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01 de Fev de 2017
Onze comunidades indígenas de etnia Ingarikó, os mais isolados dentro da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, vão intensificar o trabalho agropecuário realizado no Centro de Referência de Produção Agropecuária Nutrir, a cerca de 70 quilômetros da sede do município de Uiramutã, a Nordeste do Estado. Os índios vão receber 365 cabeças de gado, tratores, combustíveis e 100 bolas de arame farpado. O convênio de R$ 945 mil foi firmado entre o Governo do Estado e a Fundação Nacional do Índio (Funai).
Segundo o titular da Secretaria do Índio (SEI), Dilson Ingarikó, o objetivo do convênio foi contribuir para a promoção da segurança alimentar e nutricional das comunidades, além de visar reverter o problema da ausência de carne. As comunidades Ingarikó começaram a ter problemas com a falta de carne como proteína em 2003, época em que houve registro de casos de beribéri, doença causada pela falta de vitamina b1.
Além da doença, os Ingarikó moram em uma região fixa de tríplice fronteira, no Parque Nacional Monte Roraima. Na parte da Venezuela, residem os indígenas da etnia Taurepang e, na Guiana, os Akawai. Devido à ocupação em uma área isolada, houve escassez de caça e pesca. "Na época, convocado pelos representantes das comunidades para conhecer a região, o deputado Édio Lopes entrou com recurso da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia [Sudam]. A SEI elaborou o projeto e os povos aceitaram", disse o secretário.
Pelo fato de as 11 comunidades nunca terem trabalhado com criação de nenhum tipo de animal, os campi Amajari e Boa Vista do Instituto Federal de Roraima (IFRR) forneceram cursos de manejo animal, a fim de que os indígenas pudessem aprender a realizar o trabalho de pecuária. Contudo, o projeto parou em 2013.
O secretário informou que a questão de documentação dificultou o andamento do processo e, além disso, naquela época, o Estado não tinha verba para entrar com a contrapartida. Na atual gestão, o Governo do Estado firmou um convênio de R$ 740 mil junto à Funai, e deu a contrapartida de R$ 205 mil, repassada no início da gestão atual. O valor total do projeto foi fechado em R$945 mil.
Com o dinheiro, serão compradas 365 cabeças de gado, tratores para preparar terra e apoiar em atividades de transporte de madeira para fazer a cerca, 100 bolas arame farpado para delimitar os pastos, combustível e insumos, que são medicamentos e sal para gado. Apesar de os Ingarikó nunca terem recebido um projeto desta dimensão na área, o secretário acredita que as comunidades estão preparadas.
"Além de qualificar a mão de obra profissional, eles terão a disponibilidade de carne na região. Se a comunidade conseguir produzir a quantidade suficiente para abastecer a região e sobrar, pensam até em vender para outras regiões", frisou Dilson Ingarikó. Atualmente, 1.465 pessoas fazem parte das 11 counidades.
Nutrir
O Centro de Referência de Produção Agropecuária Nutrir foi criado há três anos para trabalho específico de manejo animal e produção agrícola. Construído de forma comunitária, as comunidades Ingarikó tiveram apoio da Funai e do Instituto Socioambiental (ISA) no primeiro momento. "Eles têm o objetivo de, em processo de desenvolvimento das atividades planejadas, já começar a produzir e abastecer as comunidades, que são as responsáveis pelo local", ressaltou o secretário do Índio.
Primeiro contato
A primeira vez que os indígenas tiveram a oportunidade de trabalhar com a pecuária foi na época da criação do Nutrir, quando receberam 32 cabeças de gado da Funai. Três anos depois, o número aumentou para 62.
A entrega das 364 cabeças de gado e dos demais equipamentos será realizada no dia 11 de fevereiro, no Centro Nutrir, que fica localizado no centro das comunidades Ingarikó.
Comunidades terão banco de sementes
Preocupados com a extinção de várias sementes nas comunidades, os índios Ingarikó querem implantar um tipo de "banco de sementes", com banana, cana de açúcar, macaxeira, pimenta e toda diversidade que as comunidades possuem. O que não der para guardar em forma de semente, como acontece com a banana, será armazenado na plantação.
No caso dos grãos, como feijão e milho, serão guardados e também produzidos. O secretário estadual do Índio, Dilson Ingarikó, informou que as comunidades estão com dificuldade na agricultura pela falta de arame. Além da criação da pastagem, os arames serão utilizados para criar a cerca e separar a área do plantio.
"Eles vão aproveitar a própria adubação do gado para plantar. Cada comunidade vai disponibilizar a diversidade de sementes que têm e vão juntar. Os terrenos já estão definidos, só estão esperando chegar o material e o gado, que já vai ser o adubo", relatou.
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