VOLTAR

Confusão de objetivos

FSP, Editoriais, p. A2
27 de Mar de 2006

Confusão de objetivos

É difícil compreender a filosofia que inspirou o Ministério do Meio Ambiente (MMA) a colocar-se contra a utilização e até mesmo as pesquisas com a chamada tecnologia "terminator", que induz as plantas transgênicas dela resultantes a produzirem sementes estéreis. É essa a posição, já inscrita na nossa Lei de Biossegurança, que o Brasil levou para a COP-8 (8ª Conferência dos Países Signatários da Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU), que ocorre em Curitiba.
Não há dúvida de que a principal motivação das empresas de biotecnologia para desenvolver cultivos estéreis é o lucro. O agricultor que opta pelos grãos transgênicos é obrigado a comprar novas sementes a cada plantio. É a receita perfeita para criar um mercado cativo.
Ocorre, porém, que a esterilidade de variedades transgênicas é também, em muitos casos, um inegável mecanismo de biossegurança. Uma das principais críticas à manipulação genética em escala comercial diz respeito ao risco de que sementes com genes alterados acabem invadindo o ambiente e levem a uma redução da biodiversidade.
Os que se opõem à tecnologia falam no perigo de o próprio gene da esterilidade sair de controle, tornando inférteis culturas tradicionais. Em teoria, é possível, ainda que a hipótese seja algo remota.
A posição mais sábia aqui é a de não proibir de forma absoluta a tecnologia. O ideal é deixar que a CNTBio, a comissão encarregada de licenciar produtos transgênicos, analise caso a caso cada produto. Haverá situações em que a esterilidade reforçará a biossegurança e outras em que o efeito pode ser o contrário.
O MMA, porém, parece mais interessado em arrancar o aplauso de grupos que tendem a apoiá-lo -como a obscurantista Via Campesina- e em atacar as empresas de biotecnologia do que em assegurar maior proteção ambiental.
Não há dúvida de que, muitas vezes, é preciso mesmo enfrentar os interesses da indústria. É importante que o ministério continue exigindo dela que demonstre a segurança de seus produtos antes do licenciamento e insista na necessidade de segregar e rotular devidamente os transgênicos. Mas a preocupação deve ser com o ambiente, e não com a revolução no campo ou o combate ao capitalismo transnacional.

FSP, 27/03/2006, Editoriais, p. A2

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.