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Convênio permitirá formação de professores indígenas

Agência Carta Maior e Radiobrás-Brasília-DF
22 de Out de 2003

O Ministério da Educação (MEC) assinou nesta quarta-feira (22) dois convênios para realização dos projetos-piloto de cursos para professores indígenas. O anúncio foi feito durante o I Seminário de Políticas de Ensino Médio para os Povos Indígenas. O evento reuniu, em Brasília, governo federal, secretarias estaduais de Educação e representantes de 32 etnias para discutir a implantação do ensino médio indígena.
Os convênios fazem parte das ações do Programa Diversidade na Universidade, do MEC. O objetivo do programa é melhorar as condições e as oportunidades de ingresso no ensino superior para jovens e adultos de grupos socialmente desfavorecidos, em especial populações afro-descendentes e indígenas.

O primeiro convênio, no valor de R$ 32,4 mil, destina-se ao Curso de Formação Continuada para Aperfeiçoamento e Ingresso na Graduação, do Instituto Socioambiental (referência nacional na área escolar indígena), e vai formar 81 professores de 16 etnias de Mato Grosso. Os beneficiados são os trumaís, iaualapitis, suiás, ikpengs, cuicuros, calapalos (do parque indígena do Xingu), os panarás (da terra Panará), e os caiabis (da terra Caiabi).

A Associação Nacional de Ação Indigenista, da Bahia, receberá R$ 70,8 mil para formar 177 professores do ensino básico, nas etnias das terras indígenas do Caimbé, Quiriri, Cantaruré, Tuxá, Xucuru-cariri, Pancararé, Pataxó, Pataxó-hã-hã-hãe e Tupinambá.

Os recursos são utilizados para deslocamentos, alojamentos e alimentação para os alunos, material didático e material de apoio para os professores.

"Melhorar a educação no Brasil é também melhorar a educação escolar indígena. E este é um momento histórico, porque pela primeira vez estamos sendo ouvidos", afirmou Francisca Novantino de Ângelo, da etnia Pareci e representante da Comissão Nacional de Professores Indígenas no Conselho Nacional de Educação.

Ensino médio O país tem apenas o ensino fundamental direcionado aos índios, e agora vai formular políticas específicas para os ensinos médio e superior. Quando o aluno conclui o ensino fundamental, costuma ir para a cidade cursar o ensino médio.

A professora Marise Nogueira Ramos, diretora de ensino médio, lembrou que a oferta de educação escolar por si só não é suficiente para resolver os problemas e a enorme demanda por ensino médio entre os povos indígenas. Segundo o Censo Escolar 2003, dos quase 151 mil estudantes indígenas do país, apenas 3% cursam o ensino médio, contra 73% de estudantes no ensino fundamental.

"O importante é que a gente também coloque o ensino médio nas aldeias para que eles não precisem se afastar do próprio meio. Muitos não voltam e ficam aculturados. É preciso que eles se mantenham na própria aldeia", afirma o secretário de Educação Média e Tecnológica do Ministério da Educação, Antônio Ibañez Ruiz. Ele disse acreditar que até o ano que vem já esteja em prática o ensino médio indígena.

Para Magno Amaldo, 32 anos, da aldeia Pakuera (MT), embora exista o ensino fundamental dirigido aos índios, muitos municípios desconhecem a lei. "É importante para nós termos um ensino que respeite a nossa cultura e não é de hoje que estamos tentando essa mudança", afirmou, após explicar que, na aldeia onde mora, os índios já contam com os ensinos fundamental e médio. "Mas esta não é a realidade na maioria das aldeias do país. Muitas ainda brigam pelo ensino fundamental", acrescentou

Amaldo lembrou que quando os índios estão na fase de afirmação de identidade, de valores e cultura, abandonam as aldeias para estudar nas cidades e sofrem com o preconceito. "As pessoas desconhecem a realidade e não estão preocupadas se é índio, branco ou negro, querem o aluno que acompanhe o conteúdo. A escola, para nós, não vai dar uma capacidade acadêmica. A nossa preocupação é na formação do cidadão, do índio".

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