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CPI quebra sigilos de fazendeiros no Para

JB, Pais, p.A7
24 de Fev de 2005

CPI quebra sigilos de fazendeiro no Pará
Polícia Federal fecha o cerco sobre acusado de encomendar morte de freira

Sem-teto, sem terra, estudantes e ambientalistas protestaram em frente à Alerj, pedindo justiça no caso do assassinato de Dorothy

ALTAMIRA e BRASÍLIA - A CPI da Terra quebrou ontem os sigilos bancário, fiscal e telefônico de nove madeireiros que atuam no sul e no sudeste do Pará, incluindo o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, procurado sob a acusação de ter encomendado o assassinato da missionária Dorothy Stang, ocorrido no último dia 12 em Anapu (PA). As polícias Federal e Civil fecharam o cerco sobre Vitalmiro, conhecido também como Bida, e ampliaram a área de busca ao suspeito.

Segundo o presidente da comissão, Álvaro Dias (PSDB-PR), a comissão quer saber se houve uma cotização entre fazendeiros da região para o pagamento dos pistoleiros que mataram a freira; conhecer as ligações telefônicas que possam ter feito entre si ou para os matadores e averiguar possível conexão entre a grilagem de terras na região e as fraudes contra a antiga Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia, a Sudam.

- Com essa medida passamos a investigar um elo entre o crime contra Dorothy e a Sudam. Pedimos para reforçar a assessoria técnica da CPI - contou o senador.

O relator da comissão, João Alfredo (PT-CE), agenda viagem ao Pará para que a comissão ouça 17 pessoas, incluindo os fazendeiros. Em depoimento reservado prestado à comissão em maio de 2004, a própria missionária havia levantado a conexão entre a grilagem e a Sudam. Declarou aos integrantes da comissão, em audiência realizada em Altamira (PA), que 17 madeireiros em disputa por terras com assentados em Anapu haviam tomado mais de R$ 100 milhões em empréstimos da Sudam. O dinheiro teria sido aplicado indevidamente, denunciou a missionária.

Dois dos madeireiros que ontem tiveram os sigilos quebrados, Regivaldo Pereira Galvão e Laudelino Délio Fernandes Neto, são réus na mesma ação movida pela Ministério Público Federal contra o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA) por supostas irregularidades na aplicação de recursos da Sudam. A ação tramita no Supremo Tribunal Federal.

O nome de Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, também foi mencionado várias vezes por irmã Dorothy em depoimentos à CPI e à Polícia Federal do Pará e em cartas que enviou para órgãos do governo federal por meio da Procuradoria da República em Belém.

Os caminhos de Taradão e do fazendeiro Vitalmiro Moura se cruzam várias vezes em relatos de violência, desmatamentos e trabalho escravo na região. Ambos foram alvo de um mesmo pedido de prisão temporária feito pela Polícia Federal no ano passado e rejeitado pela Justiça Federal de Marabá.

A quebra de sigilo aprovada pela CPI volta a pôr em dúvida o nome de Vitalmiro. Segundo a comissão, a pessoa que terá seus sigilos quebrados foi confirmada pela Receita Federal como sendo ''Vitalmiro Gonçalves de Moura''. Mas em outros documentos oficiais, como autos de infração emitidos pelo Ibama em agosto, o fazendeiro aparece como ''Vitalmiro Bastos de Moura''.

A PF recebeu informações de que Vitalmiro estaria escondido em Goiás.

- Há 85% de chance de capturá-lo até o próximo fim de semana - disse o perito criminal da PF, Antonio Carlos Figueiredo dos Santos.

Advogado do acusado, Augusto Septimio disse à PF que seu cliente se entregará nos próximos dias. Na terça-feira, Septimio havia dito que o fazendeiro só se entregaria após a conclusão do inquérito.

- Estamos muito próximos de prendê-lo. Ele tem mais de 2.800 cabeças de gado na fazenda dele. Se ele não aparecer, vai ter todos os bens apreendidos no futuro - disse o delegado Waldir Freire, da Polícia Civil.

JB, 24/02/2005, País, p.A7

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