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A corrida pelo ecologicamente correto

O Globo, Economia, p. 21
16 de Ago de 2010

A corrida pelo ecologicamente correto
Captação de aplicações compostas por ações de empresas social e ambientalmente responsáveis cresce 57% no ano

Ronaldo D'Ercole

SÃO PAULO. Os fundos de investimento verdes, cujas carteiras são compostas por ações de empresas com boas práticas socioambientais e de governança corporativa (transparência na gestão e proteção ao acionista minoritário), tiveram aumento de 57,9% na captação de aplicações desde o início do ano, atingindo patrimônio líquido de R$ 1,74 bi no último dia 9. Essas aplicações somam rentabilidade média de 24,28% nos últimos 12 meses, superior à valorização de 17,99% do Ibovespa, o principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), no período.

Neste ano, até o início da semana passada, porém, a maioria acumula rentabilidade ligeiramente negativa, devido à instabilidade do mercado.

Sua participação no total de aplicações em fundos de ações no país ainda é pequena, de 1,04%. São 30 os fundos que integram o segmento denominado "sustentabilidade/governança", de acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Apesar da rentabilidade afetada pela maior volatilidade dos mercados nos últimos meses, os critérios usados pelos gestores na seleção das empresas cujos papéis podem compor as carteiras desses fundos são cada vez mais valorizados por investidores atentos às questões ambientais e que zelam pelo consumo consciente.

- O desafio desses novos fundos é mostrar aos investidores que sustentabilidade também garante retorno financeiro - diz Sônia Favaretto, diretora de Sustentabilidade da BM&F Bovespa, completando: - E nós temos que fazer com que o mercado perceba isso, pois há uma grande mudança no mundo e hoje não dá para fazer negócio como se fazia há cinco anos.

Dos 30 fundos do segmento, dez têm carteira 'puro sangue'
O Banco Real foi pioneiro no Brasil. Seu fundo, o Ethical, foi lançado em 2001, partindo do princípio de que empresas mais responsáveis com os clientes, fornecedores e com os impactos de suas atividades nas comunidades e no meio ambiente tenderiam a ser mais bem-sucedidas do que os seus concorrentes. Hoje sob gestão do Santander, que comprou o Real, o Ethical é o fundo com maior patrimônio do segmento. São R$ 368 milhões em aplicações de 16.500 cotistas mdash; ou 6% da carteira total de fundos de ações do banco. Desde a sua criação, o Ethical acumula valorização de 553,8%, contra alta de 449,3% do Ibovespa, que reúne as ações mais negociadas da Bolsa.

- Os fundos de ações, em geral, são de estratégia de longo prazo, e mais ainda nesses. Os resultados de estratégias sustentáveis não vão aparecer no trimestre seguinte, mas ao longo do tempo - observa Maria Eugênia Buosi, especialista em investimento responsável do Santander Asset Management.

Dos 30 fundos listados pela Anbima no segmento "sustentabilidade/ governança", dez são considerados "puro sangue", pelo peso que as práticas sustentáveis têm em suas carteiras.

Quatro deles espelham o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), criado pela BM&F Bovespa, e que atualmente reúne 40 ações de 34 empresas selecionadas anualmente.

Código norteia aplicações de 750 fundos no mundo
Os outros seis fundos sustentáveis usam o ISE como referência na formação de suas carteiras. O ISE acumula queda de 3% este ano, contra recuo de 4,08% do Ibovespa. Em 12 meses, sua carteira tem valorização de 21,34%, contra alta de 17,9% do principal indicador da Bovespa.

- O ISE é um referencial e o gestor nesse segmento sempre vai buscar o equilíbrio entre práticas ambientalmente corretas, socialmente justas e governança que dê retorno - diz Luiz Maia, diretor da Anbima especialista em sustentabilidade.

O quesito mudanças climáticas será incluído nos questionários que a Bolsa enviará às empresas este ano e que servirão de base para a formação do ISE de 2011. Mas esse item não contará pontos ainda, embora seu preenchimento seja obrigatório.

- Não pesará porque as empresas precisam de tempo para entender e se adaptar. O ISE é um indutor de boas práticas - diz Favaretto.

O Fundo de Investimentos em Excelência Social (Fies), do Itaú Unibanco, é o segundo maior no segmento sustentável. Com patrimônio de R$ 325 milhões, destina 50% da arrecadação com taxa de administração ao desenvolvimento de programas de cunho social. Lançado em 2004, hoje tem 17,7 mil cotistas, e já investiu mais de R$ 13 milhões é programas de educação.

- Usamos o ISE como referência na seleção das empresas que entram na carteira - diz Roberto Nishikawa, diretor de Produtos do Itaú Asset Management. - A tendência é que a participação desses fundos na indústria seja cada vez maior.

Trata-se, aliás, de uma tendência global. Criado em 2006 por iniciativa de alguns investidores internacionais, o Principle for Responsible Investment (PRI) é hoje um código que norteia as aplicações de 750 fundos de investimentos pelo mundo, que juntos têm US$ 20 trilhões sob gestão.

O Globo, 16/08/2010, Economia, p. 21

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