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Conservação de aves ganha aliado com ''Rio''

OESP, Vida, p. A2A
20 de Mar de 2011

Conservação de aves ganha aliado com ''Rio''
Ararinha-azul, já extinta na natureza, é personagem principal da animação

Afra Balazina

O filme Rio, cuja pré-estreia no País será na terça-feira, tem um final feliz para o personagem principal, a ararinha-azul macho chamada Blue. Na vida real, entretanto, a espécie Cyanopsitta spixii foi extinta na natureza por causa do tráfico. A ave, nativa do Brasil, sempre foi considerara rara e habitava a região do município de Curuçá, em área de Caatinga, na Bahia.
Atualmente, existem cerca de 70 ararinhas-azuis em cativeiro, a maior parte delas fora do Brasil. A Loro Parque Fundación, na Espanha, tem alguns exemplares e a Al Wabra Wildlife Preservation, no Catar, tem 53 dessas aves. O zoo de São Paulo também conta com algumas ararinhas.
Aproveitando o lançamento do filme, a ONG Save Brasil, representante oficial no País da Birdlife Internacional, fez uma parceria com a Fox Film do Brasil para divulgar a importância de preservar as aves livres na natureza. "Tememos um efeito contrário com o filme: que as pessoas queiram ter as aves em casa", diz Pedro Develey, diretor de Conservação da Save Brasil.
O Brasil é o segundo país do mundo em número de aves (1.834 espécies). Entretanto, é o primeiro em quantidade de aves ameaçadas (124 espécies).
História. A ararinha-azul foi descoberta em 1819 e oficialmente descrita em 1832. Mas foram feitos poucos registros da espécie na natureza desde então. Em 1974, o ornitólogo Helmut Sick observou sete indivíduos em Formosa do Rio Preto (Bahia). Em 1986, foram vistos três exemplares perto de Curuçá.
Várias expedições tinham como objetivo encontrar a ave. O ornitólogo Carlos Yamashita, que trabalha no Ibama, participou de várias delas. "A ararinha-azul era o objeto de desejo de todo ornitólogo, era um ícone", lembra. E reforça a constatação de que foi o tráfico o responsável pela extinção da espécie. "Um grupo do Piauí vinha até a Bahia para capturar indivíduos. Geralmente, pegavam um ou dois por ano, já que eram muito valiosos. Mas, uma vez, um dos caçadores foi mais ganancioso e levou vários de uma vez."
A partir de 1990, só restou um macho em Curacá, que foi monitorado até 2000, quando então ele desapareceu.
A bióloga Yara de Melo Barros, diretora técnica do Foz Tropicana Parque das Aves, acompanhou a ave de 1995 até 2000. Ela conta que o período foi importante para estudar a ave e para conscientizar a população da região. "As pessoas da Caatinga começaram a se identificar com a ararinha. Ela passou a ser um símbolo de resistência e era chamada de filho valente do sertão", relata a bióloga.
Ménage à trois. Uma das estratégias usadas para tentar reproduzir a espécie foi a introdução de uma fêmea que era de cativeiro na natureza. Segundo Develey, o macho da ararinha já tinha pareado com uma maracanã. Mas, aos poucos, a fêmea conseguiu conquistá-lo. Porém, ela enfrentou dificuldades por ser de cativeiro - ataques de aves maiores, como falcões e gaviões, e pode ter se chocado também com uma linha de transmissão. Acabou sumindo após quatro meses. O macho ficou de vez, então, com a maracanã.
De acordo com Yara, o grande esforço, agora, é para tentar levar ararinhas de volta para a natureza. Mas é preciso esperar o momento certo. "Quando tivermos cerca de 150 indivíduos em cativeiro, podemos dar início ao trabalho. Se o ritmo de reprodução se mantiver, isso pode ocorrer entre 2016 e 2020", diz ela, otimista.
A bióloga avalia que o momento é bom, pois há grande colaboração internacional. "Com a maioria das aves no exterior, dependemos totalmente dos governos e mantenedores internacionais. Mas o sheik do Catar, por exemplo, é superparceiro do programa", diz. Para ela, é fundamental manter a Caatinga preservada e a educar a população para a reintrodução da espécie. "Precisamos preparar o ambiente. Afinal, os traficantes continuam por aí. "

OESP, 20/03/2011, Vida, p. A2A

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110320/not_imp694464,0.php

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