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Continuam as ameaças à Amazônia

O Globo, Opinião, p. 2
03 de Out de 2019

Continuam as ameaças à Amazônia
Redução de queimadas e ida de soldados para a região deram falsa ideia de que crise estava controlada

A primeira onda antipreservacionista cresceu depois da vitória eleitoral de Jair Bolsonaro. Foi quando ele anunciou que o Brasil sairia do Acordo de Paris sobre o Clima. Um choque para quem tem consciência de como o país, entre percalços, avançara na melhoria da imagem no trato do meio ambiente.

Entre os assustados, inclui-se a parte moderna do agronegócio, o setor mais dinâmico da economia brasileira, fortemente exportador. A preocupação era e é com o risco de boicote aos alimentos brasileiros, caso tenham origem em áreas de devastação ambiental. Bolsonaro recuou, tomou posse e teve o mérito de acelerar o entendimento para o tratado comercial entre Mercosul e União Europeia, negociado durante 20 anos. A existência de uma cláusula ambiental no acordo garante, em tese, que o Brasil cuidará de seus biomas para não sofrer retaliações da UE.

Enquanto isso, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, cumpria de forma competente parte da plataforma antiambientalista do candidato Bolsonaro: começava a investir contra instituições-chave na vigilância e preservação. O experiente diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, foi exonerado, depois de retrucar o presidente - ao responder a críticas à qualidade do respeitado trabalho do órgão. E estruturas do Ibama e ICMBio, essenciais para punir e multar responsáveis por devastações detectadas pelos satélites monitorados pelo Inpe, passaram a enfrentar dificuldades. A promessa do candidato Bolsonaro de acabar com a "festa" de multas a madeireiros e garimpeiros começava a ser cumprida.

As queimadas se reduziram, e a crise diplomática internacional arrefeceu, depois do choque entre Bolsonaro e o presidente da França, Emmanuel Macron. Mas há evidências de que, infelizmente, causas concretas para a degradação da imagem do Brasil no mundo persistem. Poderá ser apenas uma questão de tempo para as pressões voltarem, e as exportações do agronegócio enfrentarem barreiras efetivas.

Na última edição do "Fantástico", da TV Globo, domingo, reportagem mostrou o risco de vida que fiscais do Ibama e do ICMBio correm na Amazônia, ao tentarem coibir desmatamentos, queimadas e grilagem de terras públicas. Sem que tenham a necessária proteção do Estado.

Há pouco, funcionários do Ibama reclamaram que tropas do Exército que estão na Amazônia, na missão de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), não os apoiam na repressão a garimpos ilegais, causa de mais desmatamentos e poluição dos rios por mercúrio.

Documento do Ibama, reproduzido pelo GLOBO, registra que os soldados não atuam mais em qualquer operação que resulte na destruição de equipamentos dos infratores. Caminhões, bombas, motosserras etc. Assim prometera Bolsonaro a garimpeiros e madeireiros, uma garantia de que voltarão a agir. Garimpeiros são até saudados em comício improvisado na porta do Planalto. O avanço da destruição deverá ganhará mais força.

O Globo, 03/10/2019, Opinião, p. 2

https://oglobo.globo.com/opiniao/continuam-as-ameacas-amazonia-23991157

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