igrejas evangélicas, pelo menos não é do meu conhecimento, não se posicionaram sobre o assunto oficialmente. Somente um deputado federal, que foi eleito pelos evangélicos, pertencente à Assembléia de Deus, se posicionou contrário à homologação".

Desde o último final de semana, a situação se normalizou em Roraima. Os prédios da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) foram desocupados. Da mesma forma, as rodovias - que ficaram por quatro dias bloqueadas - foram liberadas. Tudo, segundo informou Weissenstein, aconteceu de forma pacífica, sem nenhum ato de violência de nenhuma das partes. Desde ontem, não há em Roraima, nenhum tipo de manifesto.

Mas, segundo divulgado na imprensa de Roraima, os indígenas contrários à homologação devem seguir esta semana para Brasília com o objetivo de "pressionar" o Governo Federal a não assinar a homologação.

"Os argumentos deles é que a homologação em área contínua vai gerar um isolamento dos índios. Não vai haver cooperação entre brancos e índios, não vai haver investimentos dentro da área indígena. Eles alegam também que eles vão ser condenados a produzir de maneira primitiva e que os índios Macuxis, que formam a maioria, estariam bem aculturados em comparação aos outros. Alguns políticos disseram também que com a homologação da área continua seria criado pelo Governo Federal o primeiro zoológico humano", afirmou.

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