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Corte de emissões de 40%

O Globo, Ciência, p. 28
10 de Nov de 2009

Corte de emissões de 40%
Governo diz que apresentará número concreto em Copenhague, mas não meta

Soraya Aggege e Lino Rodrigues São Paulo

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, anunciou ontem que o governo apresentará, até o próximo dia 14, um "objetivo voluntário e consensual" de redução das emissões de gases de efeito estufa na faixa dos 40% até 2020, a ser levado para o encontro mundial da ONU sobre mudanças climáticas, na Dinamarca, em dezembro. A redução é relativa ao total de emissões projetado para 2020, caso nada for feito.

O anúncio foi feito depois de uma longa reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e vários ministros com cientistas, ONGs e entidades empresariais e de trabalhadores, que chegaram a um consenso.

- Não estamos muitos distantes disso: 38%, 42%. O número que será apresentado será o factível e ainda faltam alguns cálculos.

Só assumiremos o que for realmente possível. E não apresentaremos metas, pois essas devem ser apresentadas pelos países do Anexo 1 (maiores emissores), mas sim objetivos voluntários e consensuais - disse a ministra-chefe.

Secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas e responsável pela coordenação da reunião, o diretor da Coppe, José Pinguelli Rosa, afirmou: - Não importam os termos, se é meta ou se é objetivo. O importante é que, pela primeira vez, o governo não desmaiou ao ouvir nosso pedido de 40% de redução e o número ficará em torno disso.

Dilma afirmou que, durante a reunião na Dinamarca, o Brasil terá uma posição muito clara ao afirmar sua condição de ser um dos países mais comprometidos com a energia renovável e a redução de desmatamento: - As medidas permitirão que o governo esteja bastante forte. Então, já somos um exemplo para o mundo. Mas o fato de anunciarmos um objetivo expressivo não impede que saibamos que os responsáveis são os países desenvolvidos - disse a ministra
Crescimento é calculado entre 5% e 6%
A estimativa de corte nas emissões de CO2 leva em consideração um crescimento econômico entre 5% e 6%. Dependendo da conta, a redução de 40% em relação à projeção do crescimento das emissões equivale a um equilíbrio nos lançamentos: ou seja, chegaríamos a 2020 com aproximadamente o mesmo volume de lançamentos que tínhamos em 2005, um avanço considerável, segundo especialistas.

Já está acertado que o país vai reduzir o desmatamento em 80%, o que contribuirá para uma diminuição de 20% das emissões dos gases. Os demais 20% viriam de ações na agropecuária e na indústria.

Mais cedo, no programa semanal "Café com o Presidente", Lula voltou a insistir que as medidas compensatórias devem ser proporcionais à responsabilidade de cada país pelas alterações no clima, e que, por isso, as nações desenvolvidas teriam uma parte maior da conta.

São Paulo já tem meta de redução
Lei sancionada ontem garante corte de 20% das emissões até 2020

Wagner Gomes

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), sancionou ontem uma lei para reduzir em 20% as emissões de gases de efeito estufa no estado até 2020. Segundo o tucano, a meta é reduzir as emissões de 122 milhões de toneladas por ano (dados de 2005) para 98 milhões de toneladas em 2020.

Ao anunciar as medidas, Serra sugeriu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresente uma proposta mais ousada de redução das emissões na Conferência sobre Mudanças Climáticas, que acontecerá em dezembro em Copenhague, na Dinamarca.

- Não se trata de ajoelhar no milho, de se autoflagelar. Trata-se de avançar em direção ao futuro. É verdade que os países ricos poluem há mais tempo, mas isso não justifica que Deus morreu e cada um faz o que quer.

Pelo contrário, fazendo direito você terá mais moral para mobilizar as forças de pressão no mundo inteiro. Falta defender uma meta com ousadia - disse Serra.

O governador explicou que as metas que vêm sendo discutidas nacionalmente são baseadas em uma linha tendencial de crescimento de emissões no futuro, um artifício matemático para prever o que deveria acontecer se nada fosse feito.

- A meta de São Paulo é de redução absoluta, que não pode ser confundida com metas de cortes de tendências. Visualmente, a meta do governo federal pode ser até maior, mas na prática contempla o próprio crescimento da emissão de gás carbônico.

Uma coisa é a desaceleração e a outra é a redução em termos absolutos - afirmou.

Para Serra, preservar o clima não é incompatível com o crescimento. Sob aplausos durante a sanção da lei paulista, o governador afirmou que é perfeitamente possível crescer e cuidar do meio ambiente. E afirmou que o que diminui a taxa de crescimento é o juro alto praticado pelo Banco Central.

No mês passado, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, reclamou da meta de redução do desmatamento proposta pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, de chegar a 2020 com emissões equivalentes às de 2005.

Ao discursar após a assinatura da lei, o governador negou que a política estadual sobre mudanças climáticas tenha conotação eleitoral. Ele disse que a lei estaria sendo elaborada de qualquer forma, sendo ele candidato ou não às eleições presidenciais.

Noruega financia florestas na Guiana

OSLO. Os governos da Noruega e da Guiana assinaram ontem um acordo em que se comprometem a lutar juntos pela preservação da floresta amazônica - e, por extensão, contra o aquecimento global. A nação europeia deve repassar, até 2015, cerca de US$ 250 milhões para o parceiro sul-americano. Um dos motivos para a escolha da Guiana foi o tamanho de sua área verde: 75% do país ainda é coberto por florestas.

- Salvar o que resta das florestas tropicais é uma ação crucial na batalha contra as mudanças climáticas - afirmou o ministro norueguês do Meio Ambiente, Erik Solheim.

A iniciativa norueguesa vai na contramão da maioria dos acordos internacionais firmados até agora. Países com grande percentual de floresta preservada têm recebido menos incentivos financeiros do que outros mais desmatados, que se declaram compromissados a reduzir seus índices da devastação.

Segundo a ONU, o desmatamento é responsável pela emissão de 20% dos gases responsáveis pelo efeito estufa.

O Globo, 10/11/2009, Ciência, p. 28

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