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CPI das ONGs: Dinheiro da Associação Amazônia entrou irregularmente

Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR
Autor: Jessé Souza
20 de Jun de 2002

O vice-presidente da Associação Amazônia, Luís Antonio Nascimento de Souza, admitiu ontem que os recursos utilizados para a compra de 172 mil hectares de terras no sul de Roraima ingressaram irregularmente no Brasil. A confirmação foi feita em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a atuação no país das organizações não-governamentais (Ongs).
Os US$ 70 mil usados pela associação para adquirir a posse das terras da comunidade local foram trazidos ao país em espécie e trocados por reais em casas de câmbio da região Norte, segundo Souza, conforme informou a Agência Senado.
No depoimento, ele afirmou que entre os maiores doadores de recursos à associação estão o cidadão italiano Roberto Imperiale, encarregado de trazer os dólares, e entidades como sindicatos italianos e a ONG inglesa Guardiães da Floresta.
A associação pretende implantar na região uma área de proteção ambiental ou uma reserva extrativista e que solicitou a oficialização da posse ao Instituto de Terras de Roraima (Iteraima). Luís Antonio Nascimento de Souza disse ser contrário a biopirataria e anunciou que a entidade advertiu o único turista estrangeiro que teria levado para seu país um besouro nativo do local.
No depoimento, o senador Moreira Mendes (PFL-RO) quis saber do dirigente da ONG como ele via o fato de uma associação que ocupa 172 mil hectares na Amazônia ser presidida por um estrangeiro - o escocês Cristopher Clark - que possui apenas visto de turista no Brasil.
Ele respondeu dizendo não ver problemas na nacionalidade de Clark, uma vez que a entidade é nacional. "Nos Estados Unidos, esse senhor Clark estaria preso, por presidir uma associação com visto de turista. Só no Brasil para acontecer isto", retrucou o senador Mendes.
A senadora Marluce Pinto (PMDB), relatora da comissão, afirmou que em recente viagem à região conversou com políticos locais e nenhum deles tinha conhecimento de nenhum trabalho em favor da comunidade exercido pela Associação Amazônia.
O dirigente comentou que a entidade paga o salário de um professor na comunidade de Samaúma e relatou que acaba de adquirir dois barcos para a população local por R$ 20 mil com recursos que entraram no Brasil de forma oficial.
Souza afirmou que sua maior preocupação era com o atendimento das populações ribeirinhas carentes. "Existe ali uma quase absoluta ausência do Estado", criticou.
Ao ouvir esta afirmação, o presidente da CPI, senador Mozarildo Cavalcanti (PFL-) afirmou: "A ausência do Estado não justifica ações que firam a lei". O senador roraimense observou ainda que, ao final dos trabalhos, a comissão pretende sugerir uma nova legislação que regulamente a atuação no Brasil das organizações não-governamentais.

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