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Consumo de água cresce mais que produção

FSP, Cotidiano, p. C6
03 de Abr de 2014

Consumo de água cresce mais que produção
Entre 2004 e 2013, gasto na Grande São Paulo subiu 26%, enquanto o volume fornecido aumentou apenas 9%
Há dez anos, consumo per capita na região era de 150 litros por dia; hoje, é de 175 litros diários por habitante

HELOISA BRENHA EDUARDO GERAQUE DE SÃO PAULO

Disparada do consumo, produção em ritmo lento e desperdício de água. Esses são os ingredientes da crise de abastecimento que vem se delineando há uma década na Grande São Paulo, revela levantamento da Folha a partir de dados da Sabesp.
Entre 2004 e 2013, o consumo de água nos 33 municípios da região metropolitana abastecidos pela companhia aumentou 26%, enquanto a produção cresceu apenas 9%.
No mesmo período, cerca de 200 mil novos habitantes chegaram anualmente à região, com padrões de consumo cada vez mais elevados.
Há dez anos, um morador da Grande SP gastava em média 150 litros de água por dia. Hoje, o consumo é de 175 litros, 65 a mais do que o recomendado pela ONU (Organização das Nações Unidas).
A Sabesp adota critérios diferentes para calcular o consumo per capita e diz que ele diminui nos últimos anos, sendo hoje de 161 litros de água por dia.
Para Paulo Ferreira, professor de engenharia do Mackenzie, o consumo per capita calculado pela Folha é mais fidedigno."O fato é que a demanda está maior do que a oferta e só conseguimos administrar essa situação quando chove muito", diz.
Ele considera que o principal motivo para a disparada do consumo per capita é o aumento da renda. "As pessoas passaram a usar mais lava-roupas, lava-louças e chuveiros. Quando o padrão de vida evolui, o consumo também aumenta", afirma.
Estudo orientado pelo professor de gestão ambiental da USP Pedro Luiz Côrtes mostra que um paulistano consome em média 27% mais água do que um alemão e 9% mais do que um francês.
Dentro das cidades, a disparidade também é grande. Um morador da zona central de São Paulo consome até cinco vezes mais água do que um na periferia, diz o estudo.
"O sistema de captação, tratamento e distribuição [da Sabesp] opera no limite, e até acima dele para atender essa demanda", diz Cortês.
Para Rubem Porto, professor de engenharia da USP, o aumento do consumo foi provocado pela substituição de hidrômetros antigos e quebrados e pela redução dos "gatos" (ligações irregulares).
"A água que era consumida e não era medida passou a ser medida e cobrada pela Sabesp", diz o especialista.
DESPERDÍCIO
Ainda que tenha passado por essa regularização, a rede da Sabesp tem um desperdício de água considerável.
Em 2013, 25% da água se perdia no trajeto entre as represas e as residências.
Embora esse índice tenha já tenho sido pior -em 2004, beirava os 35%-, ainda está longe do ideal.
Cidades do Japão perdem 11% da água que captam. A meta da Sabesp é chegar aos 18% de desperdício até 2020.

Outro lado
Empresa diz que calcula gasto de forma diferente

DE SÃO PAULO

A Sabesp diz que tem investido na produção de água e na redução de perdas para assegurar o abastecimento da Grande São Paulo e que adota critérios diferentes para medir o consumo per capita.
Em nota, a empresa afirma ter recuperado água suficiente para abastecer 3 milhões de pessoas com seu programa de redução de perdas.
Afirma também que o futuro sistema São Lourenço, que deve ficar pronto em 2018, produzirá mais 4.700 litros de água por segundo para a região metropolitana, hoje abastecida com 67 mil litros de água por segundo.
A Sabesp afirma que trabalha com o cálculo de consumo por economia --isto é, pelo número de residências e estabelecimentos ligados à sua rede. Esse índice, segundo a empresa, caiu 11% nos últimos 13 anos.
A companhia diz calcular o consumo per capita de maneira aproximada, multiplicando cada economia pela média de três habitantes por residência. Nessa estimativa, o consumo per capita em 2013 seria de 161 litros por dia.
A Folha, porém, utilizou dados de população atendida que a Sabesp negou à reportagem, mas disponibilizou ao governo federal. Com base neles, o consumo per capita cresceu 17% em dez anos e hoje é de 175 litros diários.

FSP, 03/041/2014, Cotidiano, p. C6

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/159613-consumo-de-agua-cresc…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/159615-empresa-diz-que-calcu…

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