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Continua solto dono da arma que matou Apoena

Estadão do Norte-Boa Vista-RR
Autor: Nelson Townes de Castro
15 de Out de 2004

O dono do revólver com que o sertanista Apoena Meireles foi morto - citado apenas como "Chiquinho" no inquérito policial - continua não identificado, está solto e a arma do crime ainda não foi apreendida.
Para as polícias de Rondônia e a Federal, o caso está encerrado após a prisão de um estudante de 17 anos que assumiu a autoria dos disparos durante um assalto contra o sertanista. Mas ainda existem pontos obscuros nessa história.
A prisão de Chiquinho - no mínimo por porte ilegal de arma e por cedê-la a um menor de idade - é necessária para confirmar a versão do estudante sobre a origem do revólver e com que pessoas ele estivera antes de matar o sertanista.
Antes do assassinato, o estudante disse ter estado bebendo com três homens jovens, cuja identidade alega desconhecer. Sequer sabe se são menores de idade, onde moram ou trabalham.

QUEM É CHIQUINHO?
O dono da arma, Chiquinho ou Chico, é citado 14 vezes no "termo de informações" assinado pelo menor após ser preso e interrogado pela delegada da Polícia Civil de Rondônia, Juracy Henrique de Souza Aguiar, em Porto Velho.
O estudante disse que conheceu Chiquinho há um mês, e que era o quinto encontro entre ambos. Mas não informou o nome dele, nem dos dois outros homens com quem bebia "cachaça com Coca Cola" na calçada da avenida Jorge Teixeira, diante da Eucatur, antes do crime.
Chiquinho e os dois outros rapazes citados pelo estudante são testemunhas fundamentais para confirmação do resto da história do estudante: a de que pediu a arma emprestada para "dar uma volta e tirar uma onda" e que no meio do caminho resolveu assaltar alguém no centro da cidade. E que refez o percurso para devolver a arma ao amigo que o aguardava.

PONTOS OBSCUROS
Outro ponto não bem esclarecido é o do estudante dizer que ao devolver a arma ao amigo não contou que a usou para balear um homem, mas lhe vende um celular evidentemente obtido num assalto.
Essa versão precisa ser confirmada por testemunhas para desfazer a hipótese de que o estudante embriagado tenha sido ajudado por outra pessoa a matar Apoena.
Se é difícil acreditar que o assassino nada tenha falado ao dono do revólver, menos ainda se acredita na possibilidade de Chiquinho não ter notado que sua arma havia sido disparada duas ou três vezes.
Esse trecho do depoimento do estudante causa a suspeita de que o estudante esteja mentindo para proteger o amigo dono da arma de envolvimento com o assalto e com o assassinato. Menores de idade envolvidos em crimes costumam fazer isso para proteger os comparsas adultos.
Os depoimentos da mulher que acompanhava o sertanista, Cleonice Mansur, precisam ser vistos com cautela, ante seu estado emocional de terror e choque diante do crime, podem tê-la feito cometer equívocos ao descrever a cena.

SUSPEITO PERFEITO
A Polícia falou muito pouco sobre a personalidade do estudante: ele personifica o suspeito perfeito para um crime de repercussão como a morte de Apoena. É dependente de drogas e estava sob tratamento psiquiátrico "para depressão."
Embora tenha sido descrito pela diretora de sua escola como "aluno pacífico" e que jamais havia criado problemas, tinha péssimo rendimento escolar.
Faltava muito às aulas e maior de suas notas, desde o primeiro bimestre, eram abaixo da média.
O repórter examinou seu último boletim e verificou que tinha apenas quatro notas acima de zero no terceiro bimestre: língua portuguesa 2, literatura 2, física 1,5 e educação física, 3. Entre agosto e setembro faltara 55 vezes.
A diretora disse ontem que a família dele (pai, mãe e 2 filhos, dos quais ele é o mais velho) era bem estruturada mas, segundo a diretora, "ninguém consegue controlar o comportamento dos filhos nas ruas."

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