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Convenção de Copenhague salvou Nagoya do fracasso

FSP, Ciência, p. A22
Autor: ANGELO, Claudio
30 de Out de 2010

Convenção de Copenhague salvou Nagoya do fracasso

Claudio Angelo

Depois de 18 anos de indigência, a Convenção da Biodiversidade das Nações Unidas enfim tem um protocolo para chamar de seu.
O acordo histórico sobre repartição de benefícios por uso da biodiversidade evitou que mais uma conferência ambiental da ONU naufragasse, menos de um ano após o fiasco das conversas sobre clima em Copenhague.
O chamado ABS vinha travado desde a gênese da convenção, na Eco-92, devido à recusa dos países ricos em cortar os benefícios de setores, como o farmacêutico, fazendo-os pagar pelo uso de espécies do Terceiro Mundo.
O Brasil, país mais biodiverso do planeta -e, portanto, ator principal em Nagoya- partiu para o tudo ou nada: só toparia as metas de proteção da biodiversidade se elas viessem num "pacote completo", que incluísse financiamento e ABS.
Dispostos a evitar o vexame de outra Copenhague, a União Europeia e os anfitriões japoneses cederam. Copenhague, por vias tortas, salvou Nagoya.
Embora o encontro no Japão forneça algum frescor moral para as negociações climáticas que recomeçam no mês que vem em Cancún, dificilmente bastará para resgatar a credibilidade do processo nas Nações Unidas.
As duas convenções, afinal, são muito diferentes em seus objetos e em suas ligações com a economia.
Não há por aí "céticos do desmatamento" bancados pelo lobby das motosserras, como há céticos do clima bancados pelo petróleo.
Além disso, os principais entraves ao acordo do clima, EUA e China, são figurantes nas conversas sobre biodiversidade. Aqueles não são nem mesmo signatários da convenção; esta, como país em desenvolvimento, tem mais a ganhar do que a perder adotando uma posição construtiva: pode abocanhar uma porção da bufunfa prometida para a conservação.
A vitória em Nagoya acontece provavelmente tarde demais para interferir na eleição de domingo. Mas a ministra Izabella Teixeira, que liderou a delegação brasileira no endurecimento crucial para o sucesso na COP-10, volta do Japão aprovada no seu primeiro teste de habilidade política -e cacifada para permanecer no cargo caso Dilma Rousseff seja eleita.

FSP, 30/10/2010, Ciência, p. A22

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe3010201003.htm

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