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Corredores de vida

Brasil Post - http://www.brasilpost.com.br/
Autor: Willy Schumann
31 de Out de 2014

Imaginem um veículo em alta velocidade trafegando por uma auto estrada brasileira que corta a Mata Atlântica. De repente um Tamanduá Bandeira (espécie em extinção da fauna brasileira) sai do seu habitat natural e cruza a frente do veículo na tentativa de atravessar a pista e alcançar outra área de floresta natural. O motorista, abruptamente, pisa no freio, mas não consegue evitar o pior e atinge, em cheio, o animal causando sua morte instantânea.

Este incidente poderia ter sido evitado se houvesse um caminho que interligasse a floresta de um lado para o outro, onde o animal pudesse trafegar com segurança.

O exemplo acima é só um detalhe de um problema que cresce no país; o frenético desenvolvimento dos centros urbanos, que por sua vez tem ilhado diversos remanescentes de biodiversidade em todo o país. Na tentativa de evitar casos semelhantes, várias instituições governamentais e não governamentais, ecologistas, defensores da natureza, etc, tem debatido e fomentado a criação dos Corredores Ecológicos para defender os inúmeros biomas da nação e estimular o desenvolvimento sustentável. Os Corredores Ecológicos, além de possibilitar o acesso de animais de um lado para outro dos remanescentes de biodiversidade, trazem outros benefícios, tais como a acessibilidade dos organismos vivos, o avanço de pólens e sementes das espécies vegetais, a conservação do solo e dos recursos hídricos que ocasiona a expansão e o fortalecimento do fluxo gênico entre as espécies da fauna e flora das significativas reservas naturais, evitando, com isso, o isolamento das espécies.

Os Corredores Ecológicos começam a funcionar como mecanismo de proteção da maior reserva natural do planeta em dois dos mais significativos biomas brasileiros: a Mata Atlântica e a Floresta Amazônica. No Brasil, o tema ainda é precoce. Em 1996, dirigentes políticos e líderes de organizações não-governamentais iniciaram uma decisiva discussão para uma política mais agressiva no que diz respeito a conservação da biodiversidade brasileira promovendo o intercambio e manutenção das espécies. Os debates resultaram no Programa piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil, o PPG7, abrindo um leque de propostas para a conservação dos cinco principais corredores da Amazônia e dois na Mata Atlântica.

A Amazônia e a Mata Atlântica possuem ecossistemas díspares e por este motivo a implementação dos Corredores Ecológicos requer um planejamento diferenciado e que seja adequado para cada região.

Na região central da Amazônia a principal intenção é proporcionar uma interação direta entre as áreas, objetivando a manutenção e a expansão das zonas de conservação, canalizando o projeto para o desenvolvimento sustentável dos recursos naturais nas áreas de interstício.

Na área central da Mata Atlântica, o planejamento proposto é a proteção dos principais remanescentes florestais e principalmente a recuperação da reserva florestal e também o desenvolvimento de atividades de produção sustentável que não agridam a sua diversidade biológica. Em 1999 a Mata Atlântica foi reconhecida pela Unesco como Sítio do Patrimônio Mundial Natural e Reserva da Biosfera.

Os Corredores Ecológicos tendem a fazer a junção destas diferentes áreas de conservação e, com isso, evitar as perdas destas inúmeras espécies genéticas. Vários estados brasileiros já iniciaram um debate amplo sobre o tema. Entre eles, o Mato Grosso do Sul, que busca estratégias para a conservação e a sustentabilidade da região. O estado tem uma fatia considerável da economia regional calcada no ecoturismo e no turismo pesqueiro que resulta em geração de empregos que agrega valores aos recursos naturais e com baixo impacto ambiental.

Em março de 1998, um grupo de líderes do estado, pesquisadores e defensores da natureza se reuniram em Brasília, para o workshop, "Ações Prioritárias para a Conservação do Cerrado e do Pantanal", no qual sugeriram a implantação de Corredores Ecológicos, para fazer a conexão entre o Cerrado e o Pantanal.
O Governo do Mato Grosso do Sul, além de implantar o projeto dos corredores no estado, inseriu a proposta em parte da sua legislação. Os principais pontos da implantação do projeto cobre grande parte do Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari, do Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro e também três reservas particulares do patrimônio natural, totalizando 135 mil ha de áreas protegidas. A iniciação do projeto teve um investimento aproximado de 15 milhões de reais, mas ainda não apresentou nenhum resultado prático satisfatório de preservação.

Outra região que estuda a implantação de Corredores Ecológicos, é a Serra da Mantiqueira, que devido a expansão de atividades agro industriais teve a sua área florestal fragmentada com o isolamento de espécies e a modificação e degradação dos recursos naturais. Os pontos críticos de fragmentação da região vai do parque nacional de Itatiaia até o parque estadual de Campos do Jordão que possui grandes áreas de isolamento da biodiversidade, o que causou uma erosão genética na área.

Em junho de 2005 o banco alemão KfW-Bankengruppe, em ação conjunta com a Agência de Cooperação Técnica Alemã (GTZ), firmou um acordo com o governo brasileiro para apoiar projetos do programa federal Corredores Ecológicos no valor de R$ 80 milhões. O financiamento beneficiou o estado do Amazonas (42 milhões de hectares), Minas Gerais (área montanhosa que vai de Santa Tereza até o Parque Nacional da Serra do Caparaó), Espírito Santo e Bahia (o território do Espírito Santo e o sul da Bahia abrangem uma área aproximada de sete milhões de hectares).

Na Bahia, o projeto coordenado pelo governo estadual em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), beneficiou cerca de 80 municípios que agregam os remanescentes de Mata Atlântica com programas direcionados para o desenvolvimento sustentável.

Os coordenadores do Ministério do Meio Ambiente (MMA - órgão responsável pelo planejamento do projeto), apresentam os resultados do programa através de relatórios semestrais e dos planos de gestão. A previsão é de que até o final de 2014 os projetos em andamento obtenham um resultado mais substancial de conectividade nas unidades de conservação. Várias instituições internacionais prometem uma injeção de aproximadamente R$ 90 milhões na continuidade do projeto. Além do banco alemão KFW - Bankengruppe, várias entidades americanas e europeias, governamentais e não-governamentais disponibilizam suporte financeiro para ações de preservação do meio ambiente no Brasil. É o caso da Comissão Européia, governo alemão (que irá investir 2,4 milhões de euros na cooperação técnica), Fundo Fiduciário para as Florestas Tropicais (Rain Forest Trust Fund), dentre outras, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).

Não é só no Brasil que o projeto está sendo implantado. Nos Estados Unidos onde a experiência tem dado bons resultados. Pesquisadores da Universidade da Flórida fizeram um estudo primoroso do projeto e puderam observar que entre as áreas desmatadas a conectividade gerou uma interação maior entre animais e plantas. Eles perceberam também que nos corredores houve um crescimento considerável na circulação de animais de várias espécies e também um aumento de polinização e dispersão de diversos tipos de sementes. Os testes foram realizados na Califórnia no Parque Nacional de Pesquisa Ambiental. Recentemente 600 organizações norte-americanas e canadenses disponibilizaram recursos para ampliar a implantação dos Corredores Ecológicos para preservação efetiva de diversas regiões de biodiversidade nos Estados Unidos.

A implantação dos Corredores Ecológicos no Brasil é, sem dúvida, uma das mais importantes iniciativas dos últimos tempos para a preservação e proteção da biodiversidade brasileira.

O artigo 225 da Constituição defende a conservação e preservação do meio ambiente como uma obrigação conjunta do poder público e de cada cidadão brasileiro: "Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações".

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